PUBLICIDADE

GE investe em software para manter relevância

Gigante tenta criar sistema operacional para indústrias antes de Amazon e Google

Por Steve Lohr
Atualização:
 

O presidente executivo da General Electric, Jeffrey Immelt, lembra-se de um dia em 2009 que o deixou pensativo. Ele estava falando com cientistas da GE sobre motores para jatos que estavam sendo construídos, cheios de sensores que poderiam gerar milhões de dados a cada voo. Ele percebeu que esses dados poderiam se tornar tão valiosos quanto as máquinas num futuro próximo. Mas a GE, naquele momento, não sabia o que fazer com eles. “Precisamos ser mais capazes em software”, decidiu, então, o executivo. Talvez tivesse chegado a hora de a GE – que fabrica turbinas, locomotivas e equipamentos médicos – pensar como a Amazon e a IBM.

PUBLICIDADE

Em 2011, a GE abriu, sem alarde, um centro de desenvolvimento de software em São Ramon, cidade próxima a São Francisco, na Califórnia. Hoje, um dos projetos mais importantes do centro é um sistema operacional de escala industrial – como o Windows ou o Android, mas para funcionar em fábricas pelo mundo afora. O projeto, segundo Immelt, tem o objetivo de transformar a GE em uma das dez maiores companhias de software em 2020.

Os veteranos do Vale do Silício estão céticos. “A GE está tentando fazer isso da forma como uma grande empresa faz, colocando milhares de funcionários e bilhões de dólares no projeto”, disse o empreendedor Thomas Siebel, atual presidente executivo da startup C3 IoT, que já fez negócios com a GE no passado.

O completo de São Ramon, que é chamado de GE Digital, emprega 1,4 mil pessoas. Os prédios são adequados para desenvolvedores de software, com muitas lousas para rabiscar, cozinhas com petiscos à vontade e sofás para reuniões rápidas.

Muitas indústrias veem que há uma ameaça digital, mas o desafio é amplificado na GE, empresa de 124 anos com mais de 300 mil funcionários no mundo. Muitos funcionários da empresa tem ficado em São Ramon para tocar projetos, mas também para passar por uma imersão na nova cultura. Eles tentam adaptar os hábitos das pessoas que trabalham no Vale do Silício para o mundo de fabricação da GE.

Segundo Immelt, o sucesso ou o fracasso da GE na próxima década depende da transformação da empresa. Ele afirma que o projeto é o mais importante de sua carreira. Não há plano B. “É isso ou falir”, diz ele.

A empresa tenta acompanhar o avanço da tecnologia digital – que é composta de sensores baratos, computação poderosa e software hábil – no ambiente industrial. A próxima batalha é desenvolver softwares que conectem máquinas, o que promete ser um grande mercado para novos produtos e serviços. Eles vão trazer ganho de eficiência para indústrias como transportes e saúde. Em 2020, o mercado de “internet industrial” deve alcançar US$ 225 bilhões, segundo previsão de executivos da GE.

Publicidade

Uma das aplicações principais da “internet industrial” até o momento é a manutenção preventiva. Um software analisa os dados gerados pelos sensores instalados na máquina para identificar sinais de que ela precisa de reparos, antes mesmo que pare de funcionar.

Os volumes de dados estão explodindo à medida que máquinas antigas e novas ganham sensores. Em 2020, a GE estima que a quantidade de dados gerada por essas máquinas será cem vezes maior do que a atual. Isso poderá permitir análises muito mais detalhadas, o que dará à GE a chance de entregar a seus clientes vantagens como economia de combustível. 

O movimento, no entanto, expõe a GE a um novo tipo de competição, que vai além de suas tradicionais rivais, como Rockwell, Siemens e Unitec Technologies. Gigantes do setor de tecnologia, como Amazon, Cisco, Google, IBM e Microsoft, também estão de olho no mercado de “internet industrial”. A este grupo, soma-se um grande número de startups.

Há um precedente de problemas em indústrias tradicionais. O Google e o Facebook transformaram a mídia e a publicidade, a Amazon redefiniu o varejo e o Uber aplicou um modelo de negócios completamente diferente aos táxis, segmento que não mudava há várias gerações.

“O grande perigo é que os dados e a análise de dados passem a valer mais do que os equipamentos”, diz Karim Lakhani, professora da Harvard Business School. “A GE não tem escolha a não ser tentar fazer essa mudança primeiro.”

/TRADUÇÃO DE CLAUDIA TOZETTO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.