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Opinião|De Boston ao Vale do Silício

No passado, esse lugar chegou a ser mais associado à tecnologia do que o Vale

Atualização:

Boston é um centro de inovação fantástico. A atividade empreendedora da região se localiza ao longo da Rota 128, uma rodovia que circula a cidade. Inúmeras startups, investidores e universidades de ponta estão lá. No passado, esse lugar chegou a ser mais associado à tecnologia do que o Vale do Silício. Hoje, porém, se você falar em Rota 128, pouca gente sabe o que é. 

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O livro Regional Advantage apresenta diversos motivos que fizeram o Vale superar a Rota 128 como referência global em inovação tecnológica. Entre os anos 60 e 80, por exemplo, a cultura de Boston incentivava as pessoas a trabalhar a vida toda em um só lugar. Trocar de emprego era um insulto aos costumes. Além disso, as descobertas eram controladas pelas empresas. Elas guardavam secretamente os conhecimentos e projetos que possuíam.

No Vale daquela época, nada disso existia. Era comum ver indivíduos migrando de uma organização para outra. Muitos, inclusive, saíam para fundar startups e competir com seus antigos empregadores. As informações circulavam abertamente. Não havia restrições. O ecossistema era baseado em trocar ideias, empreender e assumir riscos. A estrutura horizontal, que permitia às pessoas virarem sócias das empresas, foi um imã que atraiu talentos de todas as partes do planeta.

De um lado, então, havia controle, segredo e tradição. Do outro, colaboração, compartilhamento e desordem. Mas não foi só isso. A maioria dos empreendedores de Boston estava a poucas horas de distância de seus parentes. Bastava pegar um carro e visitá-los. As pessoas, em geral, conheciam seus familiares, negócios e posses. Seu sobrenome, reputação e prestígio. Como a preocupação com as aparências era enorme, pouca gente ousava. Ninguém colocava em risco o legado das gerações anteriores. Quem empreendia e falhava envergonhava famílias inteiras.

Em contrapartida, quando um indivíduo pousava no Vale, ele rasgava seu nome, sobrenome e história. Sua herança, biografia e passado. Cercado de gente estranha, que não conhecia nada da sua vida, esse aventureiro se reinventava. Passava a questionar e desafiar limites. Experimentar e provar novidades. Tudo sem dar à mínima para a opinião dos outros. Sua família – em algum lugar do mundo – jamais sabia de suas proezas e frustrações. 

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Em ambientes heterogêneos, que não se importam com a casta de ninguém, a audácia impera. Discussões e debates são comuns. Testes e erros são frequentes. Falhar não é problema. Assumir riscos faz parte do manual de sobrevivência. Para empreender, é preciso bater a cabeça algumas vezes. Quando uma pessoa fracassa, ela só salta de uma tentativa para outra. Claro que a Rota 128 continua sendo um dos hubs mais incríveis da Terra. Mas se a história fosse diferente, talvez Google, Uber e outras empresas tivessem nascido lá. *É SÓCIO DA PLATAFORMA PARA STARTUPS STARTSE

Opinião por Maurício Benvenutti
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