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Conheça mulheres que lideram startups no Brasil

Apesar de serem minoria nessas empresas, elas estão ocupando cargos de liderança e ajudando a mudar a cara do setor

Por Carolina Ingizza
Atualização:

A arquiteta paulistana Marcia Monteiro, fundadora da startup Upik, lançou o serviço Arquiteto de Bolso no ano passado. Ele funciona dentro do aplicativo de mensagens instantâneas Facebook Messenger: depois de um robô virtual cadastrar o interessado, um arquiteto dá orientações sobre como reformar sua residência – a uma fração do preço geralmente cobrado no mercado. Em apenas cinco meses, a startup conseguiu fechar contratos com grandes varejistas de construção, como Leroy Merlin e C&C. A atenção do mercado ajudou Marcia a levantar R$ 350 mil para financiar a startup.

Marcia é exemplo de um grupo de mulheres brasileiras que está tomando a dianteira de startups no País. Apesar de os homens ainda representarem 74% da força de trabalho dessas empresas, de acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) em parceria com a consultoria Accenture, elas não têm se intimidado.

Líder.Márcia Monteiro abandonou escritório de arquitetura para empreender Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

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O lançamento do Arquiteto de Bolso encerrou um longo caminho para a Upik, que nasceu offline. Quando Marcia abandonou o escritório de arquitetura onde trabalhava, em 2015, para fundar a empresa, ela colocou um trailer na rua para atender quem estava reformando a casa. Havia demanda, mas, em um ano, só atendeu 130 pessoas.

Para ampliar o negócio, só abraçando a internet. Assim, Marcia participou de um programa de aceleração de startups e, com orientação, transformou o serviço. “Percebi que deveríamos apostar em tecnologia, então abandonei o escritório móvel”, conta Marcia. Desde então, o número de clientes atendidos pela Upik subiu para 480.

Isso só foi possível graças a muito suor e foco. Ao contrário de muitos empreendedores que podem trabalhar até às 22 horas todos os dias, Márcia não pode se dedicar tanto tempo, já que tem responsabilidades com a família. “Empreender é muito pesado, até para homens”, diz ela. “Mas as mulheres ainda têm que conciliar a vida em casa, têm de levar os filhos para a escola.”

Para o cofundador da aceleradora Ace, Mike Ajnsztajn, que apoiou a startup na “virada”, a Upik está crescendo graças à capacidade de gestão de Marcia. Segundo ele, ela está na lista de “mulheres que fazem o trabalho equivalente ao de 20 homens”.

Participação

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Marcia não é exceção. Ao longo dos últimos anos, têm crescido o número de mulheres que tiraram suas startups do papel. De acordo com a Ace, em 2017, o número de empresas fundadas por mulheres que foram aceleradas por lá passou para 29% do total – há cinco anos, a participação feminina nos programas era de 25%.

Segundo Ajnsztajn, esse foi um dos efeitos positivos da crise econômica: mais pessoas decidiram empreender, inclusive mulheres. “Também acho que é um reflexo do empoderamento feminino”, afirma ele. “As mulheres estão lutando por melhores salários e querem superar os desafios da desigualdade.”

Para quem está no front, a sensação é parecida. “Em 2009, quando fui contratada pela primeira vez em uma startup, era vista como uma alienígena pelas minhas amigas”, conta a mineira Roberta Vasconcellos, de 30 anos, cofundadora e presidente executiva da startup Beer or Coffee. Na época, só havia mais uma mulher na empresa.

Na própria Beer or Coffee, que fundou em 2016 com o irmão Pedro Vasconcellos, o time já destoa da média brasileira. Dos treze funcionários da startup, sete são mulheres. O aplicativo, que oferece um passe livre em 400 espaços de trabalho compartilhado (coworkings) pelo País, já conta com 80 mil assinantes.

“Não contrato por gênero, há pessoas boas dos doislados. Mas acho que as mulheres têm vantagens ao se relacionarem com pessoas.Elas têm maissensibilidade", diz Roberta Vasconcellos, da Beer or Coffee Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão

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Para a empreendedora, ainda há vários paradigmas a serem quebrados pelas mulheres no ambiente de inovação, mas pesquisas recentes, como a do Boston Consulting Group, mostram que startups lideradas por mulheres são competitivas e até mesmo trazem resultados melhores em longo prazo.

“Acho que a mulher tem uma capacidade extraordinária de inovar e de gerenciar negócios, pois somos naturalmente multitarefa”, afirma Márcia Malaquias, diretora de operações e cofundadora da startup Alluagro, que usa geolocalização para fazer a ponte entre donos de máquinas agrícolas e produtores rurais.

Mesmo trabalhando em um ambiente tradicionalmente masculino, ela diz não sentir dificuldades por ser mulher. “Ao entrar no mercado, vi que não era tão complicado”, conta. “Ganhei a confiança dos prestadores de serviço.”

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Tecnologia

Embora elas estejam se destacando na liderança, ainda existem áreas das startups em que ainda é difícil ver mulheres, como as fortemente ligadas ao desenvolvimento de tecnologia. Trata-se de um reflexo do baixo número de profissionais do sexo feminino que se formam nessa área. De acordo com a ONU Mulheres, apenas 18% dos graduados em Ciências da Computação no mundo são mulheres. “Culturalmente, a informática sempre foi vista como uma profissão para homens”, diz Ajnsztajn, da Ace. Segundo ele, a maior parte das empreendedoras que conhece não são formadas em Computação.

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Nicolle Stad, presidente da Inti, que oferece uma plataforma de venda de assinaturas e ingressos, conta que dos nove funcionários da startup, somente três são mulheres, incluindo a presidente. “Todos os programadores são homens. Não cheguei a receber nenhum currículo de mulher para os cargos de tecnologia”, afirma.

Ela, por exemplo, é formada em Administração e deixou uma carreira no varejo para fundar a Inti, que focou na área de cultura e lazer. “Nossa plataforma se parece com o site do cliente, assim é mais fácil para ele manter o engajamento e coletar dados sobre seu público”, explica a empreendedora.

Hoje, a startup gerencia o programa de parceria do Masp, do Museu de Arte do Rio, do Inhotim e cuida até do passaporte para o torcedor do Palmeiras do Allianz Parque. “No primeiro ano, processamos R$ 10 milhões em transações e, no segundo, R$ 24 milhões”, diz ela, orgulhosa. “Nossa meta é bater R$ 70 milhões em 2018.”

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