Análise: Sem resolver dilemas do Snapchat, reforma pode ser ‘início do fim’

Ao separar amigos e produtores de conteúdo, aplicativo de fotos e vídeos efêmeros dificulta nascimento de novos influenciadores

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Por Bruno Capelas
Atualização:
Evan Spiegel (à direita),do Snapchat, eBobby Murphy, que ajudou a fundar a empresa Foto: J. Emilio Flores/NYT

Coqueluche das redes sociais nos últimos anos graças aos vídeos curtos, aos filtros amalucados e às mensagens efêmeras, populares entre os jovens, o Snapchat sempre teve dois problemas. 

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Conhecido por apontar tendências, o aplicativo Snapchat aprontou de novo nos últimos dias, ao dividir sua plataforma ao meio. Agora, de um lado, ficam as publicações dos amigos; do outro, os vídeos curtos de produtores profissionais, como veículos de mídia e influenciadores.

Para muitos usuários –especialmente acima dos 25 anos de idade –, ele sempre foi difícil de usar. Também, pudera: ao abrir o app, a primeira visão que se têm é a da câmera – nas redes sociais, nem todo mundo está interessado em produzir conteúdo, mas sim em recebê-lo de forma filtrada, curada e bem editada.

Do outro lado – o dos influenciadores digitais –, o aplicativo falhava ao não exibir métricas exatas o suficiente para que eles conseguissem conversar com marcas e, assim, ganhar dinheiro com suas ideias dentro da plataforma. Nos dias de hoje, “tudo é número”, e o Snapchat pecou ao apostar em imagens bonitas e não em dados.

Enquanto estava tudo bem, poucos ligaram para esses defeitos. Quando o Snapchat foi copiado pelos rivais, deixou de ser moda e perdeu a pose, a luz amarela acendeu e foi preciso ir atrás de mudanças. A reforma, porém, não deu conta de nenhuma das grandes queixas do público. Ele ficou um pouco mais fácil de usar, mas acabou criando um terceiro problema: tornou mais difícil a ascensão de novos criadores. 

Não é algo inédito no universo das redes sociais. Também em baixa nos últimos anos, o Twitter mudou diversas vezes, sempre desagradando aos usuários – a última novidade foi o aumento de seu tradicional limite de caracteres. As semelhanças vão além dos problemas com a experiência de uso, passando pela pressão de Wall Street. 

Snapchat e Twitter tem uma história parecida: surgiram como grandes promessas, abriram capital com a expectativa de ser “o novo Facebook” e sofrem com a frustração dos investidores de não terem crescido e lucrado. Há uma diferença, porém. 

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Apesar dos problemas, o Twitter ao menos se mantém relevante e com público cativo, na casa dos 300 milhões de usuários. Eles reclamam, mas seguem fiéis. Lá, permanecem ativos veículos de imprensa, personas públicas como Anitta e Neymar e até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que escolheu a rede social para soltar bravatas e propostas políticas. 

Já o Snapchat, não: copiado pelo Instagram Stories, mais popular e fácil de usar, ele perdeu seus influenciadores para o rival. “Já há alguns meses tenho só usado o Stories”, diz Luísa Clasen, a Lully de Verdade. Até mesmo Thaynara OG, um dos principais nomes do Snapchat no Brasil, “virou casaca”: na última semana, seu volume de publicações no Instagram era duas ou três vezes maior que na rede que a projetou.

Sem as celebridades, o público também vai embora. Além disso, ao ser copiada e pressionada, a empresa perdeu seu trilho de inovação. Para piorar, viu novos rivais, como o Musical.ly, caírem nas graças dos jovens. Agora, a empresa corre atrás dos rivais. “As novidades são tímidas. Não sei se vejo futuro para o Snapchat”, diz o especialista em redes sociais, Alexandre Inagaki.

Pensar em um mundo tecnológico sem o Snapchat, porém, é um cenário frustrante. Fundada em setembro de 2011, menos de um ano antes da abertura de capital do Facebook, a Snap se tornou o último grande adversário da rede social de Mark Zuckerberg, a mais popular do mundo, com 2,07 bilhões de usuários. Uma eventual derrocada do Snapchat causada por Zuckerberg não é só o fim de uma startup: é mais um passo para um Vale do Silício cada vez mais dominado por grandes corporações.

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