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Pela internet, foi programado para sábado um manifesto global a partir do mote do OccupyWallStreet, protesto que tomou, há mais de um mês, parque em Nova York

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Por Redação Link
Atualização:

Pela internet, foi programado para sábado um manifesto global a partir do mote do OccupyWallStreet, protesto que tomou, há mais de um mês, parque em Nova York

Por Ben Berkowitz/REUTERS

 

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Nos Estados Unidos, em 2011, aquilo que se passa por revolução é um emaranhado de fios, réguas de tomadas, roteadores e geradores a gasolina abrigados sob uma tenda montada no centro de um parque.

Essa bagunça terrivelmente inflamável está no centro – literal e metafórico – do movimento Occupy Wall Street. Os manifestantes que têm levado o caos ao sul de Manhattan desde meados de setembro reuniram os meios para fazer ouvir a sua mensagem.

O Occupy Wall Street é um movimento, mas é também uma hashtag do Twitter, uma página do Facebook e um evento do Livestream, o que significa que o protesto não precisa nem mesmo de um lar físico.

De acordo com uma estimativa calculada na manhã de terça-feira, eventos relacionados ao Occupy estavam ocorrendo em 147 cidades. E boa parte disto é resultado do uso das mídias sociais no recrutamento dos jovens e dos mais familiarizados com a tecnologia.

“O Occupy Wall Street é uma revolta da hashtag”, disse Jeff Jarvis, professor de jornalismo da Universidade Municipal de Nova Yorke e autor do blog BuzzMachine, num post recente.

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“Uma hashtag não tem dono, nem hierarquia, nem cânones e nem credos. Trata-se de uma folha em branco na qual todos podem expressar suas frustrações, queixas, exigências, desejos e princípios.”

Numa fria e cinzenta manhã de terça feira, na qual a chuva parecia iminente e muitos dos manifestantes se amontoavam meio adormecidos no chão, eram muitos os sutis sinais da influência da tecnologia, como hashtags do Twitter em mapas impressos, previsões meteorológicas para os próximos cinco dias sob a forma de status boards e um núcleo de voluntários experientes nos computadores.

Independentemente do nome escolhido para descrevê-lo – data center, hub de mídia, estúdio de pós-produção – o centro provocaria inveja em muitos departamentos de TI das corporações norte-americanas. Laptops, webcams e celulares disputam o pouco espaço com os maços de cigarros e as xícaras de café (para desespero da “equipe técnica”, sempre preocupada com possíveis respingos). É a anarquia, e as pessoas parecem gostar que as coisas sejam assim.

Claramente, existe certo nível de fragmentação. No Facebook, a página do Occupy Wall Street foi curtida por quase 22 mil pessoas. Mas a página específica do movimento para Boston foi curtida por mais de 9 mil usuários; a de Los Angeles, por mais de 13 mil; a da Filadélfia, por mais de 6.600 deles; e assim por diante. É difícil saber quantos usuários diferentes curtiram as páginas do movimento.

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O perfil oficial do movimento no Twitter, @OccupyWallSt, tinha quase 39 mil seguidores. O canal globalrevolution do Livestream, quase 4 mil espectadores.

No Tumblr, várias páginas trazem a tag dos protestos, seja em fotografias dos cartazes dos manifestantes, em citações de discursos feitos ali (como os de Naomi Klein e de Slavoj Zizek, veja nesta página), ou nas observações pessoais daqueles que foram aos parques, jovens, velhos, famosos, desconhecidos e até turistas. ‘Nós somos 99%’. Em termos de impacto, pouco se equipara ao tumblr “Nós somos os 99%”

 Wearethe99percent.tumblr.com), no qual as pessoas contam suas histórias de sofrimento financeiro, escritas à mão e mostradas à câmera para que o mundo as veja. O site já reúne mais de 600 relatos pessoais. Isso, mais do que qualquer outra coisa, atraiu muita atenção por parte da grande mídia. Ezra Klein, colunista do Washington Post, dedicou na terça-feira uma coluna ao motivo pelo qual o próprio blog justificava a cobertura dos protestos em Wall Street. “Não se trata de queixas contra o sistema. Não se trata de manifestos anarquistas. Não se trata de pedir uma revolução. São apenas pequenas histórias de pessoas que jogaram pelas regras, fizeram aquilo que lhes ensinaram e agora se veem totalmente prejudicadas”, escreveu.

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Em pouco tempo surgiu o “Eu sou o 1%, eu apoio o 99%”Westandwiththe99percent.tumblr.com), em que ricos posam com cartazes em que contam como suas famílias acumularam fortunas e como eles acham isso injusto. Muitos pedem para ser taxados de maneira mais severa.

Indefinidamente. Quase todos no parque têm algum tipo de acesso à web, em geral por meio de smartphones (e o BlackBerry parecia ser o mais popular).

A conexão é garantida por pontos de acesso WiMax, da Clearwire. Se a Clearwire e a Research In Motion, fabricante do BlackBerry, continuarem no mercado, e se o sol brilhar o bastante para carregar os painéis solares , é possível que as manifestações prossigam indefinidamente.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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