Atari moldou cultura corporativa do Vale do Silício

Empresa, que empregou o jovem Steve Jobs,foi uma das primeiras a ter horários flexíveis e benefícios ‘divertidos’

PUBLICIDADE

Por Bruno Capelas
Atualização:
Antes de fundar a Apple, Steve Jobs (dir) trabalhou na Atari; em 1976, ele ofereceu um terço da empresa ao antigo chefe, Nolan Bushnell Foto: Reuters

Videogames no escritório, camiseta e bermuda no lugar do terno, horários flexíveis a ponto de parte da empresa trabalhar só de madrugada. Hoje esses “benefícios” parecem corriqueiros para qualquer startup ou companhia do Vale do Silício. A culpa é da Atari, uma das pioneiras a ter um ambiente de trabalho liberal. “Hoje, os jovens querem trabalhar no Google, na Apple ou no Facebook. Nos anos 1970, a Atari era essa empresa dos sonhos”, diz Maurício Benvenutti, sócio da plataforma de startups StartSe.

PUBLICIDADE

Segundo Nolan Bushnell, a principal inspiração para esse “novo ideal de espaço corporativo” veio do movimento hippie, cujo quartel-general era São Francisco, a maior cidade próxima ao Vale. “Nosso ideal era não se submeter ao sistema, todo mundo era igual e não havia hierarquia – nas festas ou nas vagas de estacionamento”, diz o fundador da empresa. A juventude dos executivos da Atari ajudava – tanto Bushnell como seu sócio, Allan Alcorn, tinham menos de 30 anos quando a empresa abriu as portas.

Até uma banheira de hidromassagem estava entre os “benefícios” do escritório em Sunnyvale – a ideia era que o local servisse para “inspirar os pensamentos” dos criadores de games. “Nós estávamos criando diversão, então precisávamos nos divertir”, explica o empreendedor. Mas a vida dentro da Atari não era só diversão. “Eles eram adultos e tinham de ser responsáveis. Quem não entregasse seu trabalho era demitido”, diz Bushnell.

De certa forma, é um ideal que permanece até hoje – segundo Benvenutti, do StartSe, as vantagens oferecidas por Google, Facebook ou Apple ajudam a atrair talentos, mas não são sempre usadas. “É difícil ver alguém jogando pingue pongue às três da tarde.”

Jobs. Um dos jovens ousados que trabalharam na Atari foi Steve Jobs. Anos antes de fundar a Apple, Jobs era conhecido na empresa por seu odor característico – às vezes, ele ficava três dias sem tomar banho, diz Bushnell – e pelo entusiasmo. “Ele apareceu um dia na recepção e disse: quero trabalhar aqui e não vou sair daqui até conseguir isso”, lembra o fundador da Atari. “Ele havia desistido da faculdade, mas conhecia eletrônica. Era suficiente.”

Mesmo depois de deixar a Atari para começar sua própria empresa, Jobs manteve a amizade com o antigo chefe. Jobs chegou a ponto de oferecer a Bushnell que fosse o primeiro investidor da Apple, dando um terço da empresa em troca de apenas US$ 50 mil. Bushnell recusou. Se tivesse aceitado o negócio e mantido sua participação, ele poderia ser ainda mais rico do que é hoje. “Eu poderia ser bilionário”, diz Bushnell. “É óbvio que eu me arrependo. E como!” 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.