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Opinião|Cedo ou tarde, você matará seu produto

Dói abandonar o seu produto quando ninguém mais precisa dele. Mas, cedo ou tarde, isso precisa ser feito.

Atualização:

Em meados de 1850, para americanos e americanas beberem algo gelado, existiam os colhedores de gelo. Esses trabalhadores esperavam a neve chegar, viajavam para as regiões frias dos EUA e passavam o inverno cortando blocos de gelo em lagos congelados. Em 1900, porém, uma novidade alterou isso. Engenheiros descobriram um método para congelar artificialmente a água e criaram as fábricas de gelo. Com elas, o gelo passou a ser produzido 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Os colhedores, por sua vez, entraram em colapso e desapareceram.

Mas, em 1930, outra inovação veio à tona. Com a redução dos preços dos motores elétricos usados para congelar a água, o refrigerador doméstico surgiu e mudou a indústria outra vez. A sociedade, que já não precisava dos colhedores, passou a não precisar das fábricas, pois – a partir daquele momento – cada cidadão se tornou capaz de produzir gelo do conforto do seu lar.

Fábrica de gelo se tornou trabalho braçal e desnecessário em mundo de geladeiras Foto: Reuters/Amit Dave

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Por que escrevo isso? Bem, o fato é o seguinte. Nenhum colhedor de gelo se transformou em fábrica de gelo. E nenhuma fábrica de gelo se transformou em fábrica de refrigeradores. Isso ocorreu – e ocorre até hoje – porque muitos negócios se definem com base naquilo que fazem e não no benefício que entregam. Ao se definir como cortador de gelo, você sempre será um colhedor. Ao se afirmar como um estabelecimento que congela a água artificialmente, você sempre será uma fábrica de gelo. E ao se declarar uma empresa de refrigeradores, você sempre produzirá refrigeradores. 

Mas, afinal, o que os consumidores querem? Pouco importa se o gelo virá de lagos, fábricas ou refrigeradores. O que eles buscam é conservar alimentos, gelar bebidas e se refrescar no verão. Essas são suas necessidades. E elas não mudam. O que evolui ao longo do tempo são os produtos que satisfazem tudo isso. Eles é que nascem e morrem, surgem e desaparecem, vem e vão.

Quanto mais uma pessoa faz algo, mais especialista ela é. Melhor é a sua capacidade de realizar a mesma coisa repetidas vezes. Por um lado, isso é bom. Por outro, isso pode causar uma miopia perigosíssima, pois a tendência desse profissional é querer seguir o mesmo caminho sempre. É ser um perito fabricante de CDs quando o MP3 veio ao mundo. É produzir magníficas enciclopédias quando a internet se popularizou. Dói abandonar o seu produto quando ninguém mais precisa dele. Mas, cedo ou tarde, isso precisa ser feito.

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Dessa forma, não se apaixone pelo trabalho que você faz, mas pelos benefícios que ele gera. Só assim, é possível enxergar a próxima curva da sua indústria e se adaptar às transformações tecnológicas em curso. Ao dominar o processo de canibalização do seu próprio produto, você obtém a liderança de mercado. E se você não fizer isso, outra pessoa ou empresa fará por você.É SÓCIO DA EMPRESA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA STARTSE

Opinião por Maurício Benvenutti
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