Tecnologia estimula inovação nas periferias das cidades brasileiras

Uso de computadores e redes sociais ajudam moradores a se tornar empreendedores e solucionar questões locais

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Por Redação Link
Atualização:

Diogo Antônio Rodriguez, Especial para o Estado

 

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SÃO PAULO – De onde vem a inovação? Dos universitários e recém-formados oriundos de grandes universidades, munidos de um laptop caro e um copo de café tamanho família? Essa é a imagem padrão do empreendedor tanto no Brasil como no exterior. Mas, contrariando o chavão, grandes ideias vêm sendo desenvolvidas nas periferias das grandes cidades brasileiras.

É o caso do Carteiro Amigo, empresa que faz as vezes de correio na Rocinha, no Rio. Na lista das dificuldades que os moradores de favelas enfrentam está a impossibilidade de receber cartas ou encomendas pelos Correios. Do problema nasceu o negócio que Sila Viera e outros sócios fundaram em 2000.

Eles criaram um posto intermediário, que recebe as encomendas dos Correios e as repassam aos moradores, mediante o pagamento de uma pequena taxa mensal (R$ 16). O mapeamento da comunidade, chamado de Mapa Localizador, é feito por eles mesmos, usando mapas virtuais e um sistema desenvolvido exclusivamente pelo Carteiro Amigo.

Primeiro, tudo era feito manualmente; depois de dois anos, passaram a usar a tecnologia. “A gente foi vendo que tecnologia era fundamental, na medida que você vai crescendo, para ter um controle”, diz Vieira. “E a gente começou a investir nisso, em sistema e computadores e agora a gente está tentando desenvolver cada vez mais. Melhorar o sistema, melhorar a forma de identificação.”

O negócio se espalhou pelo Rio e conta hoje com dez franquias, em locais como o Morro dos Macacos, Cantagalo e Vila das Canoas.

Foi justamente no Rio de Janeiro que o Facebook percebeu o potencial de inovação dos pequenos negócios em locais carentes. Patrick Hruby, diretor de negócios para PMEs do Facebook para América Latina, conta que veio da participação da empresa na Feira do Empreendedor o estímulo para voltar os olhos para essas comunidades.

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“Nós fizemos um evento no Rio de Janeiro, a Feira do Empreendedor, onde a gente tinha um estande”, afirma. “Conhecemos um empreendedor chamado André Martins, um comerciante da Rocinha, no Rio, e ele nos mostrou como vendia sanduíches usando o Facebook. 70% das vendas do serviço de entrega eram pelo Facebook”, diz Hruby.

Apesar do estalo ter ocorrido no Rio, São Paulo foi a cidade escolhida para receber um curso de capacitação para incentivar pequenos empreendedores a usar o Facebook como ferramenta de negócio e inovação. Essa é a primeira vez que a empresa faz um trabalho desse tipo no mundo.

A partir de março 2015, Heliópolis, uma das maiores favelas da capital paulista, com 200 mil moradores, receberá capacitação da empresa de Mark Zuckerberg. Serão três turmas em três períodos: manhã, tarde e noite. O gigante da internet fez uma parceria com a Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região) e, durante um semestre, ensinará do básico ao mais avançado. Além das noções técnicas do Facebook, os moradores da comunidade também terão aulas de finanças e negócios, em parceria com o Sebrae, para conseguirem tornar seus pequenos negócios sustentáveis.

 

“O primeiro passo é criar um laboratório de inovação em Heliópolis, usando o espaço da Unas”, afirma Hruby. “O Facebook vai bancar a reforma e a compra de 15 computadores. Criaremos um espaço lá na comunidade que será aberto para uso contínuo”, explica. Segundo uma pesquisa feita na favela, 90% dos moradores têm perfil na rede social e 41% quer ter um pequeno negócio.

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“O empreendedorismo gerar a própria renda aqui em Heliópolis sempre foi uma coisa comum”, segundo André Luis Silva, responsável pela comunicação do Unas. “A cada rua que você anda, vê um comércio, uma lojinha sempre aberta ou pessoas que vendem lanche”, explica.

Troca de experiências

As possibilidades nas comunidades periféricas têm chamado a atenção também da academia. Edgard Barki, professor de marketing da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), ministra a disciplina “Negócio de Impacto Social”, em que promove o intercâmbio entre jovens das favelas de Heliópolis e Paraisópolis e os alunos do curso de administração.

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Segundo Barki, “21 alunos da FGV foram para Paraisópolis e Heliópolis, não só visitar, mas para trabalhar junto com os jovens da comunidade”. “Com isso, você cria uma interação bastante grande e que tanto os jovens da comunidade aprendem com os jovens da FGV quanto os jovens da FGV aprendem com os jovens da comunidade”, afirma. A ideia, segundo o professor é trabalhar “com o empoderamento dos jovens de lá”. “Temos um muro social invisível. Quando a gente quebra esse muro as coisas acontecem em conjunto. Cada um tem suas competências”, afirma.

Para Maure Pessanha, da Artemísia, uma fomentadora de projetos de impacto social, um dos principais desafios para a inovação nessas comunidades aparece na hora de fazer o negócio crescer.

“Muitos empreendedores nas comunidades desenvolvem produtos superbacanas, mas pensam: ‘Vou abrir uma loja’. Só que é muito caro abrir uma loja, tem um custo muito alto. Essa coisa de crescer, dar escala, é um desafio, fazer isso sair dos muros da própria comunidade ou expandir para outras comunidades.”

Mas as comunidades parecem estar prontas para o desafio. “Essa parceria que houve aqui deve ir para a Rocinha, depois Paraisópolis, e para todo o resto do Brasil também”, sugere Andre Luis Silva, representante da Unas.

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