Quem tem medo dos hackers?
Passeio pelo Estadão Acervo mostra como mudou a forma como os hackers são retratados pelo jornal
19/06/2012 | 19h48
Por Tatiana de Mello Dias - O Estado de S. Paulo
Passeio pelo Estadão Acervo mostra como mudou a forma como os hackers são retratados pelo jornal
SÃO PAULO – “Cyberpunks, bandidos da tecnologia”. “FBI prende hacker mais procurado dos EUA”. “Hacker entra pela porta de fundo da rede”. “A invasão dos piratas de computadores”. Um passeio pelo Estadão Acervo revela alguns dos termos usados no passado em reportagens do Estado para descrever os hackers: bandidos eletrônicos, ou pessoas interessadas em invadir sistemas para roubar ou copiar arquivos.
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Mas a primeira menção ao tema, feita em 1987 no Caderno 2, é um texto sobre as raízes da cultura hacker — e o impacto dela no Brasil. A reportagem “Yes, nós não temos cyberpunks” fala da definição de conceitos da cultura hacker e conta, por exemplo, como Timothy Leary levou o conceito de cyberpunk do livro Neuromancer para os transgressores eletrônicos. E explicou por que o Brasil ainda engatinhava na área.
No ano seguinte, o jornal publicou um texto do New York Times com uma conotação bem mais negativa “Cyberpunks, bandidos da tecnologia” (veja ao lado) faz uma relação direta entre a cultura hacker e os criminosos. De forma alarmista, o texto fala sobre a preocupação da polícia norte-americana com aqueles garotos antissociais que invadiam sistemas bancários.
A partir dos anos 1990 o tema se tornou mais recorrente. No início de 1995, um hacker invadiu sistemas da USP por brincadeira.
A prisão de Kevin Mitnik, em 1995, virou notícia. O hacker, invasor de vários sistemas desde os anos 1980, havia ficado foragido por três anos e foi finalmente capturado em fevereiro daquele ano. Embora tivesse invadido uma série de sistemas, Mitnik não ganhou nada com aquilo — e sua prisão provocou uma série de protestos e ataques em retaliação. Foram cerca de 30 ataques, noticiou o então caderno Informática. Mitnik foi libertado em 2000 e hoje trabalha em uma empresa de segurança. Ele deu uma entrevista ao Link em 2010.
Começava, aos poucos, a surgir a distinção entre o hacker “do mal” — ou cracker, quem quer invadir o sistema para destruir ou para benefício próprio — e o hacker “do bem”, aqueles que querem modificar, melhorar ou só mostrar uma falha em um sistema.
Capa do caderno Informática em 1998 narra o orgulho que os hackers têm em invadir um sistema
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Em 2003, uma resenha do livro A Galáxia da Internet, do sociólogo Manuel Castells, explica que um hacker não é apenas quem invade o sistema. A cultura hacker é algo muito maior — ela surgiu “a partir da interação online de pessoas que colaboravam em um projeto comum”.
A primeira vez que a cultura hacker foi vinculada à política foi em 2009, no Link. Foi uma reportagem sobre o Transparência HackDay, a primeira organização brasileira a lutar pela abertura de dados e a manipulação de dados públicos para contribuir para a participação política. “Ao liberar dados, os governos permitem que qualquer um interfira na gestão”, diz a reportagem.
Hackatão
No próximo sábado, 23, o Grupo Estado promoverá o primeiro hackathon organizado por um veículo de comunicação no Brasil, em parceria com a Casa de Cultura Digital. O evento reunirá repórteres, editores, designers, diagramadores, ilustradores, programadores e estudantes de jornalismo por 24h, para analisar bases de dados públicos e criar soluções e aplicações digitais e práticas para esses dados.
Saiba mais sobre a maratona hacker aqui.
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