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Nova York se estabelece como segundo polo tecnológico dos EUA e começa a fazer frente ao tradicional Vale do Silício

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Por Filipe Serrano
Atualização:

O ar da metrópole combina com redes sociais? Nova York se estabelece como segundo polo tecnológico dos EUA e começa a fazer frente ao tradicional Vale do Silício

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SÃO PAULO - O título de berço de empresas de tecnologia não é mais exclusivo do Vale do Silício, na Califórnia. Longe das universidades de onde saíram fundadores de empresas como Google e Facebook, Nova York – já conhecida pelo enorme poder financeiro, cultural e midiático – agora se torna também um centro tecnológico.

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A cidade já é a terceira região nos EUA que mais recebe investimentos de risco – os chamados fundos de venture capital, que financiam principalmente empresas de internet e tecnologia. E o posto já rendeu à cidade de 19,3 milhões de habitantes o apelido de Silicon Alley (Beco do Silício), em referência ao Silicon Valley (Vale do Silício) e aos becos nova-iorquinos.

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No primeiro semestre, empresas da região metropolitana de Nova York receberam US$ 1,23 bilhão (R$ 2,13 bilhões) em investimentos de risco. Esse fluxo de dinheiro é maior do que a metade das aplicações durante todo o ano de 2010 (US$ 1,995 bilhão), de acordo com os dados registrados pela Associação Nacional de Capital de Risco dos EUA.

O quarto maior investimento deste ano no país, por exemplo, foi para uma empresa de Nova York. O Gilt Groupe, que começou como um clube de compras de peças de grife e hoje tem outros sites comércio eletrônico, recebeu em maio US$ 138 milhões para expandir o serviço.

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Assim como o Gilt, outras novas empresas de internet fundadas na cidade também buscam expansão dentro e fora dos EUA.

O Foursquare, uma das principais startups a investir em mobilidade, localização e em aspectos sociais da internet, lançou neste mês versões em mais cinco idiomas além dois seis em que já estava disponível, incluindo o português.

São 10 milhões de usuários, que compartilham os lugares onde estão e dão dicas sobre eles. Metade das pessoas que usam o Foursquare são de fora dos EUA e esse é um dos motivos para a rede estar se preparando para abrir um escritório em Londres, de acordo com o vice-presidente de mobilidade e internacional, Holger Luedorf, que espera um dia fazer o mesmo no Brasil.

“Não divulgamos o número de usuários por países, mas o Brasil está entre os cinco países que mais utilizam a rede”, disse ao Link. “Os brasileiros são usuários pesados de redes sociais, e essas empresas estão se dando bem no Brasil. Por enquanto trabalhamos com as empresas brasileiras a partir de Nova York ou São Francisco, mas com o tempo isso pode não ser mais suficiente para lidar e aí seria o momento de ter alguém no Brasil.”

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O executivo, alemão, mora no Vale do Silício e viaja a Nova York uma vez por semana. Por isso, conhece as diferenças entre as das duas regiões. “A atmosfera de Nova York é mais vibrante. A comunidade é muito menor e você pode dizer que as pessoas se conhecem mais e melhor, não há tantas startups como no Vale do Silício”, diz. “E uma empresa como o Foursquare estava quase que destinada a aparecer em Nova York, porque é uma região muito mais urbana. O Vale do Silício é mais espalhado.”

Outra empresa que se beneficia das características de Nova York é o site Buzzfeed. Criado em 2008, ele tem entre os cofundadores, Jonah Peretti, o CEO do site. Peretti, que também está entre os criadores do Huffington Post, se dedicou a estudar como o conteúdo produzido para a internet é distribuído na rede e quais são as características sociais dessa interação. O Buzzfeed faz isso, reúne o que há de mais popular e recente na internet.

“Nova York é o melhor lugar no mundo para fazer uma startup dedicada a mídia, propaganda, comércio ou finanças. A peça central para romper com essas indústrias são as novas tecnologias”, disse Peretti, que afirma que o próximo passo é criar versões traduzidas do site em cinco línguas – o português é uma das possibilidades. “Estamos tentando decidir qual faz mais sentido.”

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Para ele, não há mais diferença entre “cultura da web” e “cultura pop”. “Se algo acontece na mídia de massa, a internet responde com criatividade, a mídia de massa dá a notícia e assim vai. A ideia da web como novidade finalmente acabou e o ciclo está completo”, afirma.

Divisão. Há quem discorde da visão de que as startups nova-iorquinas estejam focadas apenas em aspectos menos tecnológicos, em comparação com o Vale do Silício. Chris Wiggins, professor da Universidade Columbia e um dos criadores da incubadora HackNY, afirma que também há muitas empresas de alta tecnologia na cidade menos conhecidas.

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Quem também afirma que não há uma definição clara para diferenciar as empresas de uma região ou de outra é Katryn Fink, líder de comunidades da plataforma de organização de encontros MeetUp. A startup também é de Nova York e tem um importante papel no incentivo de novos negócios da cidade. “Não estou convencida que existe uma divisão tão clara. Há tantas startups mais tecnológicas aqui quanto há empresas mais ‘sociais’ no Vale”, disse.

De qualquer maneira, a cidade está atraindo investidores e novas ideias e não quer perder esse bom momento. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, é um dos maiores entusiastas da tecnologia. Ele promoveu o Dia do Foursquare em abril e recentemente revelou um plano para criar um grande câmpus universitário de tecnologia na cidade, oferecendo o terreno e investimentos de US$ 100 milhões em infraestrutura a universidades ou grupos interessados.

A prefeitura começou a receber as propostas em julho, e grandes universidades, como Stanford e Cornell, entre outras, mostraram interesse em desenvolver o projeto. “O novo câmpus vai nos ajudar a chegar ao nosso objetivo final – retomar o nosso título de capital mundial da inovação tecnológica”, disse Bloomberg na época, segundo a agência Associated Press.

—-Leia mais: • Link no papel – 19/09/2011 • Boa oportunidade para brasileirosEntrevista: Nova York vive período de inovação após a criseAnálise: A corrida para criar o novo Vale do Silício

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