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'Youtubers' de game ganham a vida jogando

Fenômeno no site de vídeos, os ‘youtubers’ contam com milhões de fãs e bons cachês

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

SÃO PAULO – É provável que você visite o YouTube ao menos uma vez por dia. E que tenha ao menos um conhecido mais jovem que é fã de um deles. Mesmo assim, é possível que nunca tenha ouvido falar dessas celebridades que unem o universo dos vídeos, do entretenimento e dos jogos eletrônicos. São os chamados “youtubers” de game.

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“Eles são as celebridades do mundo do game”, resume Rodrigo Velloso, brasileiro que atualmente trabalha em Mountain View, na sede do Google, como diretor global de conteúdo de game no YouTube.

“Eu tenho 650 mil pessoas inscritas no meu canal. Vejo um jogo de futebol na TV e tem lá 50 mil pessoas acompanhando. Daí, multiplico o estádio por 13 vezes e tenho então uma ideia do tamanho do meu público”, diz a paulistana Malena Nunes, de 19 anos. “Fico no meu quarto o dia inteiro jogando e gravando e quando saio na rua dou de cara com pessoas que me conhecem. É bizarro.”

No Brasil, calcula-se que os canais dedicados à produção de conteúdos divertidos ou informativos sobre games estejam na casa dos “centenas de milhares”. Segundo o Google, dos 20 canais mais populares da plataforma no País, cinco são de youtubers de game. Internacionalmente, o canal com mais inscritos do Youtube é o PewDiePie, do sueco Felix Kjellberg, que joga games para divertir mais de 31 milhões de fãs.

No início deste mês, um pequeno grupo de youtubers visitou o evento Brasil Game Show, em São Paulo, para encontrar seus fãs. Eles sequer foram citados na programação e combinaram o encontro por Twitter. O alvoroço causado foi tamanho que a organização optou por retirá-los do local.

Eduardo Benvenuti, de 29 anos, veio do Canadá, onde mora, para o evento e estava em meio ao tal grupo. Ele é o responsável pelo canal BRKsEDU, com 2,1 milhões de inscritos (como comparação, o canal Galinha Pintadinha, um dos mais populares do Brasil, tem 2,7 milhões). Segundo ele, a confusão no evento mostra uma desatenção da organização em relação ao tamanho desse fenômeno.

“Depois do evento, eles divulgaram a lista das personalidades presentes e das seis eu conhecia duas, sendo que só uma, o jogador Ganso, tem mais seguidores no Twitter que qualquer um de nós”, diz. “Eles não entenderam os youtubers ainda.”

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Negócios à parte

Com o potencial de alcance e relevância que adquiriram, os youtubers de games rapidamente se tornaram alvos do mercado. Empresas que auxiliam no desenvolvimento dos canais (chamadas de “networks”) e de agenciamento se tornaram parte do dia a dia dos criadores de conteúdo, fazendo do hobby uma profissão.

A Influencers é uma delas. Criada pelo goiano Gustavo Teles, a empresa é dedicada a fazer “marketing de influência”. “O público dessas pessoas gosta de tudo que eles postam. O que fazemos é transformar a influência dessas pessoas em gatilhos de interação do público com a marca.”

Segundo Teles, no ano passado, “seus youtubers” faturaram ao menos R$ 500 mil, tendo um passado de R$ 1 milhão.

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Gabriel Vilhena, do canal Vilhena Gamer, tem apenas 17 anos e diz contar com uma receita mensal de “pouco mais de R$ 10 mil”. Seu canal, com 1,3 milhão de inscritos, existe desde 2011, quando gravou seu primeiro vídeo sobre o game Minecraft, aos 14 anos. Ele diz nunca ter precisado do dinheiro do YouTube para viver.

“Tem gente que faz seis vídeos por dia e no fim do mês ganha R$ 50 mil. Se eu ficasse gravando o dia inteiro a grana ia aumentar, mas eu ia fazer por obrigação e logo ia me cansar”, diz. O jovem explica que tinha medo de fazer propaganda em seu vídeo e espantar seu público. Mas com o tempo, “arranjou um jeito” de fazer sem prejudicar o conteúdo.

Já Malena acabou de fechar contrato com um agente e espera aumentar ainda mais sua receita, a qual usa para pagar sua faculdade e ajudar no orçamento de casa. “Sou muito grata ao meu trabalho. Teve uma vez que meu pai ficou sem emprego por dois meses e eu segurei as contas aqui em casa. Se não fosse a galera que me acompanha, eu estava lascada.”

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Profissão

Encarar a diversão como trabalho já é um estágio superado. O próximo passo é fazer do YouTube uma fonte de rende sustentável a longo prazo. Afinal, será possível se aposentar jogando games e gravando vídeos em casa?

Para Gustavo Teles, sim. Tudo depende do produtor de conteúdo. “Eles são pequenas empresas ambulantes. É preciso construir uma imagem com alto valor agregado para não ser apenas vendedor de produtos.” Leon Martins, dono do Coisa de Nerd, tem 2,3 milhões de inscritos em seu canal e sustenta a empresa que tem com a esposa com sua receita publicitária. Mas não pretende viver disso para sempre. “Pretendo continuar nessa profissão, mas fazendo outras coisas na indústria de entretenimento,” diz.

O sucesso desse tipo de conteúdo na internet é visto também como resultado de uma migração dessa audiência, formada principalmente por crianças e jovens, da televisão para o mundo online. “Nós somos as novas Xuxas e os novos Backyardigans”, opina Malena. “Hoje as crianças não ficam na frente da TV, mas na frente de tablets.”

Para Velloso, do Google, o fenômeno só existe porque “ele se dá exclusivamente pelo online”. “Não tem conteúdo de game na TV no mundo, exceto na Coreia do Sul. Acha estranho um canal dedicado ao game League of Legends? Eu acho que isso mostra o futuro desse mercado para os outros países.”

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