Rolando a tela apenas com os olhos

Uma tecnologia promete mudar a forma de controlar o computador: com o movimento do olho

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Por Redação Link
Atualização:

Quando os grandes livros de história da tecnologia forem escritos, o início dos anos 2000 poderão ser lembrados com a Era da Exploração da Interface Homem-Computador.

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Por quase 40 anos usamos o teclado e o mouse. Apontar. Clicar. Apontar. Clicar. Isso funciona, mas é indireto. Você pode ser muito jovem para lembrar, mas aprender a usar o mouse nem sempre foi fácil. (Passei muitos anos trabalhando como instrutor de computadores pessoais, ganhando por visitas a domicílio de adultos frustrados, com dificuldade para entrar na era digital).

Mas veio depois o Wii. Podíamos controlar um computador agitando um controle remoto sem fio. E então chegaram o iPhone e o iPad: podíamos controlar um computador pressionando e arrastando um dedo sobre um vidro. E daí o Microsoft Xbox Kinect: agora conseguíamos controlar um computador sem sequer tocá-lo, apenas mexendo os braços. Em seguida o Siri no iPhone 4S, que levou o controle de voz a um nível mais fluído, mais sofisticado.

Cada um destes avanços tecnológicos funciona brilhantemente no seu nicho particular — mas ainda não paramos.

Na feira Consumer Electronics Show (CES), realizada há poucas semanas, ouvi falar de uma companhia chamada Tobii, que estava fazendo a demonstração de um laptop com um software “eye-tracking” (que acompanha o movimento do olho) embutido. (Por isso Tobii “com dois ‘is’”, que pronuncia-se como mesmo som de “olho” — eye — em inglês, entendeu?).

Agora isso não é algo novo. Está disponível, a um enorme custo, no Exército, em setores especializados, para pessoas deficientes, e assim por diante. Mas uma coisa é pagar milhões para ter um painel de instrumentosdo tipo em um avião de combate, e outra coisa bem diferente é ter a tecnologia um embutida no seu laptop.

Descobri o estande da companhia bem no fundo do salão da feira (cujo tamanho equivale a 37 campos de futebol americano) — a Sibéria dos estandes minúsculos de empresas sem muito dinheiro para gastar. No estande inteiro cabia um laptop e um computador de mesa.

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Um representante fez uma demonstração. Primeiramente, o sistema procura e aprende onde estão os seus olhos utilizando um procedimento de calibração de 10 segundos, em que você simplesmente olha para um ponto laranja enquanto ele salta para quatro posições em torno da tela. E então você está pronto para começar.

A primeira demonstração foi com um jogo de asteroides em que você supostamente destrói os asteroides que se aproximam simplesmente olhando para eles. E então descobre que o sistema funciona perfeitamente, impecavelmente e de maneira entusiasmante. Suas mãos ficam livres, seu corpo relaxado e você está explodindo as rochas do espaço instantaneamente, sem nada, salvo o poder impressionante do seu olhar.

Uma outra demonstração envolveu o Google Maps: o software automaticamente focaliza e faz um “zoom” de qualquer coisa em que seus olhos esteja fixados.

Havia um aplicativo para exibir um slide, em que você vê os esboços minúsculos de muitas fotos e ao fixar os olhos numa delas em particular, a foto automaticamente abre em tela cheia.

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Num PC rodando o Windows 8, você pode clicar os botões da barra de ferramentas em Word, clicar os botões em forma de tijolinhos e bater na tela, apenas usando os seus olhos. Num programa de desenho de arquitetura, pode, sem esforço, se movimentar em torno de um grande projeto com os olhos, rolando a tela para cima e para baixo com o mouse para fazer zoom em qualquer ponto. (Para pessoas deficientes, a Tobii criou um kit que permite “clicar o mouse” piscando ou fixando os olhos, mas o sistema realmente funciona melhor quando em conjunto com um trackpad ou o mouse.

A demonstração que realmente me impressionou, contudo, foi algo muito menos glamoroso: de leitura. Imagine uma página da web ou um documento do Word na tela à sua frente e a página vai rolando automaticamente, sem qualquer esforço enquanto você vai lendo o artigo. O sistema reconhece em que ponto estão os seus olhos e o quão rápido você está lendo, de modo que mantém seu lugar centrado na tela, rolando automaticamente à medida que você segue a leitura, mesmo voltando no texto para reler alguma coisa. A sensação é de que ler em uma tela de computador deveria ter sido assim desde o começo.

O representante disse que a companhia estava promovendo o sistema para fabricantes de computadores e não para consumidores individuais (embora ela também venda kits adicionais caríssimos para computadores, para deficientes por exemplo). E afirmou que levará alguns anos até que possa ser comprado por qualquer pessoa.

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Além disso, tão entusiasmado com a minha primeira experiência com o “eye-tracking” cotidiano, descobri depois que o sistema não é absolutamente novo. Soube que Tobii tem concorrentes. E que não é uma empresa nova, tampouco uma empresa pequena; é um enorme conglomerado sueco que fabrica produtos envolvendo o “eye-tracking” para todo o tipo de uso. Mesmo o laptop não é algo novo; uma pesquisa no Google me mostrou que a Tobii vem demonstrando o seu sistema em feiras eletrônicas há um ano.

Mesmo assim, você percebe de imediato quando o experimenta que existe alguma coisa interessante ali. Pode demorar alguns anos, mas a tecnologia é sensacional e as possibilidades são ilimitadas.

* Publicado originalmente em 26/01/2012.

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