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Vigiar ou sumir

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:

Com o aumento do uso da web por grupos extremistas, Twitter e Facebook têm de se posicionar sobre o que é postado

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SÃO PAULO – No início do mês passado, al-Shabaab, grupo radical da Somália ligado à rede terrorista Al Qaeda, publicou uma mensagem crítica em sua nova conta no Twitter: “A liberdade de expressão é apenas uma retórica sem significado. Vida longa, @HSMPress! Você pode ter acabado, mas o seu legado permanece”.

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No final de janeiro, a rede social suspendeu a antiga conta do al-Shabaab, que tinha mais de 20 mil seguidores, após o grupo twittar fotos de um francês executado e um vídeo no qual ameaçava matar reféns quenianos.

Soldado queniano servindo na Somália se depara com a bandeira do grupo radical al-Shabaab em aeroporto. FOTO: REUTERS Foto:

Dias depois, no entanto, o grupo criou uma nova conta – um padrão que tem se tornado cada vez mais recorrente. Um caso similar aconteceu em dezembro no Paquistão. O Facebook removeu a conta do grupo Umar Media, ligado ao Taleban. Duas semanas depois, uma nova conta apareceu com o mesmo nome.

“O caso do al-Shabaab destaca as dificuldades para policiar essa prática, já que é tão fácil criar contas novas”, aponta Aaron Zelin, especialista que recentemente lançou o estudo “The State of Global Jihad Online (O estado da Jihad global online). A pesquisa aborda o uso da internet por grupos que têm como valor a “guerra santa”, genericamente considerada terrorismo, mas que pode ou não ter luta armada.

A discussão polariza governos que desejam que os provedores de conteúdo excluam esses grupos de suas plataformas e ativistas que exigem mais transparência em relação aos critérios utilizados por essas redes sociais para a suspensão de contas.

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#Jihad. De acordo com a pesquisa de Zelin, o modo como grupos jihadistas usam a internet tem mudado. A passagem para os anos 2000 foi marcada pela popularização de fóruns de discussão – antes a informação ficava centralizada em sites.

No entanto, apesar de ainda serem a plataforma dominante neste meio hoje, os fóruns, muitas vezes restritos, vêm gradativamente dando lugar às mídias sociais para disseminar suas ideias – sobretudo o Facebook e o Twitter. Nelas, os membros compartilham notícias, artigos, fotos e vídeos refentes à sua causa.

O Twitter tem se mostrado o mais popular entre as mídias sociais escolhidas por ser uma ferramenta útil para divulgar eventos em progresso. Além disso, oferece a possibilidade do uso de hashtags, como a #JihadDispatches, usada pelo grupo al-Shabaab, para expandir sua audiência entre usuários do site.

Há porém um grande fator limitante: a língua. O idioma é uma barreira não apenas para o estudo de fóruns e contas jihadistas, mas para a análise de conteúdo por parte das plataformas. Al-Shabaab, por exemplo, tinha contas em três línguas: “A questão é: eles suspenderam a conta em inglês; não a em árabe ou em somali, mesmo que todas tenham dito exatamente as mesmas coisas”, diz Zelin.

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Uma semana após a suspensão da conta do al-Shabaab, Sarah Kendzior, antropóloga que pesquisa Estados autoritários e escreve para a publicação Al Jazeera, twittou em inglês sobre a Islamic Jihad Union, um outro grupo radical. Originário do Uzbequistão, o grupo twittava apenas em uzbeque e estava na rede social há mais de um mês.

“Não havia ameaças ou imagens nos tweets; mas, cinco minutos depois do meu tweet, a conta deles foi suspensa”, disse. Uma hora depois, o grupo criou uma segunda conta, e Sarah twittou sobre ela novamente – mais uma vez, a conta foi suspensa.

Procurado pela antropóloga, o Twitter afirmou que “não comenta casos individuais por questões de privacidade e segurança”. A empresa também disse ao Link que não fala sobre o caso.

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Para Sarah, a rede social não tem se mostrado transparente quanto aos seus critérios, uma vez que suspende alguns grupos e outros não. As contas no Twitter do Taleban e do Hezbollah, por exemplo, se mantêm ativas, assim como o grupo sírio Jabhat al-Nusra, ligado à Al Qaeda e que tem mais de 37 mil seguidores.

“Creio que as suspensões podem ser positivas em alguns casos, mas mantê-las também é importante para rastrear esses grupos, entender o que pensam, ver o que estão dizendo”, diz Zelin.

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Para Jillian York, da organização Eletronic Frontier Foundation, as empresas só deveriam remover conteúdo mediante pedido judicial, para não ficarem reféns de suas próprias interpretações. “Nossa visão é que a melhor resposta a um discurso é mais discurso, não censura.”

Sarah Kendzior aponta a necessidade de políticas mais claras nas redes sociais. “Como é importante para discursos controversos, a rede social deve ser o mais transparente possível e justificar as suspensões, uma vez que o terrorismo é um assunto de segurança pública e, portanto, de debate público”, diz.

—-Leia mais:Entrevista: Tweets ajudam investigação• Link no papel – 18/3/2013 

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