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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|WhatsApp faz do Brasil case mundial

Como se mede o tamanho da influência de notícias falsas no voto das pessoas? Não é um problema trivial de resolver. Mas impacto há e esta eleição, brutalmente polarizada como vem sendo, foi marcada por desinformação do início ao fim

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WhatsApp é um dos aplicativos mais populares no Brasil Foto: Thomas White/Reuters

Esta é uma eleição que não cansará de dar surpresas. O tema mais debatido no Twitter, ontem, era #caixa2doBolsonaro. No Google, foi a principal busca relacionada às eleições. Reportagem de Patrícia Campos Mello para a Folha de S. Paulo, acusou empresas - entre elas a Havan - de pagarem pelo disparo de centenas de milhões de mensagens via WhatsApp para a campanha do capitão reformado. Cada contrato chegaria a R$ 12 milhões. Porque as ações não foram declaradas, configuraria doação ilegal, portanto caixa dois. E, assim, a praticamente uma semana do fim, a eleição brasileira se torna case mundial.

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O Facebook foi jogado no centro da polêmica sobre irregularidades em campanha durante as eleições, em 2016, que levaram Donald Trump à Casa Branca. Suas ferramentas de impulsionamento de posts foram utilizadas pela Cambridge Analytica e, muito provavelmente, pelo governo russo para difusão de notícias falsas que podem ter influenciado no resultado final.

Embora tenha inicialmente negado participação, desde então a maior rede social do mundo começou a rever suas práticas. No início desta nossa campanha eleitoral, expurgou perfis e páginas, investiu em checagem, mexeu no algoritmo para conter a difusão. Agiu. Ao que parece, funcionou. O desastre americano não se repetiu no Brasil.

Com o WhatsApp, a história é outra.

Como se mede o tamanho da influência de notícias falsas no voto das pessoas? Não é um problema trivial de resolver. Mas impacto há e esta eleição, brutalmente polarizada como vem sendo, foi marcada por desinformação do início ao fim. E, nisto, a turma do WhatsApp tem total responsabilidade.

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Quando o serviço de mensagens começou a se popularizar, coisa de cinco anos atrás, a imprensa passou a explorá-lo para pedir informações aos leitores, mas também como veículo para distribuição. A iniciativa foi cortada pela raiz. Por alguns motivos. O primeiro é que o WhatsApp é apenas um de dois serviços de mensagens que pertencem ao Facebook. E a empresa de Mark Zuckerberg queria que o Messenger fosse utilizado para este fim, não o Zap. Em segundo porque havia um temor real de que, autorizando a distribuição de informação na plataforma, ela se tornasse sujeita a spam.

A internet é um bicho ainda tão novo que não é possível imaginar as consequências de decisões. Mas WhatsApp é o ambiente digital onde a imprensa não entrou, e isto foi por conta da estratégia corporativa do Facebook. Pois esta decisão, lá de trás, está diretamente ligada à campanha sórdida que marca este pleito brasileiro.

A questão é simples: no digital, o que funciona é o que está à mão. A imprensa não põe seu conteúdo e o distribui para milhões de pessoas no WhatsApp. Porque não pode. Quem põe seu conteúdo no WhatsApp e o distribui para milhões são agências que operam às sombras. Notícias verdadeiras não estão a um encaminhar de distância. Notícias falsas, sim. E aos montes.

O WhatsApp implementou medidas para conter fake news. Diminuiu o número de encaminhamentos autorizados, por exemplo. A turma do marketing obscuro descobriu que, enviando mensagens a partir de números estrangeiros, a regra podia ser burlada, os filtros de spam ignorados. Ou seja: para os profissionais, as medidas foram inócuas.

Tanto PT quanto PDT vão ao Tribunal Superior Eleitoral pedir a impugnação da candidatura do PSL por caixa dois. Ainda não está claro se é possível provar que houve. Jair Bolsonaro limitou-se a declarar que não tem controle sobre a ação de empresas que lhe favorecem. Que a campanha é profissional e atinge grande volume, basta ter olhos para ver.

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E assim nos tornamos case mundial, que será estudado, citado, analisado ao longo dos próximos anos.

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