PUBLICIDADE

Relógio inteligente não seduz os suíços

Tradicionais indústrias especializadas em modelos de luxo estão pouco empenhadas em combinar joias com produtos digitais

Por Redação Link
Atualização:
 

Raphael MinderThe New York Times

PUBLICIDADE

Há dez anos, Nick Hayek, diretor executivo do Swatch Group, e Bill Gates, cofundador da Microsoft, lançaram um novo tipo de relógio chamado Paparazzi. O produto, apresentado num evento em Nova York como o pioneiro do chamado relógio inteligente, dava ao usuário acesso ao noticiário, às cotações da Bolsa e a outros dados por meio do serviço MSN da Microsoft.

Mas o Paparazzi foi um fracasso e a parceria entre a maior fabricante de relógios do mundo e a gigante do software foi desfeita. Desde então, a indústria relojoeira ficou aguardando uma oportunidade. No ano passado, permaneceu em segundo plano, enquanto as fabricantes eletrônicas de consumo, como Samsung e Sony, lançavam relógios inteligentes que permitiam ler mensagens e e-mails, fazer chamadas telefônicas e tirar fotos, diretamente com o pulso.

No mês passado, o Google lançou uma nova versão do seu sistema operacional para relógios inteligentes – o Android Wear–, enquanto cresciam as especulações de que a Apple estaria prestes a entrar na guerra dos relógios de pulso com um produto que os observadores do setor já apelidaram de “iWatch”.

O crescente interesse por relógios inteligentes poderia constituir uma abertura perfeita para um mercado que conhece a fundo o ramo: as fabricantes dos dispendiosos relógios suíços. Mas, por várias razões, nenhum dos líderes da indústria suíça parece empenhado, até o momento, em combinar joias e diamantes com produtos digitais.

Acompanhando o anúncio do software do Google, Hayek parecia preocupado – e certamente não muito ansioso por reconstituir a aliança com a Microsoft, que, segundo ele, deixou para a Swatch inúmeros Paparazzi que não chegaram a ser vendidos.

Segundo Hayek, os relógios inteligentes desenvolvidos pelas empresas de tecnologia apresentam numerosos problemas em comparação aos modelos tradicionais, como a vida útil limitada da bateria e o fato de que podem ser “monitorados” pela Agência Nacional de Segurança e outros serviços de inteligência. “As pessoas não querem esse tipo de complicação”, disse ele. Por outro lado, “os relógios continuam uma peça de joalheria.”

Publicidade

Preços Até agora, porém, os executivos têm dado ênfase à diferença de preços entre os relógios inteligentes, que custam centenas de dólares, e os modelos mecânicos de marca, que, no geral, são vendidos por milhares de dólares – ainda que alguns desses mesmos executivos apreciem a ideia de que produtos como o Galaxy Gear, lançado pela Samsung em setembro, têm levado as pessoas a prestar mais atenção no relógio que usam.

“A chegada do Samsung e outros não prejudicará o setor de relógios de luxo; na verdade, há espaço para todo mundo”, disse Richard Mille, fundador da empresa que leva o seu nome. Para Jon Cox, analista da corretora Kepler Cheuvreux, é difícil que a primeira geração de relógios inteligentes prejudique a venda de relógios suíços que são vendidos por mais de US$ 1 mil – que representam 90% da indústria suíça.

Cerca de 1,9 milhão de relógios inteligentes foram colocados à venda em todo o mundo no ano passado, quase dois terços já com o sistema Android, do Google – um forte aumento em comparação aos 300 mil distribuídos em 2012, segundo pesquisa da consultoria de tecnologia Strategic Analytics. Matt Wilkins, diretor da área responsável por tablets e aparelhos portáteis na Strategic Analytics, disse que o mercado de telefones inteligentes “começa a tomar forma” com um “enorme espaço” para crescer.

Os relojoeiros tradicionais, contudo, dizem ser muito cedo para prever mudanças radicais no setor. “São os jovens de hoje que decidirão amanhã se o relógio tradicional realmente corre risco ou não – e é muito fácil ter um prognóstico errado”, disse Jean-Marc-Jacot, diretor executivo da fabricante de relógios de luxo Parmigiani Fleurier.

PUBLICIDADE

Na verdade, alguns executivos alegam que seus clientes super ricos estão ficando saturados com as novas tecnologias.

“Estamos chegando num estágio em que as pessoas estão cansadas de aparelhos tecnológicos porque acham que são invasivos”, disse Philippe Léopold-Metzger, diretor executivo da Piaget. “Se saio à noite ou sou convidado para um jantar, não levo nenhum telefone comigo.”

A cautela dos relojoeiros pode ter alguma coisa a ver com a história turbulenta do seu setor nas últimas décadas. Nos anos 70, as empresas japonesas inundaram o mercado com relógios a quartzo que levaram a indústria relojoeira suíça à beira do colapso, incluindo as empresas locais que tentaram, sem sucesso, fabricar relógios a quartzo mais baratos.

Publicidade

/TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E TEREZINHA MARTINO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.