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Um pirata brasileiro no Reichstag

‘Mate hacker’ e mestre cervejeiro, gaúcho membro do Partido Pirata é candidato ao Parlamento alemão

Por Tatiana Mello Dias
Atualização:

‘Mate hacker’ e mestre cervejeiro, gaúcho membro do Partido Pirata é candidato ao Parlamento alemão

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SÃO PAULO – Desde que estampou uma página inteira no Link, no final de 2011, o brasileiro radicado em Berlim Fabrício do Canto adota o apelido “O infiltrado” – o título da reportagem. Naquela época, Canto comemorava sua participação no Partido Pirata alemão, que havia conseguido uma vitória inédita abocanhando 9% dos votos nas eleições estaduais em Berlim.

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Ex-punk e ex-diretor de multinacional, Fabrício do Canto largou a profissão para passar alguns anos em um retiro “sabático-nômade”. Casou com uma indiana e vive em Berlim com seus três filhos trilíngues – cada um deles tem quatro passaportes. O nome “O infiltrado” veio a calhar porque Fabrício se define como uma pessoa offline que conseguiu espaço em um partido totalmente voltado para a internet – embora agora os piratas abracem também outras causas, como o direito a voto pelas minorias e passagens de ônibus gratuitas.

 Foto: Estadão

Hoje, Fabrício do Canto tem uma empresa que comercializa erva-mate em Berlim – a Meta Mate – e recentemente lançou uma cerveja cuja fórmula é licenciada em Creative Commons, licença livre criada para compartilhar conteúdo na web. Mas sua trajetória política não foi deixada de lado – pelo contrário. Na semana passada, o brasileiro comemorou: ele é o mais novo candidato do Partido Pirata ao Parlamento Alemão.

Você adotou o apelido ‘infiltrado’. É assim que você se sente? Não na Alemanha, mas me sentia no Partido Pirata, pois não sou um nerd de computadores. Sou offline, mas agora não me sinto mais, pois fui muito bem aceito com meu mate hacker.

O que mudou desde 2011, quando o Partido Pirata ganhou uma boa porcentagem das cadeiras parlamentares em Berlim? Muito. Agora têm muitos piratas nos parlamentos estaduais. Cometemos muitos erros, mas também demos algumas contribuições significativas para a política. Todos os partidos estão copiando agora a nossa proposta de democracia líquida (vertente da democracia direta em que os representantes são eleitos orientados por uma questão específica, e não por um determinado tempo).

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O Partido Pirata tem condições de conseguir um bom resultado nas eleições nacionais? Um bom resultado seria passar dos 5% para entrar. Acho que temos condições sim, principalmente em Berlim podemos estar acima dos 10%, o que ajudará a equilibrar com os estados menos esclarecidos sobre a importância de votar e se ter uma alternativa entre a direita e a esquerda.

Por que decidiu se candidatar ao Parlamento Alemão? Eu me engajo por liberdade e diversidade no Partido Pirata e quero fazer isso mais intensivamente. Eu desejo que as pessoas normais finalmente sejam atingidas e possam tomar decisões na politica.

O Partido Pirata tem outros candidatos? Sim, o sistema é distrital. O distrito de Pankow em Berlim, onde moro, tem 400 mil habitantes. Sou o único candidato direto lá.

O Partido Pirata surgiu para lutar por causas relacionadas à internet, mas aumentou o seu escopo. Quais são as principais bandeiras? Na Alemanha o foco era nas questões da internet, mas o resultado positivo em 2011 foi justificado por um programa que considerou todas as áreas da sociedade. Participação, transparência e democracia líquida estão na frente, mas uma forte importância dos direitos humanos frente aos poderes econômicos e financeiros seria a bandeira mais forte no momento devido à crise financeira europeia.

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Quais são os países do mundo em que o Partido Pirata tem mais chances, na sua opinião? Todos, não tem a ver se o nome é Partido Pirata. O que acontece na Islândia é parte de uma mesma reação a uma política ultrapassada. (Na Islândia, a Constituição do país foi redigida e discutida colaborativamente pelos cidadãos na internet.) Não precisa ser vinculado ao Partido Pirata. Pode ter outros nomes. O importante é mudar a forma de fazer política. Você acha possível uma outra forma de democracia que levasse em conta, por exemplo, o engajamento na internet? Não só possível como necessário, especialmente para se dar voz às minorias.

Quais são as suas bandeiras pessoais? É verdade que você tem uma proposta para dar voz política às crianças? Direito a voz para aqueles afetados por uma situação. Por exemplo, na decisão alemã sobre o apoio financeiro à construção de Angra 3, queremos ouvir as vozes dos brasileiros a respeito. Na venda de turbinas alemãs para hidrelétricas do Brasil, queremos saber se os direitos humanos das nações indígenas estão sendo respeitados, e assim por diante. Em relação às crianças, para quem queremos sustentabilidade? Se for para as crianças, que elas possam decidir junto quais recursos usaremos e para quê.

—-Leia mais:Link no papel – 1/4/2013

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