Simplesmente funciona

Com um programa simples que mantém arquivos sincronizados, Drew Houston está determinado a transformar o Dropbox no próximo Google

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Por Redação Link
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Com um programa simples que mantém arquivos sincronizados, Drew Houston está determinado a transformar o Dropbox no próximo Google

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Jessica Guynn, do Los Angeles Times

Quatro anos atrás, Drew Houston era apenas mais um hacker esperto com a ambição de começar sua própria empresa. Ele colocava fones de ouvido para bloquear tudo, exceto o fluxo de endorfina, enquanto desenvolvia códigos noite adentro para um novo serviço que sincronizasse instantaneamente todos os arquivos de uma pessoa em todos seus aparelhos.

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Houston, guitarrista numa banda cover de rock dos anos 90 em bares e festas universitárias em Boston, apelidou o sistema de “Even Flow”, extraído de uma de suas canções favoritas do Pearl Jam. Num quadro branco em seu apartamento, em Cambridge, no Estado de Massachusetts, calculou que precisaria de muitas centenas de usuários para “não se sentir um idiota” por largar seu emprego com salário de US$ 85 mil anuais como engenheiro de software.

Hoje, Houston precisa de um software para rastrear quantas pessoas usam o serviço. O Dropbox tem mais de 50 milhões de usuários e acrescenta um a cada segundo. O crescimento da empresa é um dos mais acelerados na história do Vale do Silício. Apple e Google o sondaram para tentar comprar o serviço. Mas Houston quer ele mesmo ser o próximo Google. E alguns dos investidores mais espertos em alta tecnologia apoiam sua visão.

O Dropbox é uma solução elegante para um problema incômodo. Com a explosão de smartphones e tablets, as pessoas têm mais dispositivos e aplicativos que nunca. Como ter acesso à versão mais recente de todo seu material – fotos, música, vídeos, arquivos – independentemente de qual aparelho estão usando e do lugar onde estão? Para milhões, a resposta tem sido o Dropbox. A cada dia, 325 milhões de arquivos são salvos por ali. 

Em setembro, Houston embolsou US$ 250 milhões de sete importantes empresas de capital de risco do Vale do Silício. Essa quantia assombrosa valorizou a empresa em US$ 4 bilhões e o valor de seu patrimônio líquido – ao menos no papel – é de estimados US$ 600 milhões. E agora, seu presidente de 28 anos terá de assegurar que o Dropbox se transforme no próximo Facebook, e não no próximo MySpace.

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O Dropbox enfrenta uma competição potencialmente mortal de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo e dezenas de iniciantes com pilhas de dinheiro e engenheiros de ponta. Mas ele já tem seu público – conquistado sem gastar um centavo em marketing, apenas oferecendo armazenamento grátis como incentivo para as pessoas convidarem amigos.

Proprietários de imóveis em reforma usam o serviço para vasculhar contratos e ajustar os planos de arquitetos e fornecedores. Casais que pretendem se casar trocam esboços de convites e fotos do bolo de casamento. Astrônomos carregam e compartilham imagens do céu de telescópios gigantes obtidas por todo o globo. Walter Isaacson chegou a usar o Dropbox para sua biografia best-seller Steve Jobs, apesar de a Apple ter um serviço semelhante.

Mas consumidores podem ser volúveis. O que vai acontecer quando Apple, Google e Microsoft apontarem seus grandes canhões para o Dropbox na disputa para se tornar o abrigo do material digital de todo o mundo? “É claro que o Dropbox vai ter uma competição séria não só dos grandes, mas de todo mundo”, disse Tim Bajarin, da consultoria Creative Strategies. “Eles precisam inovar para ficar à frente”. Houston sabe que não pode se dar ao luxo de descansar. E quer que o Dropbox chegue a qualquer aparelho que a pessoa use, do smartphone, câmera, TV e até o carro.

“As pessoas podem nos conhecer hoje como a pasta mágica em sua escrivaninha ou o aplicativo em seu telefone. Mas nós nos vemos construindo o sistema de arquivar da internet”, disse ele.

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Novo ícone. Uma razão para as pessoas estarem apostando no Dropbox é que os aficionados por tecnologia o adotaram com entusiasmo semelhante ao destinado a produtos da Apple. E adotaram Houston, que é hoje é uma espécie de astro do rock do mundo digital, abordado por estranhos na rua e no Starbucks.

Houston, que tem o penteado de Elvis Costello e raramente abandona sua calça jeans e moletom com o logo do Dropbox, diz que sua maior curtição é espiar por cima do ombro de alguém num café e ver o logotipo da sua empresa na tela do laptop. Na sede do Dropbox em São Francisco, ele senta-se em volta de um mar de engenheiros sob um letreiro de néon que diz “ITJUSTWORKS” (simplesmente funciona) com “just works” brilhando em azul. Sua mesa é forrada por currículos com três centímetros de espessura e sua atenção se distribui constantemente por quatro monitores de 24 polegadas.

Seus antigos colegas dizem que o foco maníaco no Dropbox fez Houston sempre atrasar o aluguel. Ele raramente aparece no seu apartamento exceto para tomar banho e dormir, preferindo ficar no escritório.

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Esse é o tipo de atenção obsessivo-compulsiva ao detalhe de que Houston e sua equipe precisavam para realizar uma façanha tecnológica: fazer o Dropbox funcionar em qualquer aparelho, com qualquer sistema operacional, em qualquer navegador e qualquer país. Seus engenheiros chegaram a invadir o sistema de arquivos da Apple para fazer o ícone do Dropbox aparecer em barras de menu de usuários, um feito ousado que soprou para longe a equipe de nuvem da Apple e chamou a atenção de ninguém menos que Steve Jobs.

