Sou a favor da pirataria. É um favor que me fazem"; diz escritor Marcelino Freire"

Marcelino Freire é autor, entre outros, do livro ‘Contos Negreiros’ (vencedor do Prêmio Jabuti 2006). É idealizador e organizador da Balada Literária, evento que reúne quase uma centena de escritores, nacionais e internacionais, pelo bairro paulistano da Vila Madalena e cuja quarta edição acontecerá de 19 a 22 de novembro. Freire mantém o blog eraOdito e também está no Twitter.

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Por Redação
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“De futuro (dos livros) eu não entendo. Tenho preguiça para prever. O futuro é já. Tanta coisa acontecendo. Tantas ferramentas modernas que não dá tempo de acompanhar. Papel e tela, sim, conviverão. Não sou daqueles que espalham o medo e o terror – de que o livro vai acabar, de que a internet vai enterrar de vez a história impressa. Ora essa: vamos à frente, ver o que tem lá adiante. Troco a naftalina pelo que vem, ali, na esquina”, afirmou.

Mudando de assunto, ele disse: “Sou a favor da pirataria, de os livros circularem, de os textos serem lançados a quem quiser. Criação é, assim, patrimônio humano. Quem sou eu para achar que alguém vai roubar um texto meu? Para fazer o que com ele? As editoras que encontrem outras soluções, outros meios de garantir o pão… Por enquanto, pão às massas… Tudo de todos, já. É só apertar um botão. Dar um clique e eis a revolução”.

E continuou: “Quem disse que eu vivo de direitos autorais? Vivo de oficinas literárias que coordeno, de palestras que dou pelo Brasil, de artigos aqui e ali, de curadorias outras, de um ou outro dinheiro que pinga do teatro, etc. Por isso, repito: ‘quanto mais os meus contos circularem por aí, mas serei conhecido, mais as pessoas me chamarão para feiras e festas’. Tenho de lembrar sempre de que sou um autor contemporâneo, em um país em que poucos lêem. Se “roubarem” um conto meu, espalhá-lo por aí, é um favor que estão me fazendo…”.

“Agora, é claro, se eu descubro que uma Volkswagen, que uma Coca-Cola pegou indevidamente um texto meu, será minha glória… Com a indenização, pararei uns tempos só escrevendo coisas para, assim, o povo roubar”, garantiu.

E concluiu: “Quanto mais à literatura sair do casulo, melhor. Quanto mais o escritor sair da redoma, melhor. É preciso a literatura ir além, para fora das academias e agremiações. A literatura tem de estar circulando na rede, se comunicando de forma viva, pulsante. Gosto de ver textos circulando pelos quatro cantos do mundo. De soltar o verbo nos sites, vídeos, celulares… Aí há quem venha criticar: na internet há muito lixo. Se há, é porque produzimos lixo. Há lixo também nas bibliotecas institucionalizadas, nas livrarias, etc. Repito: vamos à frente. Que atrás não vem ninguém. O Machado de Assis agradece!”

Esta entrevista é a quarta de uma série que o Link publica sobre os desafios dos livros na era digital.

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