
Demi Getschko
Por dentro da rede
Sem suporte técnico, o avanço tecnológico traz sérios riscos
Resultados espetaculares em IA e RA não afastam usos negativos
10/05/2022 | 05h00
Por Demi Getschko - O Estado de S.Paulo
Os avanços técnológicos trazem debates sobre a segurança na internet
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O dia mundial da senha, 5 de maio, foi comemorado de forma discreta, como aliás era de se esperar dada a natureza do tema. Brincadeiras a parte, é importante cuidado redobrado e precauções. Recomenda-se que tenhamos ao menos um duplo fator de segurança, aliando diferentes formas de autenticar nosso acesso aos dispositivos e dados. Ter senha forte é uma delas, e sugere-se adicionar algum critério biométrico. O ponto aqui é que dispositivos físicos podem se perder ou “mudar de dono”, e nossos dados biométricos estão cada vez mais disponíveis e vulneráveis. A autenticação múltipla é um fator muito importante de segurança, e a senha em si tem uma barreira de proteção adicional: afinal ela fica armazenada em nossos miolos que, por enquanto, espera-se permanecem inexpugnáveis.
Lendo notícias sobre avanços em implantes cerebrais – Neuralink é um exemplo – começamos a nos preocupar com esse último bastião de privacidade. Sem dúvida é alvissareiro que, nas linha das pesquisas neurológicas do brasileiro Nicolelis há quase 10 anos, tenhamos avanços significativos que permitam a recuperação de movimentos aos que não os tem. Mas sempre sobra a pulga atrás da orelha sobre riscos de uso malicioso destes sinais. Estará a privacidade das senhas com os dias contados?
Outra notícia anunciava que, por meio de realidade virtual, a sensação de “beijo” pode ser proporcionada apenas usando óculos tecnológicos. Eis aí mais um caminho escorregadio. Seria o beijo virtual uma forma insidiosa de sugerir que interações humanas devem ser evitadas? Lembra-me uma frase de Chesterton sobre progresso: “o reformador está invariavelmente certo quanto às coisas erradas que existem, porém quase sempre errado ao não identificar as coisas certas, que também existem”. A ânsia de consertar o errado nos faz ignorar ou desprezar o certo e, com isso, relevar a carga de experiência que a humanidade acumulou.
Tudo isso imbrica-se com os notáveis avanços que temos hoje em inteligência artificial. Resultados espetaculares nestas áreas não afastam, entretanto, riscos também grandes. Há pouco se viu um programa de geração sintética de texto recomendar ao seu interlocutor o “suicídio”. O automatismo e o empirismo não podem prescindir de suporte ético, sob risco de trazerem riscos muito sérios. A terceira lei de Arthur Clarke diz que “uma tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Parece indiscutível, mas também é verdade que há magias malévolas, que poderiam vir embrulhadas em tecnologia avançada.
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