PUBLICIDADE

VÍDEO: 'Watch Dogs' não é ficção científica; diz diretor do game

Game que chega às lojas do País na terça-feira, 27, tem segurança e privacidade na rede como temas principais

Por Bruno Capelas
Atualização:

LOGIN | Thomas Geffroyd, diretor de conteúdo de Watch Dogs

SÃO PAULO – “Você não vai olhar para o seu smartphone do mesmo jeito depois de jogar Watch Dogs”. A frase do produtor Thomas Geffroyd pode ter um tanto de marketing, mas soa forte para pensar no impacto do game que chega às lojas do País na terça-feira, 27. Desenvolvido desde 2009, Watch Dogs é um dos games mais esperados da temporada por sua proposta provocadora, ao colocar o jogador na pele de um hacker, que pode alterar o trânsito da cidade e invadir dados privados de qualquer pessoa só com o seu smartphone.

 Foto:

PUBLICIDADE

Descrito pela imprensa especializada como “o jogo perfeito para um mundo pós-Edward Snowden”, Watch Dogs está disponível para PlayStation 3 e 4, Xbox 360 e Xbox One e também para PCs. O diretor de conteúdo Thomas Geffroyd veio ao país no início de maio para promover o game junto à imprensa, e bateu um papo com o Link sobre segurança na rede, Edward Snowden, vigilância, cultura hacker e também sobre o futuro dos games

Como foi colocar um hacker como protagonista de um game? Quando começamos a pensar em Watch Dogs, queríamos que a cidade fosse não só um cenário, mas sim uma parte importante da jogabilidade. Foi aí que nós descobrimos as cidades inteligentes, uma grande tendência da tecnologia, que conectam tudo através do equipamento urbano. A partir daí, ter um hacker como personagem nos pareceu uma ótima ideia. Estudamos durante três anos a comunidade hacker, e todas as invasões que estão no jogo podem ser feitas na vida real, não há ficção científica. Além disso, tentamos fazer o contrário do que a mídia faz, mostrando hackers como boas pessoas. Há muitos deles que descobrem falhas de seguranças importantíssimas, e eles são pessoas inteligentíssimas. Steve Jobs e Steve Wozniak, da Apple, hackeavam linhas de telefone. O Facebook usa uma abordagem hacker para lidar com sua base de informações: “não me importa se é elegante ou não, me importa que funcione!”.

O protagonista Aiden Pearce é um herói ou um anti-herói? Ele é um humano: nem herói, nem anti-herói, mas o que os jogadores quiserem que ele seja, porque temos uma jogabilidade aberta. Aiden é movido pela vingança, algo que oferece um contraste ao mundo tecnológico no qual ele vive. É brega, eu sei, mas vamos lá: gamers, experimentem o poder que o personagem te dá. Pense nos dados que ele pode acessar, e no que ele pode fazer com esses dados. Depois de mais de uma década, ficamos cada vez mais cercados por tecnologia, câmeras e segurança (ou a falta dela). Watch Dogs é um jogo sobre como isso é importante para nós.

Existe a intenção de ensinar sobre a importância da segurança na tecnologia? Talvez nem quiséssemos ensinar, mas sim mostrar aos jogadores o que acontece após esses dez anos. Não estamos dando respostas. Amamos tecnologia, amamos progresso, mas, no final das contas, só estamos coletando cada vez mais dados. É hora de dizer: precisamos discutir o que estamos fazendo enquanto sociedade. O que vamos fazer com todos esses dados? E se alguém com intenções ruins quiser utilizá-los? Outro clichê, mas tudo bem: a tecnologia não é boa nem ruim, são as pessoas que decidem o que fazer com ela. Watch Dogs quer ser um jogo divertido, mas estamos tentando fazer com que os jogadores pensem sobre isso. Você não vai olhar para o seu smartphone do mesmo jeito depois de jogar Watch Dogs.

 Foto:

O game começou a ser feito em 2009, bem antes das revelações de Snowden. Qual foi a sensação ao saber do escândalo? Quando as revelações de Snowden vieram à tona, tudo o que nós pensamos foi “Yeah!”. Não por que ajudaria no marketing, mas porque era como se alguém nos desse um tapinha no ombro, dizendo que estávamos no caminho certo com a pesquisa e o desenvolvimento do jogo.

Publicidade

Algumas críticas dizem que Watch Dogs perturba por ser próximo ao real. Foi intencional? Sim. Acho que o que queremos é mostrar que não basta só se preocupar com o Google oferecendo propaganda ou com a NSA olhando seus emails, mas que isso acontece todos os dias, e muita gente nem se preocupa com isso. Dizer que “não tenho nada a esconder” é uma atitude estúpida. Acho que temos potencial para conscientizar mais gente, melhor do que uma série de notícias dizendo que a NSA está olhando meus emails. Aceito os termos e condições de qualquer site, de maneira que eu me recuso a saber para quem eles estão mandando meus dados. Ou seja, se as pessoas ficarem chocadas com o jogo, é porque elas precisam ficar chocadas com a vida real delas.

 Foto:

De que maneira as histórias poderão ser contadas nos videogames no futuro? Temos visto muitos experimentos, especialmente na cena independente. É o caso de Gone Home, um verdadeiro soco na cara quando eu o joguei. Há muito acontecendo, mas existem tipos diferentes de games. Como somos blockbusters, temos de tentar atrair o máximo de pessoas que pudermos. Mas, não sei… eu gosto de que me contem boas histórias, porque para mim, games são apenas uma versão moderna de se sentar ao redor de uma fogueira e ouvir alguém contando alguma coisa. É difícil para nós correr riscos, ou pensar só em 80% dos gamers. Precisamos de 100% deles.

Games faturam tanto quanto cinema e TV, mas não tem a mesma estima por todas as pessoas. Isso vai acontecer um dia? Garanto que sim, e por uma razão simples: pessoas velhas morrem. É um choque de gerações. A minha geração cresceu jogando games, e eu não pretendo parar de jogar. Vou jogar quando tiver 50, 60, 70 anos. E isso só para os consoles: games casuais, em celulares e tablets, atingem gente de todas as idades, especialmente porque não tem controles complicados. Quando comecei a jogar, os controles tinham um botão só. Hoje, além de ter luzes e emitir sons, eles tem muitos botões, vários controles direcionais, gatilhos. É assustador! O Wii foi um sucesso porque era simples: bastava ficar balançando um bastão em frente à TV para dar tudo certo. É uma questão de tempo. Vale lembrar: o primeiro filme exibido em Paris era a viagem de um trem, e as pessoas saíram correndo da sala achando que iam ser atropeladas. Com os games é a mesma coisa. É uma indústria que está mudando, mas também está se expandindo cada vez mais, e estou extasiado de fazer parte disso.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.