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Excursões levam grupos de brasileiros para explorar Vale do Silício

Com agenda intensa que inclui visitas a startups e universidades, empreendedores tentam aprender receita de sucesso norte-americana

Foto do author Bruno Romani
Por Bruno Romani
Atualização:
Uniformizados. Em junho, a StartSe fez sua maior viagem para o Vale até agora, com um grupo de 102 empreendedores Foto: MARCELA TRUOCCHIO / STARTSE

Esqueça as orelhinhas do Mickey e as jornadas alucinantes por compras em Miami. Os brasileiros também buscam excursões pelos EUA para aprender sobre inovação, buscar investimentos e fazer negócios. Organizadas por empresas que se especializaram no universo das startups, essas viagens em grupo estão abrindo as portas de um dos principais polos de inovação do mundo, o Vale do Silício, na Califórnia, para mais companhias e empreendedores do País.

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Com diferentes perfis à procura da peregrinação tecnológica, as empresas que promovem as viagens têm faturado alto. A StartSe, que realiza excursões desde agosto de 2016, chegou a ter uma fila de espera de 500 pessoas. “Além de manter grupos com 20 pessoas, criamos outro programa para levar 100 participantes de uma vez”, diz Maurício Benvenutti, sócio da empresa, que é formada por ex-executivos da corretora XP Investimentos. A primeira super excursão para o Vale foi feita em junho. O segundo grupo viaja em dezembro.

“Existe muito espaço para quem quer oferecer programas de imersão”, diz André Monteiro, executivo-chefe da Brazil Innovators, outra companhia que organiza viagens. Desde 2010, diz o executivo, um de seus programas já ajudou empresas brasileiras em estágio inicial a levantarem R$ 350 milhões no Vale. 

Quem viaja, porém, precisa investir um bom dinheiro. Segundo apurou o Estado, a excursão custa entre US$ 3 mil e US$ 5 mil, dependendo do programa escolhido. O valor não inclui despesas com voo e hospedagem.

A curiosidade dos brasileiros sobre como as empresas do Vale funcionam é grande e faz todo o sentido: em 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) da Califórnia foi de US$ 2,6 trilhões, segundo o Bureau de Análise Econômica dos Estados Unidos. O número é superior ao PIB brasileiro que, no mesmo período, foi equivalente a US$ 1,9 trilhão.

Roteiro. As viagens para desvendar os mistérios da região – que abriga gigantes como Apple, Google e Facebook – não são tão divertidas como aquelas feitas pelos adolescentes com a tia Augusta. O tempo é curto: em apenas uma semana, os participantes cumprem uma agenda intensa, com boas chances de sobrarem atividades para o sábado. No roteiro estão aceleradoras e incubadoras, startups e grandes empresas, universidades, fundos de investimento e até a embaixada brasileira em São Francisco.

Uma parada quase obrigatória é na Plug and Play, uma das principais aceleradoras do mundo, que ostenta no currículo participação no sucesso do PayPal e do Dropbox. Atualmente, o Banco do Brasil é uma das empresas brasileiras que mantém um laboratório de pesquisas no local. Embora não registre números oficiais, a Plug and Play estima que, em média, 20 brasileiros passam por lá todo mês.

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Os roteiros das viagens nunca são iguais. “A viagem faz parte do processo de internacionalização de startups, e só trabalhamos com empresas que têm potencial para isso”, diz Robert Janssen, chefe da Outsource Brazil. Ele promove imersões na Califórnia desde 2008, com até 16 viagens ao ano.

Após viagem,Wendling mudou modo de comandar equipe na IBM Foto: Gustavo Roth/Estadão

Souvenir. “O Vale do Silício é tipo cabeça de bacalhau. Você tem que ir para ver e sentir a inovação e entender os motivos que fazem tantas empresas darem certo”, conta Sandro Molês da Silva, diretor presidente da Process Informática, que fez a sua viagem há três anos. 

A viagem fez o executivo mudar sacudir o dia a dia da empresa, que desenvolve softwares de gestão para escritórios de advocacia e companhias do setor jurídico desde 1988. Segundo ele, a companhia estava imersa em práticas antigas. A visita ao Vale fez Silva adotar inteligência artificial em seus softwares de gestão do passivo jurídico e melhorar a gestão. As novas práticas ajudaram a Process a aumentar o faturamento em quase 50%.

O “mergulho” nas práticas do Vale do Silício também transformou a Saga Labs, startup que desenvolve conteúdo de realidade virtual para a área de educação. Nascida há pouco mais de um ano, a empresa conseguiu ter dois dias de sessões de mentoria com executivos do Google em setembro. “Foi absurdamente maravilhoso”, conta Felipe Domingos, cofundador da Saga Labs. Segundo ele, que foi o escolhido para ir à Califórnia, os aprendizados o ajudaram a melhorar seu plano de negócios. 

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Além disso, Domingos recebeu dicas para ajustar o “pitch”, nome dado ao discurso rápido dos empreendedores para convencer investidores. Após os dias no Google, a Saga participou do TechCrunch Disrupt, um dos principais eventos de startups no mundo. “Se não fossem as sessões de mentoria, nossa participação no evento não teria sido a mesma”, diz. O discurso mais afiado não rendeu negócios concretos durante a viagem, mas muitos contatos.

Até para quem trabalha em grandes empresas de tecnologia a peregrinação é válida. Foi o caso de Marcelo Wendling, gerente de operações da IBM em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele viajou para a Califórnia em março e conta que ajustou a maneira de comandar sua equipe depois da experiência: tudo ficou mais ágil, já que ele passou a se envolver em todos os projetos da equipe. “A figura do gerentão que só fica na mesa dando ordens não existe mais.”

Nova York. l Embora muito cobiçado, o Vale do Silício não é o único lugar a atrair os brasileiros. A Brazil Innovators tem um programa focado em Nova York, que funciona de forma parecida com a imersão na Califórnia.

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Nele, dez startups são selecionadas por ano para uma semana de interação com empresas de porte semelhante, aceleradoras e fundos de investimento.

A última edição do programa ocorreu em agosto, quando os empreendedores visitaram a Friends of eBay, aceleradora do site de comércio eletrônico, e a Dennys Crowley, fundador do aplicativo de geolocalização Foursquare. O programa de 2018 deverá ser aberto para inscrições em fevereiro.

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