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Sábado Livre: mergulho jamaicano

O blog You&Me On a Jamboree resgata discos raros do gênero jamaicano

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

Quem gosta de música jamaicana conhece: o You&Me On a Jamboree é, de longe, a melhor fonte para descobrir novos sons antigos. Criado em 2006, o blog mergulha a fundo na cultura jamaicana em todas as suas vertentes. Se para você música jamaicana se resume a Bob Marley, prepare-se para se surpreender.

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Além de postarem discos raríssimos, a equipe que cuida do site faz um extenso trabalho de pesquisa. Junto com o link para download dos álbuns sempre há informações sobre a banda e o contexto do disco. Além disso, também há divulgação de shows, vídeos e podcasts temáticos com curiosidades.

A trupe agora dedica-se ao Jurassic Soundsystem, um sistema de som que funciona nos moldes das antigas festas de reggae jamaicanas, com caixas de som poderosas e vinis tocando reggae na rua.

Conversamos com um dos criadores do site, Greg Fernandes, para saber mais sobre o trabalho:

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Por que vocês criaram o site? A You&Me foi criada para divulgar os primeiros ritmos da Jamaica, como o Ska, Rocksteady e o Early Reggae e raridades que correm o risco de cair no esquecimento se não fosse o compartilhamento de arquivos pela internet. Isso foi em 2006, quando o Sono montou o blog para reunir membros dispostos a postar esses álbuns fora de catálogo ou que são de difícil acesso no Brasil. No começo foram alguns colaboradores que, por alguns motivos, acabaram saindo, até ficar a formação atual, que conta com Sono, Greg, Alex Jurássico, Luís e Papa Neggo. Cada um com suas especialidades, mas todos com o gosto comum pela velha escola jamaicana.

De onde vem o nome do blog? Um dos objetivos do blog é quebrar alguns estereótipos, como aquele que todo reggae é roots e louva a Jah. Nada contra, que fique bem claro. O problema é que muitos só conhecem o lado roots e conscious do reggae, sendo que, no começo, ele não estava envolvido com religião ou causas sociais. Era apenas música para a diversão. Nesse sentido, Yo&Me é um trocadilho com “I&I”, uma expressão comum entre rastafaris que encaram as palavras “eu e você” como individualistas. Mas acreditamos que a música não deve ter ligação com religião, ideologia ou partido. É para todo mundo. Até para os religiosos! Já a “Jamboree” é uma gíria jamaicana que significa “encontro”, “festa”.

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Como vocês descobrem os sons novos? Recentemente fomos à Jamaica procurar alguns discos esquecidos por lá. É um trabalho de pesquisa e uma espécie de “troca de figurinhas”. Alguns discos são possíveis comprar ou achar para download na internet. Mas muitos são tão raros que dependemos da colaboração de outros colecionadores para nos ajudar. Com o tempo conseguimos contatos em diversas partes do mundo que, às vezes, estão dispostos a colaborar. Já em outras precisamos oferecer algo em troca para que ambos saiam felizes.

A história do reggae jamaicano é bem documentada? Há um lado da música jamaicana muito obscuro, sujo e mal documentado. Era até de se esperar num país onde houve tantos músicos que não tiveram nada além de uma cópia teste gravada para tentar a sorte em alguma loja de discos. Alguns músicos que explodiram na Inglaterra, como Desmond Dekker, primeiro artista jamaicano a atingir o topo das paradas britânicas, ou até mesmo em Hollywood, como Byron Lee em James Bond Contra o Satânico Dr. No, tiveram seu lugar ao sol. Costumam dizer que na Jamaica não existem histórias, existem lendas. Muitas vezes é preciso juntar peças de um quebra-cabeça.

Vocês já tiveram algum problema por infração de copyright? Já tivemos problemas com duas gravadoras. Uma delas conhecia o blog e disse admirar nosso trabalho de resgatar obras esquecidas da música jamaicana. Porém gostaria que entendessemos que determinado disco ainda estava em circulação. O problema é que na época de ouro da música jamaicana os direitos autorais não existiam. Basta ver o filme Harder They Come, com tradução para o português Balada Sangrenta e que conta com a participação de Jimmy Cliff. O filme mostra bem como funcionava os esquemas entre músicos e produtores. As canções eram pagas apenas uma vez. A partir de então, passavam a ser de propriedade do produtor.

O blog revela músicas que provavelmente não conheceríamos de outra maneira. Qual é a importância desse canal? Os blogs são fundamentais para evitar que determinada música ou gênero musical caia no esquecimento. Não adianta apenas o material estar digitalizado em MP3. Tem quee haver um canal de divulgação. Programas de compartilhamento são bons, mas só se você já tem em mente o que procurar. Não são muito bons para quem quer conhecer coisas novas. Nesse sentido, os blogs fazem o papel das gravadoras que não estão interessadas em resgatar determinado disco para comercializar no mercado.

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Quais os frutos que o blog já rendeu? Além do público fiel que nos acompanha em todas as festas, conseguimos muitas amizades e contatos com o blog. Eles nos ajudaram a ter credibiliade e ousar fazer coisas que não fariamos se não tivessemos o apoio de um site bem conceituado. Vamos trazer agora, em abril, uma das maiores lendas da músicas jamaicana, Jackie Bernard, líder do grupo dadécada de 60, Kingstonians. Um dos nossos focos principais agora é nosso sistema de som, Jurassic Soundsystem, no qual tocamos apenas prensas originais de época da velha guarda jamaicana. Os podcasts também são um canal importante para contarmos histórias e expressarmos nossas opiniões através da música.

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