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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Trabalhar em casa pelo coronavírus

Nas próximas semanas e meses, por conta desta nova cepa de coronavírus que assumiu as rédeas do mundo, muitos passarão pela primeira vez por esta experiência

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Confira dicas para fazer home office Foto: Pixabay

Há já uns cinco anos, trabalho principalmente entre casa e aeroportos. A tecnologia facilita em muito a colaboração para quem escolhe o home office, com uma grande quantidade de softwares gratuitos para cada função. WhatsApp e o excelente Slack servem para a comunicação cotidiana, sempre uma janela aberta para que as conversas necessárias fluam de tarefa em tarefa. Hangouts, Skype e FaceTime resolvem quando é necessário olhar no olho e ter uma conversa mais longa. Nas próximas semanas e meses, por conta desta nova cepa de coronavírus que assumiu as rédeas do mundo, muitos passarão pela primeira vez por esta experiência. É bom. Mas não é fácil.

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A primeira coisa que se aprende é que estabelecer uma rotina com horários é fundamental. Há alguns motivos para isso. Os dois mais óbvios são, um, que a procrastinação é tentadora. O outro é exatamente o oposto — há risco de não parar de trabalhar nunca. E isto nem depende de pessoa a pessoa, todos estão expostos às mesmas dificuldades.

A TV está ali ao lado, há um livro empolgante pela metade na cabeceira, para não falar das redes sociais. As tentações para trabalhar daqui a pouco são inúmeras. Afinal, não há ninguém por perto para cobrar. Por outro lado, tantas ferramentas de comunicação 24 por 7 podem provocar que as demandas não parem nunca e uma tarefa vai empilhando na outra, causando exaustão e indisciplina, com toda sorte de coisas feitas pela metade.

Rotina também é importante para deixar claro para filhos, mulheres e maridos que, embora você esteja logo ali e portanto aparentemente disponível para tirar o lixo ou dar um pulinho na farmácia, não pode. Uma das coisas que a gente aprende rápido é que interrupções custam caro em tempo. Pare para responder a uma pergunta e aqueles três minutos de diálogo, quando retornamos ao monitor, exigem uma releitura do parágrafo escrito, uma nova consulta àquele email, um reconcentrar-se que leva fácil quinze ou vinte minutos.

Porque um dos maiores desafios para trabalhar em casa é justamente este: o ritual da concentração. No escritório, todos temos rituais. Nem percebemos, por vezes, mas os temos. E estes rituais, os pequenos atos repetitivos, nos embalam em direção ao trabalho. Em casa não é igual.

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Alguns sentem a necessidade de acordar, tomar banho, botar roupa de trabalho. Para estes, bermudas os tiram do clima. Pode ser. Outros gostam de marcar tempos. Uma hora e meia de trabalho constante, meia hora para levantar, checar as redes, se distrair, e aí retorna o ciclo. Também pode ser. Para cada pessoa, a maneira de se organizar é uma. O importante é que, de casa, é preciso criar um clima de como é o momento do trabalho e como é o momento de interromper.

Para home offices permanentes, o que não é o caso de quem ficará um tempo em casa por conta da pandemia, uma boa mesa, na altura certa, e principalmente uma boa cadeira, assim como conexão rápida à internet, são fundamentais. E este pode se tornar um gargalo. Na Itália, já há pontos onde pessoas estão reclamando de lentidão. É que a banda larga residencial e a cooperativa são redes paralelas. O cálculo que se faz para quarteirões residenciais parte do pressuposto de que, boa parte do dia, a internet será pouco usada. Com todo mundo em casa, o estresse do sistema está derrubando a produção.

Dois últimos pontos. Comer é tentador. A toda hora. Não engorde. E segundo: você logo estará se comunicando com todos por texto e só por texto. Isto dá uma sensação de isolamento e produz atritos. Nós humanos damos informação emocional pela voz e rosto. Não fique no mal-entendido nunca. E ritualize, também, os momentos de se encontrar com pessoas. A não ser que esteja doente.

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