O segundo brasileiro no espaço: conheça Victor Hespanha, sorteado para voar no foguete de Jeff Bezos

Para embarcar no voo da Blue Origin, engenheiro de 28 anos, que mora em Minas Gerais, participou de uma promoção após investir R$ 12 mil em NFTs

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Por Andre Jankavski
Atualização:
Brasileiro ganhou "passagem" ao espaço após comprar NFT 

Na época do colégio, o engenheiro mineiro Victor Hespanha, de 28 anos, era um daqueles alunos que gostavam muito das aulas de Física. Os seus melhores momentos na escola, aliás, eram durante as feiras de ciências. Em um dos seus projetos, juntamente com um grupo de colegas, realizou simulações de foguetes e criou com garrafas um projétil para saber qual seria o arco da parábola que ele alcançaria. Esse tipo de experimento também alimentava uma curiosidade própria: a de entender por que os foguetes, apesar de subirem de maneira reta ao olho nu, começavam a fazer uma curva e, às vezes, davam a impressão de estarem fora da rota.

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Mais de 15 anos depois, Hespanha conseguiu ter essa experiência in loco. Isso porque o engenheiro, que hoje atua na VetBR, distribuidora de produtos de saúde animal, foi o segundo brasileiro a ir para o espaço, 16 anos após o ex-ministro e astronauta Marcos Pontes olhar a Terra lá de cima. Porém, ao contrário de Pontes, Hespanha não precisou nem estudar nem fazer algum tipo de treinamento para se preparar para a empreitada. Isso faz dele o primeiro civil a ir para o espaço.

Ele fez parte da tripulação do quinto voo do New Shepard, foguete da empresa Blue Origin, fundada pelo dono da Amazon, Jeff Bezos. Além disso, Hespanha não precisou desembolsar milhões de dólares nem entrar em uma fila para fazer o voo, como fizeram empresários e celebridades: ele simplesmente investiu cerca de R$ 12 mil em NFTs, que são criptoativos colecionáveis e exclusivos cujo mercado tem crescido muito nos últimos anos.

Os ativos no caso são da Crypto Space Agency (CSA), agência espacial criada para unir a tecnologia da indústria espacial com o poder financeiro do mercado cripto. Ou seja, uma forma de apoiar a indústria por meio de dinheiro de terceiros.

Para atrair mais investidores, a CSA criou uma espécie de promoção: todos que comprassem o ativo Gen-1, a R$ 4 mil cada, teriam a possibilidade de concorrer à viagem no foguete de Bezos. Hespanha, que vinha pesquisando a respeito da CSA, comprou três unidades do Gen-1 há duas semanas, mais pensando no retorno financeiro do que na possibilidade de viajar ao espaço. Porém, quando voltou de uma viagem que fez pelas montanhas de Minas Gerais, ficou sabendo que ficaria ainda mais próximo do espaço. 

“Eu não acreditei a princípio. Quando eu vi que o código sorteado era o meu, fiquei vendo qual seria o problema”, diz ele. Como o contrato não permitia nenhum tipo de divulgação, falou da viagem apenas para a sua esposa, Marcella, que se desesperou. “Ela pensou que eu ia morrer, mas eu mostrei para ela todos os vídeos da Blue Origin e expliquei que seria uma viagem tranquila.”

Documentação 

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Hespanha começou a enviar todos os documentos necessários para tornar o sorteio em realidade. A CSA pagou pela a viagem aos Estados Unidos. O engenheiro disse que estava mais ansioso para entender como tudo vai funcionar, pelos treinamentos, do que pela viagem em si. “Ficar em gravidade zero por alguns minutos será um sonho de infância."

Um dos fundadores da CSA, Joshua Skurla se diz animado com a viagem de Hespanha, ainda mais depois do corpo de funcionários da companhia passar a carreira desenvolvendo “produtos de ponta para agências nacionais espaciais, companhias aeroespaciais, empresas de metaverso, blockchain e a indústria de entretenimento”. “Agora estamos fazendo isso para uma comunidade mais ampla e é só o começo."

A viagem

Apesar de toda a corrida espacial que vem ocorrendo entre a Blue Origin, de Bezos, a SpaceX, de Elon Musk, fundador da Tesla e o homem mais rico do mundo, e empresas de outros bilionários, não se trata uma viagem de longa duração. A realizada por Bezos em julho do ano passado, por exemplo, durou dez minutos e dez segundos. A New Shepard é uma cápsula totalmente autônoma e faz parte de um foguete de 18,3 metros de altura. 

Além de Hespanha, a tripulação foi formada pelo americano Evan Dick, que já fez um voo na terceira missão com tripulação do New Shepard, a cientista e apresentadora de TV mexicana Katya Echazarreta, o piloto britânico de jatos corporativos Hamish Harding e o americano dono de uma empresa mobiliária chamado Jaison Robinson, que também participou do reality show Survivor. O investidor e ex-comandante da Marinha Victor Vescovo completará a tripulação. 

A Blue Origin não informou quem pagou pelo voo e quem está indo de graça. Tampouco revelou o faturamento com a viagem.

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