Wuhzen

Em Wuzhen, a “cidade da água” na China, o World Internet Conference (WIC) teve a segunda edição neste dezembro. O fórum é uma iniciativa do governo chinês com forte colaboração do Cnnic (equivalente chinês ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br) e de ícones tecnológicos como Jack Ma (Alibaba) e Robin Li (Baidu). Visa difundir uma imagem aberta do país.

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Por Demi Getschko
Atualização:

Wuzhen lembra Veneza: há canais por toda a cidade, além de construções muito antigas e uma infinidade de pontes de pedra ou madeira, com diferentes tamanhos. Uma linda cidade e que pareceu-me muito limpa e sem poluição. O fórum instala-se em área específica, fechada e bem grande: um retângulo de cerca de 2 x 1 quilômetros, onde também está um belíssimo e moderno teatro de ópera, contrastando com o cenário. Os cerca de 50 mil habitantes vivem fora desse perímetro. Sede permanente do WIC, A “cidade da água” conta com muita tecnologia, tem Wi-Fi grátis e aberto em toda a área.

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Da chegada ao aeroporto houve completo apoio aos convidados. A cada um foi designada uma voluntária chinesa – uma estudante universitária – que ajudava em todos os contactos locais. Além disso ganhamos telefones celulares pré-pagos para usar a rede e a telefonia local. A presença do presidente Xi Jinping, que proferiu discurso de abertura com elogios às características abertas e inclusivas da Internet, mas enfatizando soberania nacional, governança e segurança, mostra a importância que a China dá ao evento. Todo o ritual da recepção lembrou-me quando adolescente li nas Viagens de Marco Polo sua chegada a Pequim.

A China hoje é uma potência indiscutível, não mais uma fornecedora de mão de obra barata. Minha acompanhante me ajudou no acesso à rede local: bastava entrar no portal do Wi-Fi, dar um número do celular para receber uma senha Fiz a operação com a ajuda dela e, “voilà!”, meu micro estava conectado! Mas…cadê o Twitter, o Gmail, o YouTube e outras aplicações? Nada! O acesso era a uma parte da rede apenas! Neutralidade? Nem passou perto.

Já na abertura, ao conversar com colegas, notei que o acesso deles parecia normal. Como assim? É que junto com o telefone que ganhamos vinha uma senha e ao usar essa senha, o acesso era perfeito. Ou seja, com a senha recebida eu podia passar ao outro lado da “muralha” que restringe a rede para os locais e, agora sim, navegar na Internet normalmente. Se eu não tivesse tentado o acesso convencional, nem teria notado a dualidade, como deve ter ocorrido com muitos convidados.

É difícil entender a transição e o caminho que a China busca, com uma agressiva expansão de empreendimentos tipicamente capitalistas numa estrutura comunista. O Alibaba, por exemplo, o mais valioso sítio de vendas no mundo, não armazena nem um grama de qualquer produto!

Uma nação que acaba de sair do controle de um filho por casal ao mesmo tempo que valoriza aspectos do Ocidente. Ganhei de minha acompanhante um “livro chinês”: um rolo de bambu com ideogramas, com algo de Confúcio. Não parece compatível com a Revolução Cultural de há 50 anos.

Se, por um lado, há um claro culto ao líder, por outro estrangeiros mais idosos são muito bem tratados pelos jovens: ganhei até docinhos de desconhecidas, que queriam tirar fotografias. Como Marco Polo já havia notado, não é um país trivial!

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