Carros conectados; autônomos e elétricos dominam a CES 2016

Indústria de US$ 2,4 trilhões abraça o universo da tecnologia na maior feira de eletrônicos do mundo; em Las Vegas, nos EUA, automóveis inteligentes mostram potencial, mas viabilidade comercial e chegada ao mercado ainda permanecem distantes

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Por Bruno Capelas
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Reuters

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Las Vegas - Um desavisado visitante da Consumer Electronics Show (CES) 2016, feira realizada na última semana em Las Vegas, poderia acreditar que pegou uma conexão errada no aeroporto e foi parar no Salão do Automóvel de Detroit: com a presença de nove montadoras e 115 fornecedoras de componentes para carros, a indústria automobilística se fez presente como nunca no evento, com inovações que prometem revolucionar uma indústria que vale atualmente US$ 2,4 trilhões. “Os carros vão mudar mais nos próximos cinco anos do que mudaram nos últimos 50”, disse Brian Althaus, vice-presidente de gerenciamento de marca da BMW, em uma apresentação durante a maior feira de tecnologia do mundo.

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Durante a feira de Las Vegas, três pilares mostram como essa revolução pode se tornar real nos próximos anos: carros conectados, veículos elétricos e automóveis sem motorista (ou autônomos). Cada uma à sua maneira, essas três tendências sugerem que, mais do que simplesmente tornar o trânsito mais seguro, a experiência de se movimentar pelas cidades – e até mesmo o sentimento de posse de um carro – devem mudar drasticamente em breve. No entanto, apesar do enorme potencial demonstrado em Las Vegas, essas tecnologias ainda parecem muito incipientes.

Integração. No espaço equivalente a quatro campos de futebol, montadoras e fabricantes de componentes mostraram suas soluções. No caso dos carros conectados, a principal questão é a da interoperabilidade: isto é, a habilidade de dispositivos em trabalhar em conjunto com dispositivos e sistemas de diferentes marcas. Nesse momento, a maior parte das montadoras tem trabalhado em parcerias com o Google (com o Android Auto, versão para carros do sistema operacional) e Apple (com o Apple Car Play, integrado ao iOS), reproduzindo um cenário antagônico que já acontece em smartphones.

Durante a CES, quem melhor mostrou uma solução para isso foi a Ford: a tradicional montadora norte-americana demonstrou uma atualização de seu sistema próprio de conectividade para carros, o Sync 3. Agora, ele é capaz de funcionar com iOS e Android. “Não queremos que o nosso usuário tenha de mudar de celular só porque comprou um carro da Ford. Queremos dar mais opções para ele”, diz Casey Feldman, designer de produto da companhia americana. A previsão da Ford é de que a atualização chegue aos carros que já têm o Sync 3 nos próximos meses. O primeiro modelo a sair de fábrica com a tecnologia será o Ford Escape 2017, previsto para o fim do ano.

O sistema da Ford ficou ainda mais relevante depois que a Toyota, maior fabricante de automóveis do mundo, anunciou que vai adotar a tecnologia da rival em seus carros, em uma estratégia para tornar a indústria automotiva menos dependente do Google e Apple, cuja ausência na feira ficou evidente. No entanto, ao menos no primeiro momento, as parcerias parecem mais fortes no discurso do que na prática – pouco se fala, por exemplo, sobre datas de lançamento.

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Fronteiras. Além de tornar os carros conectados por si só, várias empresas também anunciaram ações para ligar os veículos a outros dispositivos da chamada internet das coisas – nome dado à revolução que vai conectar todos os objetos à rede. “Hoje, temos uma série de fronteiras entre casas, carros, escritórios e ruas. A BMW quer acabar com isso”, disse Brian Althus, vice-presidente de marcas da BMW, ao anunciar uma parceria com a Samsung para desenvolver um sistema para o motorista acender as luzes de casa ou ligar o ar-condicionado a partir do seu carro – e vice-versa. O sistema não tem data para chegar ao mercado.

“Estamos vendo muitas empresas que sempre se dedicaram a fazer equipamentos tendo de desenvolver softwares. É uma mudança enorme no mercado”, diz David Anderson, gerente de integração automotiva da fabricante de processadores Nvidia. “As montadoras estão aqui porque querem tentar colocar mais tecnologia em seus produtos. No fim das contas, o que vende um carro novo é a tecnologia que há dentro dele.”

Sem as mãos. Se o potencial dos carros conectados diz respeito à forma como vamos dirigir no futuro, há outra tecnologia que tenta fazer justamente o contrário: tirar o volante das nossas mãos. Os carros sem motorista foram outro destaque da CES 2016, mas seu potencial disruptivo parece, ao menos por enquanto, diretamente proporcional à distância que essa tecnologia está de chegar às ruas em todo o mundo.

Presidente executivo da Ford, Mark Fields fez uma aposta agressiva durante o evento. Ele prevê que, em cinco anos, a indústria automotiva será capaz de lançar carros autônomos comercialmente. Por enquanto, a montadora pretende triplicar o número de veículos autônomos da marca que estão em testes. A sueca Volvo anunciou que pretende iniciar os testes com autônomos em 2017.

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Pode parecer um exagero, mas é preciso muito desenvolvimento para que a tecnologia consiga alcançar um nível de confiança capaz de convencer as pessoas a abandonar volantes e pedais: o supercomputador da Nvidia para carros, por exemplo, tem sensores de localização, de proximidade e um sistema de aprendizado baseado em redes neurais, que tentam fazer com que a máquina aja como um humano. “Queremos que o computador seja o melhor motorista do mundo”, diz Anderson, da Nvidia.

Outra dificuldade, além da questão tecnológica, para o avanço dos carros autônomos, é a legislação: dúvidas como “de quem é a culpa se um acidente acontecer com carros sem motorista?” permanecem sem resposta. Apesar disso, segundo previsão da consultoria KPMG, os carros sem motorista podem fazer o número de ocorrências cair em 80% nos próximos 20 anos. Mais do que isso, eles vão mudar a maneira como aproveitamos nosso tempo dentro de um carro – no lugar de dirigir, será possível assistir um filme, por exemplo.

Na tomada. Os carros elétricos já são há algum tempo parte do mundo da tecnologia – a exemplo da pioneira Tesla Motors, liderada pelo empreendedor Elon Musk. Mas ainda têm preços elevados que impedem o ganho de escala. O Model X, utilitário de alto padrão da Tesla, custa mais de US$ 130 mil. Na CES 2016, no entanto, montadoras tentam mostrar opções de veículos com preços competitivos: é o caso do Bolt EV, modelo da GM que deve custar cerca de US$ 30 mil, tem autonomia de 320 km e começará a ser produzido até o final do ano. “É o primeiro veículo elétrico que vence desafios de autonomia e preço acessível”, disse a presidente da GM, Mary Barra, ao apresentar o automóvel.

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A misteriosa startup Faraday Future aposta em um modelo diferente para tornar os elétricos viáveis: a empresa sugeriu que poderá oferecer seus veículos em um sistema de assinatura, num modelo parecido com o adotado pelo serviço de streaming de vídeo Netflix. O primeiro carro com produção em massa da startup deve chegar ao mercado em 2018.

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