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‘As pessoas usam escritórios desenhados há um século’, diz cofundador da WeWork

Há um ano no Brasil, startup americana criada por Miguel McKelvey já opera mais de dez prédios em SP e RJ; empresa é avaliada em mais de US$ 20 bilhões

Por Bruno Capelas
Atualização:

Desde 2010, Miguel McKelvey, cofundador da startup de escritórios compartilhados WeWork, é um homem com uma missão: acabar com os ambientes de trabalho tediosos e antiquados utilizados por muita gente todos os dias. “Não sei porque as pessoas usam escritórios tradicionais, eles foram desenhados há um século e ainda não se adequaram aos novos tempos”, diz o americano, durante entrevista ao Estado

O plano de McKelvey tem dado certo: ao lado do sócio Adam Neumann, eles transformaram seu negócio – no qual qualquer pessoa ou empresa pode alugar um espaço de trabalho para colocar seu notebook ou organizar uma reunião – em uma das empresas mais quentes do momento. Hoje, a WeWork é a terceira startup americana mais valiosa – é cotado em US$ 20 bi, só abaixo de Uber e Airbnb. Está em 77 cidades, 23 países e já cuida de prédios em endereços icônicos como a Quinta Avenida, em Nova York. 

Para Miguel McKelvey, da WeWork, grandes empresas precisam gerar impacto Foto: JF Diorio/Estadão

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Aqui no Brasil, a empresa chegou há pouco mais de um ano, mas já tem números expressivos: administra dez espaços físicos em São Paulo e no Rio de Janeiro, incluindo o Cubo, do Itaú, e o Habitat, do Bradesco. Por aqui, mais de 10 mil pessoas já se cadastraram para usar os serviços da startup. Até o fim do ano, serão mais quatro prédios – incluindo o que abre segunda, 3, no Largo da Batata, na capital paulista, e um em Belo Horizonte. 

Para McKelvey, cada prédio é diferente. “A identidade de cada espaço surge não só com o que há entre quatro paredes, mas a partir da comunidade e sua cultura”, diz o executivo. Segundo ele, não há um modelo de escritório perfeito. “Cada pessoa é diferente e nenhuma delas vai querer sempre a mesma coisa – pense na temperatura do ar condicionado, por exemplo”, avalia o executivo, que não se admira com o valor de mercado de sua empresa. “Sucesso financeiro é importante, mas o WeWork existe para gerar impacto positivo nas pessoas que passam por nossos prédios.”

Estado: Hoje, muita gente trabalha em escritórios tradicionais. Por que elas deveriam mudar para a WeWork? Miguel McKelvey: Não há nenhuma explicação para que as pessoas ainda usem escritórios tradicionais. O jeito que eles foram desenhados e que eles funcionam foi criado há um século. 

Como naquela cena de Se Meu Apartamento Falasse, com os funcionários em suas mesas em andares enormes, subindo e descendo de elevadores?  Exatamente. São ambientes que não foram reinventados com o mesmo rigor que outros espaços nos últimos anos. Restaurantes foram redesenhados. Ou hotéis: pense em quanto é investido para que eles tenham as cores mais bacanas, os melhores materiais. Passamos dois ou três dias do nosso ano em hotéis. Num escritório, passamos duzentos. Uma vida inteira, às vezes. Eles são feios, mal desenhados e não se readequaram à mobilidade que as pessoas têm hoje, com notebooks e smartphones. Hoje, temos pesquisas que dizem que as pessoas não precisam de uma mesa a todo momento no seu trabalho. Cada pessoa deveria ser capaz de ter lugares específicos para momentos e necessidades diferentes – uma sala de reuniões pequena, um espaço quieto, como uma biblioteca, ou uma sala de isolamento. No WeWork, tentamos ter esses tipos de espaços, para responder às demandas de cada pessoa. Sabemos que nunca haverá perfeição, pois as pessoas são esquisitas e têm manias, é difícil fazer um design geral para todos. Até a temperatura do ar condicionado é um problema. Mas podemos desenhar lugares adaptáveis. 

Além de ter diferentes tipos de instalação, a WeWork também é um lugar para gerar conexões. O quanto isso importa?  O que importa é o quanto as pessoas estão abertas para se relacionarem. Às vezes, só estamos trocando cartões ou contatos no Linkedin. Para mim, não é o suficiente. Importa ter familiaridade, ter afeição: é ver um rosto ao longo do dia, no elevador, no café ou num jogo de futebol e me colocar disponível para compartilhar algo com essa pessoa. 

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Muitas startups dão seus primeiros passos dentro da WeWork, o que dá à empresa vantagem para conhecer negócios inovadores antes de muita gente. Consideram aproveitar essa vantagem para investimentos?  Não. Acreditamos que investidores e fundos fazem um bom trabalho, mas não é o que fazemos. Chegamos a nos questionar sobre isso, porém, mas decidimos que não queríamos ter nenhum tipo de viés quanto às empresas e pessoas que recebemos nos nossos espaços. Mas podemos ajudar a criar comunidades que aproximem as pessoas e façam investimentos acontecerem. 

Um prédio da WeWork no Brasil é diferente de um em Nova York?  Claro. Quando começamos, não queríamos fazer algo que se repetisse indefinidamente, em escala. A identidade de cada espaço surge não só com o que há entre quatro paredes, mas a partir da comunidade e sua cultura. É algo que surge todos os dias – se as pessoas se unem para tomar café ou para fazer refeições juntas, por exemplo, isso molda os espaços. 

A WeWork é avaliado em mais de US$ 20 bilhões. Como o sr. lida com isso?  Quando penso no nosso negócio, sei que sucesso financeiro é importante, mas não é a razão pela qual existimos. O WeWork existe para gerar impacto positivo nas pessoas que trabalham em nossos prédios. Para isso, precisamos ter um negócio bem estruturado, receita, lucro...

A WeWork dá lucro hoje?  Ainda investimos muito em expansão, mas nossos prédios bem estabelecidos já são altamente lucrativos. Mas usamos esse dinheiro para fazer mais prédios. Precisamos ter um negócio financeiramente organizado para conseguir gerar o impacto que desejamos. Falamos muito sobre comunidade. É algo fofinho, mas só significa algo se o negócio também estiver de pé. É a integridade dos negócios e o impacto que eles causam que criam grandes empresas. 

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