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Tudo sobre o ecossistema brasileiro de startups

Opinião|Falta de profissionais qualificados ameaça crescimento do ecossistema digital

Encontrar caminhos para qualificar a população nas áreas de conhecimento e habilidades tecnológicas é o desafio da década

Foto do author Felipe Matos
Atualização:

Empreendedores e profissionais do ecossistema de startups sabem a dificuldade em se contratar profissionais de tecnologia. A falta de desenvolvedor(a)s, engenheiro(a)s, gestore(a)s de produtos e outro(a)s profissionais qualificados vêm provocando disputa acirrada por talentos no setor.

As empresas lidam como podem com essa situação. Startups lançam mão de planos de opções de participação em ações para atrair bons profissionais, enquanto unicórnios e empresas mais consolidadas capricham nos salários e benefícios, ou implementam estratégias alternativas, como a aquisição de empresas com a intenção de absorver mão de obra, a atração de profissionais do exterior e a abertura de centros de desenvolvimento em outras regiões do Brasil e até fora. É o caso do Nubank, que adquiriu a empresa de desenvolvimento de software Plataformatec; da Creditas, que abriu um centro de tecnologia na Espanha; ou da Méliuz, que criou um escritório de desenvolvimento em Manaus. Nesta disputa, ainda correm por fora grandes empresas tradicionais, indústrias, bancos e consultorias, que viram a demanda por talento em tecnologia disparar com a aceleração dos movimentos de transformação digital com a pandemia. 

O gap de talentos tecnológicos deve crescer ainda mais Foto: Helvio Romero/Estadão

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O gap de talentos tecnológicos deve crescer ainda mais. Um estudo da McKinsey aponta para um déficit de 1 milhão de vagas até 2030. Do outro lado, formam-se poucos profissionais qualificados. Segundo estudo da Brasscom, enquanto o mercado demanda 70 mil profissionais de nível iniciante todo ano, o sistema formal de educação do país consegue entregar apenas 45 mil. A qualidade desse ensino também é questionável. O mesmo estudo da McKinsey aponta que 35% dos cursos da área não obedecem aos requisitos básicos pedidos do mercado. E segundo a Canvas by Instructure, 50% dos recém-formados acreditam que as experiências de educação superior que receberam não foram relevantes para sua vida profissional. A pandemia ainda desestabilizou o setor de educação superior, que foi obrigado a fechar salas de aula e vem sofrendo com forte evasão, baixa taxa de novas matrículas e dificuldades para migrar para modelos remotos.

Enquanto isso, o país registra os maiores índices de desemprego desde 2012, com quase 14 milhões de pessoas em busca de trabalho, segundo o IBGE. Encontrar caminhos para qualificar a população nas áreas de conhecimento e habilidades tecnológicas é o desafio da década, tanto para destravar oportunidades de crescimento do ecossistema digital, como para endereçar o desafio da geração de emprego qualificado e renda e revitalizar a economia.

Os caminhos são múltiplos: é preciso repensar não só currículos, mas os paradigmas de modelos de educação profissional e superior, se abrindo para novos formatos e utilizações de tecnologia, incluindo plataformas online, cursos livres e bootcamps e repensando modelos de financiamento. Mais do que nunca, é necessário priorizar formações direcionadas às necessidades do futuro, conectadas com a prática e com a empregabilidade. O risco de não agirmos nessa direção é sofrermos as piores consequências da automação: a substituição de milhões de empregos operacionais no Brasil por milhares deles qualificados no Vale do Silício ou em outros países que tenham se saído melhor nesse desafio.

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Opinião por Felipe Matos

CEO da Sirius, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups e autor do livro 10 Mil Startups.

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