Rede social Venmo expõe vida financeira de usuários

No Venmo, pagamentos e empréstimos ficam à vista de todos, com permissão dos envolvidos

PUBLICIDADE

Por Redação Link
Atualização:

Ana Freitas, Especial para o Estado

 

PUBLICIDADE

SÃO PAULO – Imagine se cada vez que você desse uma passada no caixa eletrônico para sacar dinheiro, fizesse uma transferência ou pagasse uma conta, seus contatos recebessem uma notificação das suas movimentações bancárias. Ainda que um mundo desse soe como absurdo, o princípio não está tão distante de um dos mais populares aplicativos de transferência de dinheiro hoje nos EUA – o Venmo.

O Venmo faz parte de uma nova leva de aplicativos de transferência de dinheiro de pessoa para pessoa, que permite enviar ou requisitar pagamentos de quantias pequenas direto no cartão de débito ou conta corrente. Ele resolve problemas como dividir a conta do táxi ou do restaurante entre amigos, pagar a conta para um amigo ou efetuar pagamentos por serviços ou produtos digitais, como blogs ou vídeos. A diferença do Venmo para o PayPal é que no Venmo a transferência é direta para sua conta corrente: não é necessário acessar sua conta para “sacar” o dinheiro.

O Venmo foi criado em 2009 pelos estudantes Andrew Kortina and Iqram Magdon-Ismail. Em 2012, foi comprado pela empresa de pagamento Braintree por US$ 26,2 milhões. Um ano depois, a gigante do setor PayPal comprou a Braintree. A Venmo foi apontada como um dos fatores que atraiu a PayPal.

Como ele, há o Square Cash e o Google Wallet, além do Snapchat, que integrou o mesmo tipo de serviço à sua plataforma de mensagens. Mas o Venmo é o único que também funciona como rede social, com uma linha do tempo que exibe quem dos seus amigos está mandando dinheiro para quem. Cada transferência pode ser acompanhada com um comentário.

O resultado é um feed cheio de piadas internas, emojis e informações sobre a vida alheia que você duvidaria que os jovens usuários dessas ferramentas teriam interesse em saber – mas que fazem o maior sucesso.

 

“Estamos tentando facilitar compras e vendas e uma das chaves para isso é ajudar as pessoas a fazerem pagamentos de forma mais fácil e rápida”, disse o CEO do Venmo, Bill Ready, ao Business Week. “Carteiras existem na internet há quase 15 anos. Mas acreditamos que seria muito mais importante se elas estivessem no mundo móvel.”

Publicidade

Segundo dados do BI Intelligence, o Venmo passou de US$ 59 milhões em volume de transações no fim de 2012 para US$ 468 milhões em meados de 2014.

Para o pesquisador e economista Gilson Schwartz, esses apps são sinal de uma nova fase do capitalismo, o “capitalismo 3.0”, no qual a inteligência dessas ferramentas é mais importante do que qualquer relação de oferta e demanda, que em outro contexto, é o que designa os valores objetivos das coisas. “O preço depende do código, dos ícones digitais cuja principal inovação é desintegrar meios tradicionais de distribuição de bens e serviços”, explica ele.

Ou seja: o próprio valor subjetivo é suporte para a transação (quão “cool” o app é) e a confiança do usuário na infraestrutura desse suporte são fatores econômicos importantes para explicar tanto o valor do aplicativo quanto os valores reais do dinheiro transferido por ele. Schwartz chama essa economia de iconomia, uma lógica que também descontrói fronteiras entre produtor e consumidor, como nas redes de crowdfunding.

Popularidade

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Até hoje, o serviço funciona apenas nos Estados Unidos. O CEO Bill Ready já disse ter interesse em levar o Venmo para a Europa, mas diz que as regras rígidas sobre consumidor e privacidade são um problema. Já no Brasil, o que impede que serviços como esse cheguem ao País é o número reduzido de bancos comerciais.

A concentração bancária não incentiva a inovação e acaba desencorajando empresas iniciantes. Nos EUA, a concorrência elevada permite a existência de bancos que ofereçam plataformas abertas, que permitem que startups se conectem para criar soluções inovadoras, como as que o Venmo e o Snapchat estão trazendo ao mercado.

Além disso, é preciso também que os usuários se sintam confiantes para fazer transações usando aplicativos no celular. Embora o setor de compras online tenha crescido nos últimos anos, uma larga parte da população ainda rejeita qualquer coisa envolvendo dinheiro e internet. De acordo com uma pesquisa da Mintel, especialista em inteligência de mídia em mercado, de julho de 2014, 67% dos brasileiros não compraram nada na internet nos 12 meses antecedendo a pesquisa.

Publicidade

“Ao meu ver, apps de pagamento como o Venmo tendem a ter crescimento mais lento que aplicativos puramente sociais, pois requerem uma mudança grande de mentalidade, dado que afeta o principal ‘orgão’ das pessoas: o bolso”, opina Rodrigo Batista, CEO do Mercado Bitcoin.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.