Fintech Neon recebe investimento de R$ 400 milhões

Com quase 2 milhões de contas ativas, startup vai usar recursos para acelerar crescimento; aporte acirra disputa entre bancos digitais brasileiros, como Nubank e Banco Inter

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Por Giovanna Wolf
Atualização:

A fintech brasileira Neon, conhecida por serviços financeiros como conta digital e cartão de crédito, anunciou nesta segunda-feira, 18, que recebeu uma nova rodada de investimento de R$ 400 milhões, liderada pelo Banco Votorantim e pelo fundo General Atlantic. Com os novos recursos, a empresa pretende acelerar o seu crescimento: a meta é crescer em três vezes o número de clientes da startup em 2020 – o Neon tem hoje quase 2 milhões de contas ativas

“A maior parte do capital será destinada à contratação de pessoas, principalmente na área de tecnologia”, afirmou Pedro Conrade, cofundador da empresa, em entrevista ao Estado. O Neon já tem contratado em ritmo acelerado: vai encerrar o ano com cerca de 600 funcionários, o triplo do que possuía no início de 2019. Além disso, mais vagas devem ser abertas para o ano que vem, de olho na expansão do portfólio de produtos da empresa fundada em 2016. 

Pedro Conrade, cofundador da fintech Neon Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Para Conrade, o número de quase 2 milhões de clientes mostra que a startup atingiu certo grau de maturidade. “Após diversas experiências e feedback dos usuários, o nosso produto está redondo e pronto para ser expandido”, diz o executivo. Entre os novos produtos, devem estar serviços de crédito e investimento – em julho, o Estado revelou que o Neon estava desenvolvendo uma linha de crédito pessoal. “Queremos ser uma conta completa que atenda todas as necessidades dos clientes”, afirma Conrade. 

Também estão na mira do Neon novas aquisições – recentemente, a empresa comprou a startup MEI Fácil, para fortalecer seus serviços voltados ao microempreendedor. A empresa, porém, ainda está prospectando possíveis nomes no mercado. 

Na visão do empreendedor, essa estratégia e o aporte de R$ 400 milhões credenciam a empresa a disputar espaço no mercado de bancos digitais no País. Hoje, o setor tem alta concorrência, liderado por Nubank e Banco Inter, mas também com nomes como C6 Bank, BS2 e Next, do Bradesco. "O Neon foi um dos pioneiros nos bancos digitais brasileiros e o aporte vem para colocá-los entre os grandes do mercado", avalia Rafael Ribeiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). "O desafio agora será a empresa se conectar com o Brasil como um todo, fora dos grandes eixos de empreendedorismo."

Não à toa, parte dos recursos serão destinados a investimentos em marketing, especialmente em campanhas fora da internet. “Somos bastante conhecidos no mundo digital, mas queremos ganhar espaço no mundo offline”, diz Conrade.

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Trata-se da segunda rodada de investimento levantada pela fintech. Em 2018, o Neon recebeu um aporte de R$ 72 milhões, com a participação dos fundos Monashees, Omidyar Network, Propel, Quona e Mabi. Apesar da receita do Neon ter crescido em nove vezes no último ano, o fluxo de caixa da startup ainda não é positivo. “Tendo em vista a oportunidade de crescimento no mercado nos próximos cinco anos, não queremos esperar o ritmo do fluxo de caixa e acreditamos que o aporte agora é melhor forma de continuar sustentando o nosso crescimento”, diz Conrade. 

Com o novo aporte, o Neon espera enterrar de vez um episódio conturbado em sua história: em maio de 2018, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Neon, parceiro bancário da fintech, conhecida legalmente como Neon Pagamentos – a startup de Conrade emprestava seu nome para a instituição financeira em questão, anteriormente chamada de Banco Pottencial. Na época, o Banco Central afirmou que a liquidação ocorreu por conta de irregularidades como deficiência patrimonial e não observância das regras de lavagem de dinheiro. 

Além da crise de imagem, uma vez que sua marca estava diretamente envolvida no imbróglio, a fintech ainda teve de correr contra o tempo para achar um novo parceiro bancário, que pudesse regularizar a prestação de seus serviços. Na época, os 600 mil clientes da startup ficaram dias sem poder acessar suas contas ou realizar funções básicas, como pagar uma conta. A situação só se resolveu quando o Banco Votorantim assumiu a função de parceiro – uma ligação que se intensifica nesta rodada de aportes. 

Um ano e meio depois, com mais que o triplo de clientes da época, Conrade acredita que a marca conseguiu se fortalecer novamente e reconquistar a confiança do mercado. “Hoje, por dia, são abertas cerca de 25 mil contas no Neon", diz. Na visão de Ribeiro, da ABStartups, "não é toda empresa que consegue superar um episódio como esses, mas eles tiveram maestria ao realizar esse processo. A fintech já está em outro patamar." 

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