O próprio senhor Apple convocou Houston e seu cofundador, Arash Ferdowsi, à sede da Apple em Cupertino, Califórnia, em dezembro de 2009. Eles foram na hora e sentaram-se nervosos na sala de conferências de Jobs.

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Jobs, de calça jeans e malha preta com gola rolê, fez o que mais gostava. Avisou-os de que ia atrás do mercado deles. E, num momento de cair o queixo para Houston, fez uma oferta para comprar o Dropbox. Mas Houston herdou o sangue frio de seu pai e não caiu sob o feitiço de Jobs, embora admita ter sentido um frio na barriga quando Jobs anunciou o iCloud em sua última apresentação em vida, que ameaçava engolir o Dropbox.

“Sou mais o Windows”, disse Houston com um sorriso.

Solução. Criado nos subúrbios de classe média de Boston, ele começou a brincar com computadores aos 3 anos e aprendeu a programar aos 5. E aspirava ser um empresário antes mesmo de ter idade de se barbear.

O garoto que cravou 1.600 pontos em seus SATs (exame senelhante ao Enem e é usado como seleção nas universidades) saiu do Massachusetts Institute of Technology (MIT) por um ano para começar uma empresa de cursos preparatórios online para o SAT, mas ela não foi o ponto de virada que ele procurava.

Sentado na South Station, em Boston, em novembro de 2006, Houston abriu seu laptop e percebeu que tinha deixado seu pen drive em casa. E conta que fez então o que qualquer engenheiro de respeito faria: passou a viagem de ônibus de quatro horas a Manhattan escrevendo códigos para nunca mais se encontrar sem os seus arquivos.

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Houston associou-se a Ferdowsi, aluno de ciência da computação no MIT, filho de refugiados iranianos do Kansas. Eles se candidataram e obtiveram um cobiçado local nas incubadora Y Combinator no Vale do Silício, plataforma de lançamento de muitas empresas do Vale.

Um dia, quando eles voltaram a seu carro alugado e descobriram que seus laptops tinham sido roubados, mas todo seu trabalho estava preservado no Dropbox, eles souberam que estavam no caminho certo. Ferdowsi largou o MIT um semestre antes de se formar.

Com US$ 15 mil da Y Combinator, eles passaram quatro meses escrevendo códigos 15 horas por dia num apartamento abarrotado. Em setembro de 2007, eles se mudaram para um prédio de apartamentos em São Francisco cheio de empresas da Y Combinator, que Houston apelidou de “Ilha de Ellis para empresas iniciantes” (em referência à ilha de Nova York que era o ponto de chegada de imigrantes nos EUA). Contrataram os engenheiros mais hábeis que puderam encontrar, a maioria alunos do MIT, e começaram o negócio.

A existência do Dropbox chegou aos ouvidos de Michael Moritz, investidor famoso por bancar tanto Apple quanto Google no início. Sua empresa, a Sequoia Capital, deu um cheque para o Dropbox e pediu instruções para a transferência eletrônica. Houston e Ferdowsi se entreolharam. Foram até a agência do banco perto de seu apartamento e observaram os caixas de um lado e os assentos de couro dos gerentes de contas do outro. Foram até os assentos de couro e perguntaram se havia um limite para a quantia que uma conta bancária podia conter, e depois assistiram, com olhos esbugalhados, seu saldo saltar de US$ 60 para US$ 1,2 milhão.

Em março de 2008, eles postaram um vídeo de demonstração no site de troca de links Digg e obtiveram 70 mil usuários da noite para o dia. Seis meses depois do lançamento, já tinham 100 mil usuários. Depois vieram os milhões. E outros milhões de dólares de investidores. “O Dropbox provoca um momento de reconhecimento imediato em todos que o usam”, explica Ted Schadler, analista da Forrester Research.

O serviço já se tornou lucrativo e está ganhando dinheiro (Houston só não diz quanto). A cada dia, milhares de usuários esgotam seus 2 gigabytes de armazenamento gratuito no Dropbox e aumentam para 50 gigas por US$ 10 mensais ou 100 gigas por US$ 20 mensais.

No próximo mês, o Dropbox vai se mudar para um arejado espaço de 8 mil metros quadrados com vista para a baía e terá um café e uma academia próprios. Terá espaço suficiente para crescer de menos de 100 para algumas centenas de funcionários durante o ano. É aí que se determinará o futuro do Dropbox. Não admira que os cabelos de Houston estejam prematuramente grisalhos.

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Houston diz que continua saindo com amigos, que são colegas e também empresários. Doze deles alugaram apartamentos no mesmo arranha-céu em São Francisco. E ele ainda arranja tempo para a música. Após as reuniões os diretores nas “Whiskey Friday” (sexta-feira com uísque liberado), Houston pega o velho violão acústico que foi do pai e faz sessões de improviso com outros músicos que também trabalham na empresa.

Ele faz uma expressão saudosa ao lembrar os primeiros dias do Dropbox quando tudo que tinha para fazer era tomar um chocolate gelado e debruçar-se sobre o teclado durante toda a noite. “Você só precisava sentar, criar alguma coisa, fazer ela funcionar e seguir para a coisa seguinte”, disse Houston. “A alegria é menos imediata quando as coisas ficam maiores.”

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

* Atualização (23/1 – 16h30) : Uma versão anterior do texto dizia incorretamente que o valor ‘de sua rede própria’ (de Drew Houston) é US$ 600 milhões. O termo correto é ‘patrimônio líquido’. O texto foi corrigido.

—- Leia mais: • Link no papel 23/01/2012

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