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Campus Party 2018: conheça Jon ‘Maddog’ Hall, o eterno campuseiro

Referência no software livre, Maddog vem à feira todos os anos pregar para os ‘não-convertidos’; projetos do ‘bom velhinho’ do código aberto, porém, têm problemas para sair do papel

Por Bruno Capelas
Atualização:
No ano que vem, Jon 'Maddog' Hall vai completar 50 anos de carreira na computação Foto: Bruno Capelas/Estadão

Quem participa há alguns anos da Campus Party, maior evento de tecnologia do Brasil, já deve ter notado a presença de uma figura folclórica que circula (e palestra) pelo evento: um senhor de cabelo e barba branca, que não fosse pelos brincos na orelha poderia ser confundido com Papai Noel. Seu nome é Jon ‘Maddog’ Hall -- e se, aos 67 anos, ele não pode ser considerado para o cargo de Bom Velhinho, é um dos símbolos do software livre, setor da tecnologia que busca o desenvolvimento de programas e dispositivos abertos para modificações e alterações. 

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Na 11ª edição da feira, realizada nesta semana em São Paulo, não foi diferente: mais uma vez, Maddog esteve nos palcos do Anhembi para pregar sobre temas como linguagens abertas de programação -- isto é, que podem ser usadas sem o pagamento de uma licença à empresa responsável por seu desenvolvimento -- e o uso de sistemas operacionais como o Linux. A participação deste ano tinha até certo tom de blague: o título era “Maddog está realmente velho”. 

De fato: Maddog desenvolve seus próprios códigos de programação desde 1969 -- o “vovô” do software livre está ansioso por 2019, quando ele e a internet completarão 50 anos de carreira. “Eu sou mais velho que vocês, seus pais e até mesmo seus avós”, brincou em sua apresentação, a uma plateia formada majoritariamente por jovens. 

Após descer do palco, foi aguardado por uma fila de campuseiros -- nome dado aos participantes da Campus Party -- para tirar fotos. “Ele é um ícone, né?”, diz o estudante Brian Lima, de 23 anos. “Curto muito como ele incentiva a área”. Ao seu lado, a também estudante Roberta Fernandes, de 21 anos, buscava no veterano conselhos para sua carreira. “Quero muito trabalhar com internet das coisas e vim à Campus para achar alguém para me mostrar um caminho. Ele é a pessoa perfeita.” 

Há, no entanto, quem reconheça que as participações de Maddog, embora inspiradoras, mostrem poucas novidades -- e não sejam capazes de trazer mudanças. “É legal ver um cara que parece o meu avô desenvolvendo, mas sinto que o Linux e o software livre ficam sempre na promessa”, diz o engenheiro Jonas Nepomuceno, de 24 anos. 

O rapaz já viu outras apresentações do veterano em diversos eventos -- Maddog também bate ponto constantemente no Fórum Internacional de Software Livre (FISL), um dos principais eventos da comunidade no Brasil. “Para quem desenvolve, são ideias interessantes, mas que têm limitações para a maioria das pessoas. Parece que a coisa não anda para a frente.” 

Nesta edição da Campus Party, além de pregar sobre o software livre, Maddog também tentou atrair os campuseiros para participar de seu Projeto Cauã -- uma ideia interessante no papel, mas que ainda não decolou. 

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Lançado em 2014, o projeto queria oferecer conteúdo a jovens universitários para que estes consigam aprender conceitos de computação para ajudar pequenas e médias empresas a usar melhor seus dispositivos, e, de quebra, ganhar algum dinheiro. 

Apesar de ser bastante alardeada em suas apresentações, o Cauã ainda não saiu de um projeto piloto. “Começamos como um projeto de hardware e software, mas não deu certo e tivemos vários problemas. Agora recomeçamos e esperamos relançá-lo em larga escala em breve”, disse o próprio Maddog ao Estado, após a palestra. O veterano do software livre, porém, não soube dizer o número de jovens que hoje participam do programa. 

A página oficial do projeto no Facebook mostra o tamanho da encrenca: ela é seguida por apenas 600 pessoas (mais ou menos metade do público que acompanhou a palestra de Maddog na Campus Party Brasil 2018) e não tem atualizações desde o final de 2015. Quando perguntado porque vem à feira todos os anos, Maddog diz que “em um evento cheio de jovens, é sempre importante pregar para quem ainda não ouviu a palavra do software livre.” 

Para a organização da Campus Party, Maddog já é praticamente um convidado de honra. “Ele é um evangelista do software livre, um tema que é muito importante para nós”, admite Tonico Novaes, diretor-geral do evento no Brasil. Questionado se não seria mais interessante convidar outras referências da área para “renovar a programação”, Novaes é sucinto. “O Maddog adora a Campus Party. A gente pode chamar outros nomes, mas ele sempre virá à feira. Ele gosta de ficar entre os jovens e ouvir seus problemas, é um jovem de 18 anos. Se a gente não convidar, ele vem -- afinal, ele é um campuseiro.” 

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