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Opinião|A era pós-coronavírus

Observar países que já passaram pelo processo de retomada pode ensinar lições sobre como poderia ser o processo no Brasil

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Atualização:

Essa crise atinge diferentes partes do mundo em diferentes momentos. Enquanto o número de novos casos de covid-19 no Brasil continua alto, vários países da Ásia já passaram por esse estágio e estão adiantados no processo de retomada às atividades.

Assim, apesar da distância socioeconômica que separa o Oriente do Ocidente, um bom exercício a fazer é analisar as mudanças vistas nessas nações mais à frente no combate ao vírus e inferir, com base no que aconteceu nelas, o que pode acontecer aqui também. Por isso, separei cinco fatos observados nas últimas semanas na sociedade chinesa, que já recuperou boa parte da rotina e se prepara para uma eventual segunda onda de contaminações.

Conteúdo digital será ainda mais valorizado no pós pandemia Foto: Tingshu Wang/Reuters

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1) Digitalização

Essa consequência já ocorre por aqui. Ensino à distância, telemedicina, reuniões virtuais, e-commerce... Certamente, você está ciente sobre ela. O fato novo é que a covid-19 acelerou não só a digitalização dos canais B2C (para consumidor) da China, mas também o comércio B2B (entre empresas), tradicionalmente dependente das interações físicas.

2) Declínio da exposição global

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Antes da crise, uma mistura de forças geopolíticas já provocava mudanças na relação entre os chineses e o mundo. Com a pandemia, isso foi intensificado. Várias empresas começaram a ajustar suas estratégias de cadeia de suprimentos, buscando fontes alternativas ou realocando a produção para outros países. Além disso, houve uma crescente valorização do comércio local, com iniciativas como “compre no seu bairro, ajude o pequeno”. Essa atitude percebida no ambiente micro é um reflexo das tendências nacionalistas observadas no ambiente macro.

3) Aumento da competição

As barreiras de entrada na internet são baixas. Como boa parte dos negócios foi para o virtual, a competição aumentou. Agora, todos fazem lives, entregam conteúdo online, ofertam produtos via sites. Rapidamente, o que era vantagem virou commodity. Em geral, quem já tinha um DNA digital soube se diferenciar melhor.

4) Maior maturidade de consumo

Os jovens abastados da China nunca haviam vivido uma crise. O coronavírus acabou forçando essa turma a repensar seus gastos. Resultado: os empréstimos ao consumidor caíram e os depósitos na poupança subiram 8% em relação ao 1º trimestre.

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5) Intensificação do setor privado

Após a SARS, em 2003, o governo e as estatais foram os grandes motores da economia chinesa. Agora, o setor privado está contribuindo com quase 65% do crescimento do país e 90% dos novos empregos. É uma significativa alteração na máquina produtiva.

Obviamente, é difícil prever como a covid-19 moldará as diversas regiões do planeta. No entanto, é plausível projetar que os efeitos constatados em um país sejam replicados, em maior ou menor grau, nos outros.

Opinião por Maurício Benvenutti
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