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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Zoom: teste para o Vale do Silício

É hora de começar a prestar atenção no Zoom. Não no aplicativo, mas na empresa. Nos últimos poucos meses, o fundador da companhia, Eric Yuan, se tornou um dos homens mais ricos do mundo, múltiplas vezes bilionário. O aplicativo era um que ninguém realmente conhecia. Agora, tornou-se substantivo comum de uso corrente — vamos fazer um Zoom? Pode parecer uma história de sucesso, mas ainda é cedo. E este será um teste importantíssimo para o Vale do Silício.

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Por Redação
Atualização:

Yuan, que é chinês, se mudou para os EUA no final dos anos 1990 para se juntar à Webex, uma jovem startup do Vale do Silício que construiu um dos primeiros sistemas de teleconferência. No início, não tinha vídeo. Mas permitia compartilhar a tela do computador enquanto, via telefone, as pessoas conversavam em reuniões por áudio. Foi naquele tempo pré-bolha, no qual se tinha ponto com no nome havia a promessa de tornar qualquer um milionário.

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Pois é — e fez. A Cisco, maior fabricante americana de equipamentos de infraestrutura de rede, comprou a startup. Yuan fez algum bom dinheiro, embora não tanto quanto os fundadores. E foi ficando, se habituando à estrutura de uma empresa gigante quando sua única experiência era com a aventura de começar um negócio.

É um sujeito respeitado. Um ex-executivo da Cisco e o fundador da Webex estão entre os investidores iniciais da Zoom. Sugere confiança de quem trabalho com ele. Embora não fosse o plano, a lógica que seguiu para desenvolver seu produto está diretamente ligada à explosão, ao sucesso quando veio a pandemia.

Zoom, claro, é a plataforma de vídeo que todos usamos para conversar com gente querida enquanto estamos em casa. Mas nasceu como um sistema voltado para empresas. Não é um mercado simples, este de negócios e grandes contratos. Para ele, a Microsoft tem um produto e Webex ainda é usado por muitos.

Dois truques do Zoom, porém, lhe permitiram crescimento. O primeiro é que é simples de usar. Basta gerar um link, enviar, e pronto. Basta clicar e a pessoa já está dentro da conversa, mesmo que não tenha o aplicativo. Por trás há uma engenharia pesada, que mantém fluido o envio para a nuvem de imagens de vídeo em HD de, às vezes, centenas de pessoas simultaneamente. É simples, pois.

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O outro truque foi de marketing — a ideia de que os primeiros 40 minutos são gratuitos. Assim, fizeram guerra de guerrilha. Por vezes as empresas tinham a licença de um software, mas os funcionários lançavam mão do Zoom porque era simples, porque era fácil e, ora, era só uma conversa rapidinha. Criou hábitos.

Quando viemos todos para casa, ocorreu de haver muita gente que conhecia o software e foi usando para também encontros pessoais. O boca a boca pegou o Vale do Silício todo de surpresa. Google e Facebook têm sistemas para uso pessoal de videoconferência, além de os profissionais estarem também circulando por aí. Porém foi um outrora desconhecido que disparou.

A beleza do mundo da tecnologia é justamente essa: alguém miúdo e fora do radar, no momento da necessidade, tem uma solução melhor e em pouco tempo larga na frente dos tubarões.

O problema é que esta ‘meritocracia’ valia noutros tempos. Conforme o Vale do Silício dominou o mundo, as regras mudaram. As gigantes são tão gigantes, que esmagam qualquer novo concorrente de uma de duas maneiras. Ou compram a empresa jovem, ou então copiam na cara dura os recursos que fazem de seu produto um sucesso. Assim, garantem o monopólio.

Mas há governos de olho nas práticas monopolistas. O que acontecerá com o Zoom é um teste.

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