Tomamos cuidado com saquinhos de plástico que pesam menos de um grama, e usamos “recipientes descartáveis” muito mais pesados para tomar café, água ou chá. Usamos saquinhos para temperar nosso lanche, onde o tempero em si pesa menos que o saquinho (e provavelmente custa ainda menos). Há até situações em que se proibiram os saleiros de uso coletivo. E antes o leite e os refrigerantes vinham em garrafas de vidro retornáveis. Levávamos a garrafa vazia na próxima compra, sabendo que o vidro é muito fácil de reciclar.
Embalagens complexas, sofisticadas e com camadas de múltiplos materiais são muito menos recicláveis que vidro, papel ou plástico simples. É ainda mais complicado quando se trata de reciclar eletrônicos, que incluem pilhas, metal laminado, plásticos e tratamentos químicos complexos.
A migração que a internet trouxe – dos materiais (átomos) para os bits – acenou com a visão do “novo escritório” sem papel. Afinal, bits não precisam ser reciclados e a possibilidade trabalhar de casa economiza tempo e meios de transporte. Estamos indo no caminho da conservação racional dos recursos naturais. Como reza o lema inscrito no brasão da USP, nossa maior universidade, “Sciencia Vinces”!
Mas – e sempre há esse “mas” – há o outro lado da questão. Se nossa interação é eletrônica, se usamos o banco sem papel, se compramos bens via comércio eletrônico, há porém o momento da metamorfose: os bits podem gerar, inocentemente e sem que o notemos, montanhas de átomos.
Reportagens recentes apontam que, por exemplo, na China o consumo de embalagens cresce 50% ao ano, tendo passado em 2015 de 20 bilhões de pacotes enviados pelo correio. Que um alemão gera em média mais de 200 quilos por ano em embalagens, sem qualquer sinal próximo de arrefecimento.
Pior, estamos em épocas de extinções não apenas materiais. O “bom senso”, por exemplo, vê-se seriamente ameaçado. Sinais alarmantes de tempos de individualismo, hedonismo, busca imediata de satisfação – com o interesse da criatura sobrepondo-se ao da espécie.
Claro que a ciência pode ajudar. Usando Internet das Coisas podemos tentar rastrear o lixo, melhorar o reaproveitamento. Sobretudo é importante olhar o panorama geral. Papel é facilmente reciclável e basta enterrá-lo para que vire adubo, plástico, não. Recobrimentos com metal para fins estéticos podem esgotar alguns materiais e não há modo fácil de recuperá-los do lixo. Isopor, materiais de proteção, plásticos bolha, fitas adesivas misturadas aos dejetos são de muito lenta reassimilação pelo ambiente.
E se há algo não negociável, nem mesmo no comércio eletrônico, é a viabilidade da espécie humana.