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TNW tem segunda edição no Brasil

Em entrevista ao Link, fundadores do evento falam sobre as novidades para o evento deste ano e analisam o mercado de startups

Por Ligia Aguilhar
Atualização:

Em entrevista ao Link, fundadores do evento falam sobre as novidades para a edição deste ano e analisam o mercado de startups do País

 

SÃO PAULO – Começa nesta quarta-feira, 28, em São Paulo, a segunda edição da a conferência The Next Web (TNW) para a América Latina, um dos principais eventos de tecnologia do mundo, com edições anuais na Europa e nos Estados Unidos. O evento, que vai até quinta-feira, 29, terá um concurso de startups e 24 palestrantes , entre os quais estão nomes reconhecidos do mercado de tecnologia internacional como Luis von Ahn, criador do Duolingo, e Gary Shapiro, da feira CES, de lançamentos eletrônicos. “Nós quisemos trazer pessoas que possam acrescentar algo que as empresas brasileiras participantes não conseguiriam obter com seus contatos locais”, diz o holandês Patrick de Laive, um dos fundadores do evento.

 

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Foi por insistência de dois empreendedores brasileiros que Patrick e seu sócio, Boris Veldhuijzen van Zanten, trouxeram no ano passado para o Brasil a conferência TNW. “Eu sabia que era um País legal e que estava crescendo. Quando chegamos aqui tudo fez sentido. Levou menos de um dia para decidir que voltaríamos este ano”, diz Patrick. Empreendedores em série, os dois criaram o evento há sete anos anos, quando o mercado de startups europeu ainda era incipiente e eventos relevantes do gênero eram realizados apenas nos Estados Unidos.

No ano passado, o TNW movimentou US$ 7 milhões e teve 600 participantes. Para este ano são esperados 800. Em entrevista ao Link, os fundadores falaram sobre as novidades para a edição deste ano e sua impressões sobre o mercado de tecnologia local.

Por que o TNW se tornou um evento tão grande, já que há várias conferências semelhantes no mundo e no Brasil?Patrick de Laive: Quando começamos, as empresas da internet achavam que poderiam fazer tudo online. Mas as pessoas ainda querem olhar os outros nos olhos ao fazer negócios. As regras para fazer negócios são iguais ao redor do mundo, a maioria dos lugares tem as mesmas questões e problemas, por isso você consegue aprender muito com pessoas de outros países. E o que nos diferencia é ter muitos convidados estrangeiros.

O que o evento deste ano terá de diferente?Patrick: Focamos em assuntos mais educacionais sobre como criar uma empresa e informações úteis para quem já trabalha online. Um dos convidados, o Gary Shapiro, CEO da CES, já trabalhou com Bill Gates e Steve Jobs. Nós quisemos trazer pessoas que possam acrescentar algo que as empresas brasileiras participantes não conseguiriam obter com os seus contatos locais. Nós temos palestrantes que vão falar sobre como os negócios funcionam em vez de focar no que vai acontecer no futuro. O futuro é inspirador, mas você não volta para a sua casa depois da conferência pensando no que vai fazer daqui a cinco anos. Você quer chegar e ver uma forma de aplicar o dinheiro investido no dia seguinte.

O que vocês acham do mercado de startups que se formou no Brasil?Patrick: É uma cena nova. A legislação brasileira torna muito difícil começar sua própria empresa, por isso não vemos um número maior de pequenos negócios surgindo. Há muitas pessoas apaixonadas e aprendendo rápido a empreender, mas também vemos alguns comportamentos, digamos, oportunistas. Mas isso acontece em todo lugar e não é necessariamente ruim. Porque todo mundo pode aprender com seus erros. Há também uma grande discussão sobre o tipo de investimento feito. Há muitas empresas recebendo aportes de US$ 100 mil a US$ 200 mil. Elas gastam esse dinheiro ao longo de um ano e depois entram em um estágio zumbi, onde não sabem mais se são ou não um negócio porque não conseguem mais dinheiro para continuar.

