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‘Ameaça digital’ divide executivos de países emergentes

Líderes veem chance de seus negócios serem substituídos por opções digitais, mas consideram novo modelo uma ‘forma de progresso’

Por Bruno Capelas
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 Foto: Divulgação

Há duas décadas, quando a Blockbuster dominava o mercado de locadoras e valia bilhões de dólares, seria difícil acreditar que as pessoas deixariam de alugar fitas VHS para assistir a filmes em suas próprias casas pela internet, com um enorme catálogo à disposição à distância de apenas um clique. Esse é apenas um dos melhores exemplos do impacto da chamada “disrupção digital” no mundo dos negócios – fenômeno que ganha cada vez mais força e divide os executivos de países emergentes. 

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É o que mostra um novo estudo desenvolvido pelo Centro Global de Transformação Digital dos Negócios, parceria da escola de negócios suíça International Institute of Management Development (IMD) em parceria com a Cisco. 

Os executivos de empresas dos blocos dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) são mais otimistas em relação às mudanças trazidas pela tecnologia para toda a sociedade – 80% deles veem a disrupção digital como “uma forma de progresso” e “uma maneira de aumentar a qualidade de vida”, contra 72% e 55%, dos entrevistados que trabalham em companhias que estão em países desenvolvidos, como Estados Unidos e países europeus. 

Apesar disso, os executivos dos Brics também têm mais receio de que a disrupção digital afete os negócios de suas empresas. De acordo com a pesquisa, eles acreditam que 43% das empresas que são líderes em seu mercado – como um dia foi a Blockbuster – serão substituídas por novas companhias nos próximos cinco anos – como o Netflix. A taxa cai para 35% nos países desenvolvidos. 

“Não é uma contradição: quem mora em um país emergente acredita que a tecnologia pode ser capaz de melhorar o mercado e as instituições. Para essas pessoas, o comércio eletrônico, as redes sociais e a digitalização podem melhorar bens e serviços”, explica a chinesa Jialu Shan, pesquisadora associada do Centro Global de Transformação Digital dos Negócios. “Ao mesmo tempo em que, pessoalmente, os executivos estão entusiasmados com a disrupção digital, eles temem a forma como a tecnologia pode afetar o desempenho de suas companhias”, diz a especialista, em entrevista exclusiva ao Estado

A perda de crescimento de receitas, a queda nos lucros e redução das fatias de mercado são os principais temores dos executivos nos países emergentes, segundo a pesquisa.

A maior parte dos entrevistados de países emergentes (75%) alegou que a disrupção digital é uma preocupação discutida no conselho de administração e entre os principais diretores das empresas – já nas companhias de nações desenvolvidas, o mesmo índice cai para 48%. 

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“Os diretores e presidentes dos Brics já estão mais avançados: eles sabem que as coisas vão mudar. O problema é que ainda não sabem como reagir e, por enquanto, estão aprendendo pelo método de tentativa e erro”, afirma a pesquisadora. 

Para Jialu, que estuda a inovação digital há cerca de dez anos, o mesmo entusiasmo com a tecnologia não acontece nos países desenvolvidos. “Eles não precisam abraçar de forma significativa a inovação, porque acham que suas instituições e mercados já são bem organizados”, explica. Ao todo, participaram da pesquisa 953 executivos de 12 países. Destes, três quartos dos entrevistados ocupavam cargos no conselho, presidência ou liderança de primeiro escalão. 

Efeitos. Mais do que simplesmente se preocupar com o desaparecimento de suas empresas ou a transformação total de seu setor – como aconteceu no caso de Blockbuster e Netflix –, os executivos dos Brics também demonstraram acreditar que as principais ameaças às suas empresas no âmbito da inovação digital virão de startups, e não da própria indústria – 40% contra 24%. 

Já nos países desenvolvidos a proporção se inverte: para 40% dos entrevistados, as principais mudanças nos próximos anos em seus setores de mercado virá da própria indústria – 24% acreditam que elas surgirão pelas mãos de startups. 

Outra questão levantada pelo estudo da IMD e da Cisco é a de que muitas empresas podem não desaparecer, mas ter seu desempenho influenciado pelo mundo digital. “O melhor exemplo disso para mim é o Walmart, que ainda é uma grande empresa de varejo, mas que perdeu espaço com o crescimento da Amazon”, explica Jialu.