Empreendedores contam com ‘máfia de Stanford’ para crescer no Brasil

Rede de contatos. Ex-alunos da universidade que se tornou o motor do principal polo de inovação tecnológica do mundo, o Vale do Silício, formam rede informal que ajuda negócios inovadores a saírem do papel, como os sites Dog Hero e Quinto Andar

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Por Redação Link
Atualização:

NYT

 

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Claudia Tozetto Matheus Mans

A companhia de serviços financeiros Nubank, o site de aluguel de imóveis Quinto Andar e o serviço de hospedagem para animais de estimação Dog Hero estão entre as startups de maior destaque no Brasil, seja pelo crescimento acelerado ou pelos altos investimentos recebidos.

Embora atuem em segmentos distintos e não concorram entre si, elas têm forte característica em comum: por trás desses serviços inovadores estão empreendedores que fazem parte da chamada “máfia” de Stanford – apelido dado à rede formada por ex-alunos da universidade norte-americana que se tornou o motor do Vale do Silício.

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Essa rede ganhou força no País nos últimos anos com a participação frequente de brasileiros no programa de MBA (Master of Business Administration, na sigla em inglês). Segundo o Estado apurou, do grupo de cerca de 300 profissionais que passam pela exigente seleção da universidade a cada turma, entre cinco e dez são brasileiros – Stanford não informa o total de brasileiros que passam por lá.

Depois da experiência, eles passam a integrar grupo mais amplo que inclui ex-alunos de outras turmas que compartilham desafios de empreender no País. Na figura ao lado, é possível conhecer alguns dos membros do “clube”, que inclui líderes de novas startups e de empresas de tecnologia consolidadas.

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A maioria dos brasileiros que vai estudar em Stanford tem um sonho comum. Por ter sido berço da fundação de empresas de tecnologia inovadoras, como Apple, Google e o serviço de pagamentos digitais PayPal, a universidade é a principal escolha daqueles que desejam criar empresas de alto impacto.

“Eu queria estar num lugar que inspirasse inovação”, diz Paula Crespi, diretora de marketing e produto do Guia Bolso, aplicativo de controle financeiro criado por brasileiros. “Nunca havia considerado fazer carreira numa startup, mas quando estava lá fui picada pelo bichinho do empreendedorismo.”

“O mais importante para mim ao escolher Stanford era o que eu queria me tornar no futuro”, diz Gui Telles, que saiu do Peixe Urbano para engatar o MBA em 2012. “Aprender em uma escola é muito mais do que frequentar aulas. A experiência e a visão de outras pessoas fizeram a diferença para mim.” Seis meses antes de terminar o curso, Telles conheceu o aplicativo de carona paga Uber e passou algum tempo até convencer os fundadores a lançar o serviço no Brasil. Ele conseguiu. Após treinamento na empresa, ele se tornou gerente geral do serviço no País, posição que ainda ocupa.

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Não é apenas a proximidade do Vale que beneficia Stanford, mas a cultura que permeia professores e alunos. “Eles querem atrair pessoas que são bem-sucedidas por fazer o que amam”, diz o colombiano David Vélez, fundador e presidente executivo da startup brasileira Nubank.

Vélez, que já esteve à frente de grandes fundos de investimento no País, como General Atlantic e Sequoia, diz que essa é a principal característica que os diferencia de quem escolhe a Universidade de Harvard. “Enquanto lá o ambiente é mais colaborativo, em Harvard todo mundo compete para se tornar CEO em uma das 500 maiores empresas da lista da Forbes.”

 

No campus, as pessoas não se gabam pelas notas que tiram nos exames pois a atitude é malvista. A universidade também seleciona pessoas com interesses variados – de médicos a astronautas – para que os alunos troquem experiências e cresçam juntos. “Essa rede que se forma é o que faz a nossa universidade especial”, diz o professor de Stanford Jonathan Levav, que dirige um programa de formação da universidade em outros países. “Os alunos são realmente comprometidos e percebem que, ao serem aceitos, estão entrando em uma comunidade.”

Impulso. O contato entre membros da “máfia” de Stanford ocorre de maneira informal. Grupos de e-mails e de contatos no WhatsApp servem como aliados para pedir ajuda. “Mande um e-mail para qualquer ex-aluno de Stanford que ele vai te responder em menos de 24 horas”, dizem brasileiros que passaram pela universidade.

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O poder da rede se mostrou para alguns empreendedores enquanto ainda cursavam o MBA. É o caso dos fundadores da Dog Hero, site de hospedagem domiciliar para cachorros, Fernando Gadotti e Eduardo Baer, que se conheceram por meio de colegas da universidade quando estavam nos EUA.

Lá também tiveram o primeiro contato com o principal investidor da empresa, o argentino Hernán Kazah, cofundador do gigante do comércio eletrônico Mercado Livre. Ex-aluno de Stanford, ele é um dos executivos por trás do fundo Kaszek Ventures. “Ele marcou um café conosco na universidade e contamos a ideia”, lembra Baer. “Seis meses depois, quando já estávamos com o negócio andando, o procuramos em busca de investimento.”

A rede também foi fundamental para a Quinto Andar decolar. Além de os fundadores terem se conhecido no primeiro dia de aula do MBA de Stanford, colegas e professores ajudaram a formatar o negócio, que intermedeia a relação entre inquilinos e donos de imóveis. Ao fim do curso, muitos deles investiram suas próprias economias para ajudar o projeto a sair do papel.

Eles também apresentaram Braga e Penha para outro ex-aluno de Stanford: Julio Vasconcellos. Cofundador do Peixe Urbano e investidor-anjo, ele foi um dos primeiros a investir alto na startup. “Ele decidiu investir, mesmo sem termos provado a ideia, e depois trouxe outros investidores e fundos”, conta Braga. Em fevereiro, o Quinto Andar recebeu US$ 7 milhões do Kaszek Ventures. O contato inicial com o fundo se deu por meio da rede de Stanford.

Há quem queira também reproduzir a cultura de colaboração no Brasil. Em setembro de 2015, pouco mais de um ano após retornar de Stanford, a superintendente de canais eletrônicos do Itaú, Erica Janini, liderou a criação do Cubo, uma associação sem fins lucrativos para fomentar o empreendedorismo no Brasil, em parceria com o fundo de investimentos RedPoint. Atualmente, o espaço abriga 48 startups brasileiras. A rede de ex-alunos de Stanford dá ideias para o espaço, além de indicações de startups com potencial para estar lá. “Meus amigos de Stanford me ajudaram em tudo. O Cubo foi minha startup dentro do banco.”

O vice-presidente do Mercado Livre para a América Latina, Stelleo Tolda, é um dos membros ativos mais antigos da rede de Stanford no País. Nas conversas com empreendedores mais jovens, em que ele é citado várias vezes, fica claro o código informal de ajuda mútua entre os ex-alunos. Quando um brasileiro é aprovado, muitas vezes é ele quem liga para dar boas-vindas. “Morei no Vale muitos anos e fico contente de ver isso acontecendo no Brasil, pois não era comum há alguns anos”, diz Tolda, um dos primeiros contratados pelo Mercado Livre, fundado em 1999, para liderar a expansão da empresa no Brasi

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