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O que você quer dizer quando diz que alguns empreendedores têm comportamento oportunista?Patrick: Muita gente acha que negócios na internet são muito fáceis. Que basta abrir uma loja, colocar na internet e assistir o dinheiro entrar. Não é assim. A internet é o maior mercado, mas também o mais competitivo. Enquanto você acha que tem uma boa ideia, provavelmente há 1 milhão de outras pessoas trabalhando no mesmo conceito.

Boris Veldhuijzen van Zanten: Havia 17 mil “YouTubes”, segundo uma pesquisa da Accenture, antes de ter o YouTube. As pessoas pensam em criar uma empresa para ganhar seu próprio dinheiro, mas essa é a razão errada para empreender. Você precisa ser apaixonado por trabalhar.

Pelo que vocês disseram anteriormente, há problemas com a forma como os investimentos estão sendo feitos nas startups daqui?Patrick: Com aceleradoras e incubadoras aparecendo em todo lugar, você vê surgir muitas empresas focando em negócios muito pequenos e usando a metodologia Lean (que prevê a criação de protótipos para validar uma ideia, no menor tempo e com o menor gasto dinheiro possível) , tentando validar seu problema rapidamente com US$ 50 mil ou US$ 100 mil. Claro que, frequentemente, a ideia não era o que a pessoa esperava e aí ela precisa pivotar (mudar o modelo de negócio) ou fechar a empresa. Ainda há muito dinheiro circulando nas pequenas ideias, mas não há grandes empresas saindo desses investimentos. E ninguém tem coragem de fechar esses negócios porque é ruim para a reputação dos envolvidos. Por outro lado, você vê empresas como a Baby.com.br, a Oppa e a Boo-Box que estão conseguindo ganhar dinheiro.

Você acha que há algum equívoco por parte dos investidores brasileiros?Patrick: É uma pergunta muito difícil. Eu acho que eles copiam o modelo da Y Combinator e da Techstars (duas aceleradoras de startups renomadas nos Estados Unidos), que funciona bem nos EUA, mas não tanto fora de lá. A razão é que nos EUA há investimento semente, anjo, série A,B,C… Porque o sistema todo está funcionando e as empresas têm mais chances de serem bem-sucedidas, o que é diferente de elas serem rentáveis. Na Europa, você precisa ser rentável para conseguir investimento série A. No Brasil também. Talvez sejam necessários fundos que possam fazer aportes intermediários, de US$ 300 mil, ou aceleradoras que ofereçam um aporte complementar, caso a startup atinja uma determinada meta, para dar mais tempo para os empreendedores provarem seus negócios.

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Dizem que não há investidores no Brasil para apostar em um Facebook local…Bóris: Isso é verdade. Mas é algo fácil de resolver. O que vocês precisam é de mais casos de sucesso. Se você tiver alguns, as pessoas que ficarem ricas com isso começam a investir em outras startups. É um processo lento. Ou você precisa de uma crise financeira, o que também ajuda e torna mais atraente investir em startups do que manter o dinheiro no banco.

Patrick: Eu não espero que o próximo Facebook ou Google venha de fora dos EUA. Se o Yahoo oferecesse US$ 750 milhões por uma empresa do Brasil ou da Europa, a oferta teria sido aceita. E para criar uma empresa de US$ 1 bilhão como o Facebook é necessário dizer não para umas 50 ofertas de aquisição. E isso leva tempo para acontecer. Não se constrói um Vale do Silício do dia para a noite.

O que mudou na percepção de vocês sobre o Brasil depois de virem para cá?Bóris: Ficamos surpresos em ver como os brasileiros são ambiciosos. E como aumentou o número de usuários da internet. O crescimento daqui não pode ser comparado ao de nenhum outro lugar do mundo.

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Patrick: Outra coisa que eu não esperava é que fosse ser tão caro. Este ano os preços no País estão mais altos do que no ano passado. E isso é algo com o qual eu me preocupo no longo prazo. As pessoas aqui fazem tudo baseadas no crédito, o que significa que se elas forem demitidas vão perder tudo. São Paulo é mais cara que Nova York. Todo mundo diz no exterior que o Brasil é acessível. Mas na verdade é muito caro. Os salários aqui são maiores do que os dos países europeus. Se paga US$ 3,50 por um café. Eu me pergunto como isso funciona de um ponto de vista macroeconômico.

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