Fintech de energia solar, Solfácil recebe aporte de R$ 160 milhões para expandir negócios

Ainda neste ano, startup quer chegar ao agronegócio e lançar plataforma para o mercado como diferencial contra bancões

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Por Guilherme Guerra
Atualização:

Em meio a ameaça de crise energética no País, a startup Solfácil, dedicada a financiamentos para a implementação de energia solar em residências e empresas, anuncia nesta quarta-feira, 23, o aporte de R$ 160 milhões para expandir o negócio pelo Brasil. No segundo semestre, o objetivo é lançar uma plataforma para companhias do segmento aperfeiçoarem o relacionamento com clientes e adquirirem materiais de instalação de painéis fotovoltaicos.

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A rodada de investimento, do tipo série B, foi liderada pela gestora americana QED Investors, fundo dedicado a startups de finanças (fintechs) e com diversas gigantes brasileiras no currículo, como Nubank e Loft. Também participou a Valor Capital Group, responsável por liderar a série A em 2020, de R$ 21 milhões. Devido ao crescimento de mais de 20 vezes no ano passado, a startup diz que precisou buscar mais dinheiro para continuar a expansão do negócio.

Fundada em 2018, a Solfácil faz a análise de crédito do cliente e seleciona parceiros para executarem o projeto na casa dos consumidores, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas. O limite do empréstimo é de R$ 200 mil para pessoas físicas e R$ 500 mil para empresas, com prazo máximo de até 120 meses para pagamento,  carência de 6 meses até a primeira parcela e taxa de juros efetiva de 1,3%.

O diferencial da empresa, no entanto, não é apenas analisar o score dos indivíduos, coisa que bancos tradicionais e outras startups já fazem, como Banco do Brasil, BV e a também fintech Mutual. Especializada no nicho de energia fotovoltaica, a Solfácil desenha um projeto que entrega maior e melhor eficiência energética, analisando quantidade de placas, pontos de incidência solar, sombreamento e posicionamento no telhado dos clientes. Além disso, a startup monitora se as instalações estão dentro do que era planejado e emite alertas para os instaladores realizarem correções.

Para Fábio Carrara, presidente executivo da Solfácil, diferencial da empresa está no conhecimento sobre o mercado de energia solar Foto: Paulo Vitale

“A análise de crédito tradicional é uma receita de bolo que já foi dominada pelos bancos, que têm muito mais informações por conta dos seus clientes. Mas nós somos os especialistas em energia solar e isso nos traz conhecimento do mercado”, explica ao Estadão o presidente executivo da startup, Fábio Carrara, acrescentando que a taxa de inadimplência da startup é menor que 1%.

Para Gilberto Sarfati, professor de inovação da Fundação Getúlio Vargas, a especialização pode ser vantajosa para que a startup vete projetos que não tragam muito benefício para o cliente, tornando o negócio mais resiliente a calotes, a principal dor de qualquer fintech. “Avaliar a viabilidade financeira de um projeto é algo bastante positivo”, afirma.

Poder solar

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A Solfácil planeja crescer em um país “abençoado por Deus”, como diz a canção de Jorge Ben Jor. Por aqui, a incidência solar é muito acima da que é observada na Europa, por exemplo, onde países como a Alemanha são líderes apesar do clima menos vantajoso que o nosso. No entanto, há no Brasil pouca adesão a esse tipo de energia devido ao alto custo da importação de painéis solares e outros componentes. Isso ocorre mesmo com o retorno financeiro acontecendo de 4 a 6 anos graças à economia na conta de luz, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Por causa da alta incidência solar e do menor número de opções alternativas de financiamento na região, a maior parte dos clientes da Solfácil está no Nordeste. No total, a companhia tem 10 mil clientes financiados e mira a meta de 100 mil até o final de 2022, quando planeja atingir o volume de R$ 2,5 bilhões financiados — o número hoje está em R$ 60 milhões.

Para isso, a empresa quer se tornar também um ponto de parada para os integradores de painéis fotovoltaicos, e não só oferecer linhas de crédito apetitosas. “Somos uma fintech porque queremos solucionar o principal problema do setor, mas nos vemos mais como uma plataforma de soluções solares”, afirma Carra.

A “plataformização” parece ser o caminho. A Solfácil quer que instaladores usem a plataforma para buscar novos clientes e construir relacionamento com consumidores. Além disso, pretende criar um marketplace com fornecedores aprovados pela startup, dando um selo de qualidade aos materiais. O plano é colocar no ar essa plataforma já no próximo semestre. “Nosso diferencial competitivo fica muito maior e o crédito continua como commodity”, afirma.

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