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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Um baseado na cara de Sergio Moro

Até o momento, é possível ver um tipo de campanha política digital de melhor qualidade do que a de 2018

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Ex-ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro criticou a visita do presidente à Rússia. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A cena é surpreendente. Na última segunda-feira, 24, durante uma transmissão de quatro horas, o ex-ministro Sérgio Moro falava sobre a possibilidade de um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) quando um dos dois entrevistadores começou a tossir. Quem conhece Monark, um dos âncoras do Flow, sabe exatamente o que ele estava fazendo. Mas, caso alguém tivesse dúvida, o editor na mesa de corte decidiu realçar. Por três segundos, cortou a câmera de Moro para a de Monark justamente na hora em que ele pegava o isqueiro sobre a mesa para reacender seu baseado, àquela altura já queimado para além da metade. O ex-ministro da Justiça seguiu falando sobre o que achava de Bolsonaro e Lula.

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Os candidatos estão conversando direto com os eleitores via podcasts, vídeo ou ambos, para audiências que às vezes se contam na casa dos poucos milhares, noutras para lá dos milhões. É um tipo de campanha digital de melhor qualidade do que a de 2018, empesteada de mentiras e ancorada nos perfis falsos das redes sociais.

Nos dias seguintes à entrevista de Moro ao Flow, Ciro Gomes (PDT), levou ao ar um react em seu canal do YouTube. Um react, na linguagem da internet, é a transmissão ao vivo da reação de alguém a outro vídeo. Abrem-se duas telas, toca um trecho de Moro no Flow, dá-se uma pausa, Ciro comenta e por aí vai. 

Enquanto isso, Lula segue fugindo da grande imprensa, onde estão os jornalistas mais preparados politicamente. São eles que fariam as perguntas que, enquanto der, ele não deseja ser obrigado a responder. Mas além de entrevistas para as rádios do interior ou para sua imprensa de propaganda, ele também vem falando com programas realmente independentes, como o Podpah e o Mano a Mano, do rapper Mano Brown.

É neste cenário de programas em áudio e vídeo que a maioria das manifestações dos políticos está ocorrendo. Mano Brown pode ser simpático a Lula, mas também cobra. Sua lealdade está com quem o ouve, a juventude empobrecida das franjas das grandes cidades. Monark e Igor, do Flow, são gamers com reflexões sobre política bastante superficiais. Mas a maioria das conversas sobre política, no Brasil, são assim. Os dois fazem algo que nós da imprensa não conseguimos. Botam o candidato na sala de estar do cidadão médio, batendo papo.

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Bolsonaro e Lula seguem escapando das perguntas realmente difíceis, Moro e Ciro estão na disputa árdua para cruzar os dez pontos e chegar ao quinze que os tornaria competitivos, João Doria deve estar distraído. E há algo de diferente acontecendo. Até aqui, esta campanha digital está sendo marcada por debate, ainda que superficial. É um ganho.

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