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Crise econômica afetou esforços de inovação no Brasil, mostra estudo do MIT

Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) ressaltam em estudo, apresentado no Fórum Estadão Brasil Competitivo, que é preciso repensar agenda para estimular inovação no País

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:
Nos últimos anos, inovação perdeu espaço nas políticas do governo brasileiro, dizElisabeth Reynoldsdo MIT Foto: Hélvio Romero/Estadão

A série de estudos do Massachusetts Institute of Technology (MIT), revelados nesta terça-feira, 6, durante o Fórum Estadão Brasil Competitivo, mostram que a inovação ganhou espaço importante nas políticas do governo brasileiro nos anos 2000, mas perdeu fôlego nos últimos anos, por causa da crise econômica que se intensificou em 2015 e 2016. "Após uma década de esforços relativamente bem-sucedidos para atingir a estabilidade macroeconômica, o governo começou a focar em várias estratégias visando construir capacidade de inovação no País", afirma um dos estudos do MIT, que fazem parte do projeto de pesquisa que recebeu o nome "Accelerating Innovation in Brazil".

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A recessão de 2015 e 2016, porém, complicou os investimentos em Ciência e Tecnologia no Brasil e a recomendação dos estudos é que o Brasil aproveite estes "tempos mais difíceis" justamente para transformar a inovação em prioridade dos próximos governos, à medida em que a recuperação da economia começa a ganhar força. "Tem ocorrido progresso no Brasil, mas há potencial adicional significativo se forem dados passos adicionais para melhorar o ambiente para a inovação", ressalta um dos estudos.

O diagnóstico dos pesquisadores do MIT é que mesmo o progresso que houve a partir de 2000 acabou sendo "limitado". A culpa foi de uma série de fatores, que incluem o restrito engajamento entre empresas e universidades, escassez de engenheiros, baixa competição no mercado doméstico, além de políticas públicas ineficazes que, na visão dos especialistas, são muito abrangentes e pouco profundas.

Agenda. O Brasil possui as condições necessárias para ter um papel mais relevante em vários setores e tecnologias na economia mundial, segundo os pesquisadores, mas para isso precisa priorizar uma agenda de mudanças que facilitem e melhorem o ambiente de negócios e para a inovação. O MIT recomenda ao governo seis prioridades para uma agenda de inovação, que incluem flexibilização nas regras de conteúdo local, maior abertura comercial para estimular a competição doméstica e uma maior relevância das universidades na construção da capacidade de inovação.

Por isso, a primeira recomendação dos pesquisadores é assegurar que a política industrial foque e apoie a inovação. A avaliação é que as políticas industriais do Brasil são "demasiadamente abrangentes" e em grande parte não obtiveram êxito em acelerar a inovação. "Nós propomos que os requisitos de conteúdo local sejam modificados para serem mais flexíveis e ágeis de modo a lidar com tecnologias e mercados em mudança", afirma um dos estudos. O Brasil possui capacidade comprovada em diversos setores, que conseguiram desenvolver tecnologias de fronteira e competitivas ou que estão em processo de desenvolver estas tecnologias. Por isso, a recomendação do MIT é que o governo se foque em áreas nas quais o País tenha uma "vantagem competitiva existente ou emergente", incluindo agroprocessamento, no setor aeroespacial e na energia renovável.

Os pesquisadores Danilo Limoeiro e Ben Ross Schneider, autores de um dos estudos, destacam que o Brasil tem tido sucesso considerável na extração de óleo e gás em águas profundas e na mudança da frota de automóveis para o sistema flexível de combustíveis, além de adaptar a produção de soja para as condições tropicais e semiáridas.

Outra agenda prioritária é que os próximos governos busquem integrar mais o Brasil ao mercado mundial, seja tentando atrair mais fornecedores globais ou acessando "redes de conhecimento" lá fora. Nesse ponto, os pesquisadores recomendam que o mercado brasileiro precisa se abrir mais para o exterior, para se tornar mais competitivo.

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A economia brasileira é considerada uma das mais fechadas do mundo. Esta abertura precisa ser "gradual e seletiva" e pode ser atingida tanto por meio da redução de barreiras comerciais como por meio da redução de vários elementos do "custo Brasil". "Adicionalmente, o País deveria incentivar investimentos em tecnologia destinadas ao exterior", ressalta o estudo, destacando que assim o Brasil pode se tornar mais integrado às cadeias globais de valor.

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