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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Quem é mesmo liberal?

A batalha pelo futuro está em pleno curso e o Brasil está 100% fora dela

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Enquanto a Lava Jato ameaça desmoronar perante o acordo Planalto-Congresso-PGR-Supremo, enquanto o presidente da República se perde entre delírios de ameaças comunistas, globalistas e de um suposto colonialismo tardio, enquanto vai nascendo uma nova estatal para evitar, segundo o líder do governo, que o Brasil sofra um 11 de Setembro... A batalha pelo futuro está em pleno curso e o Brasil está 100% fora dela. Um relatório publicado pelo Council of Foreign Relations esta semana aponta o erro estratégico dos EUA em sua briga com a China. Trata de debates que sequer são suspeitados no Planalto Central do país.

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O responsável pelo relatório é Adam Segal, diretor de Tecnologias Emergentes e Segurança Nacional do Council, que é um dos principais centros de estudos estratégicos dos EUA. Sim: o diretor de tecnologias emergentes é o responsável por segurança nacional. Segal contou com gente de Google, Apple, Facebook, investidores do Vale, Universidade do Texas em Austin, da Califórnia em Berkeley, do MIT, e tantos outros cantos. Um time de peso entre os coautores. Sua premissa é muito simples. Quem dominar os três campos de Inteligência Artificial, redes celulares 5G e criptografia quântica terá uma vantagem competitiva tanto militar quanto econômica sem igual.

E, pelo nível de aceleração, a China está posicionada para controlar os três em uma década.

O ponto chave: a China forma, todos os anos, três vezes mais profissionais de STEM do que os EUA. STEM é a sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Não há como os americanos concorrerem com este volume de cérebros senão importando, criando um programa ousado de distribuição de vistos e títulos de cidadania, e investindo pesado na criação de empregos nestes setores. A estratégia do governo Donald Trump, que em essência tenta cercear mercados para tecnologia chinesa, pode atrasar em alguns anos a ultrapassagem. Mas é só o que fará. Atrasar. Não resolve o problema americano de avançar.

Não é à toa que a política do mundo virou de cabeça para baixo. Nos anos 1910 e 20 as economias europeias migraram de vez da agricultura para a indústria, gerando uma crise de falta de emprego num canto e baixa qualificação no outro. Vivemos o mesmo processo agora que a economia industrial migra para a digital. De operários a engenheiros, tem muita gente ficando sem emprego, partindo para a precariedade dos Ubers da vida. E não há gente suficiente com as novas qualificações. É neste ambiente de complexidade que políticos responsáveis não têm opções claras a oferecer e demagogos e populistas se sobressaem.

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Nos anos 1930, Franklin Roosevelt, auxiliado pelo economista inglês John Maynard Keynes, partiu para um projeto ousado, o New Deal. Hoje esta nova direita internacional os chama de comunistas. Pois foram eles que salvaram, de uma só tacada, tanto a liberal democracia quanto o capitalismo. Eles que mostraram que os sistemas eram superiores a comunismo e fascismo. Liberalismo, teu nome é Keynes, muito mais do que Hayek.

Vem de uma das deputadas mais à esquerda do Congresso americano, a jovem Alexandria Ocasio-Cortez, a ideia de promover um New Deal Verde. Um grande projeto para criação de empregos de qualidade que simultaneamente desenvolve tecnologia limpa. Em tempos de grandes transformações, o Estado serve justamente para isso. Não para substituir a iniciativa privada, mas para incentivar o caminho do futuro. Pode ser da esquerda, lá, que virá a nova salvação da liberal democracia capitalista.

Aqui? Aqui, não. Aqui vamos explorar nióbio, mandar indígenas para as periferias das grandes cidades, e confundir cientistas com comunistas.

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