Gigantes tentam desenvolver ‘ética’ para máquinas

Google, Amazon e outras companhias de tecnologia tentam formar entidade para debater tema; organização será lançada em setembro

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Por John Markoff
Atualização:

Há anos os realizadores de filmes de ficção científica nos fazem temer as coisas ruins que as máquinas dotadas de inteligência artificial possam fazer para seus criadores humanos. Mas, dentro de uma ou duas décadas, é mais provável que as pessoas se preocupem com a possibilidade de ter seu emprego roubado por um robô ou de serem atropeladas por um carro sem motorista em alguma estrada. Agora, cinco das maiores empresas de tecnologia pretendem criar normas éticas em torno da criação de sistemas de inteligência artificial.

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Pesquisadores da Alphabet, holding que controla o buscador Google, e também de Amazon, Facebook, IBM e Microsoft, estão se reunindo para debater assuntos mais tangíveis que as ameaças retratadas nos filmes. Entre os temas estão o impacto da inteligência artificial sobre o emprego, o transporte e até a guerra.

Faz tempo que as empresas de tecnologia exageram nas promessas quanto ao que as máquinas inteligentes podem realizar. Nos últimos anos, porém, esse campo vem avançando rapidamente em vários segmentos – dos carros autônomos, passando por caixas de som inteligentes, como a Amazon Echo, até uma nova geração de sistemas de armas que ameaça automatizar os combates. 

Os detalhes quanto ao que o grupo de companhias fará – e até mesmo o nome da coalizão – estão em discussão. Mas a intenção básica é clara: assegurar que a pesquisa no campo da inteligência artificial tenha como foco beneficiar as pessoas, e não prejudicá-las, segundo as palavras de quatro participantes envolvidos na parceria.

A importância dos esforços é ressaltada em um relatório divulgado ontem por um grupo da Universidade de Stanford liderado por Eric Horvitz, pesquisador da Microsoft e um dos executivos que participam das discussões. O projeto, chamado One Hundred Years Study on Artificial Intelligence (estudo de cem anos sobre inteligência artificial), estabelece um plano para produzir um estudo detalhado quanto ao impacto da inteligência artificial sobre a sociedade a cada cinco anos ao longo do próximo século.

Uma das principais preocupações do setor de tecnologia está relacionada à participação dos órgãos reguladores no debate e na definição de regras. Eles estão tentando estruturar uma organização autorregulamentada, mas ainda não está claro como ela funcionará. “Não afirmamos que não haverá supervisão das autoridades”, disse Peter Stone, cientista na Universidade do Texas em Austin, um dos autores do relatório. “O que dizemos é que existe um caminho certo e outro errado.”

Parceria. Embora o setor de tecnologia seja muito competitivo, existem exemplos de empresas que já trabalharam juntas quando era em seu próprio interesse. Na década de 1990, empresas de tecnologia concordaram com a adoção de um método padrão de codificação das transações de comércio eletrônico, estabelecendo as bases para duas décadas de crescimento nas transações pela internet.

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Os autores do relatório da Universidade de Stanford afirmam que será impossível regulamentar a inteligência artificial. “O consenso é de que tentativas para regulamentar esse campo em geral serão equivocadas, uma vez que não existe uma definição clara do que é inteligência artificial e os riscos e considerações são muito diferentes”, escrevem os pesquisadores no relatório.

Uma recomendação do relatório é aumentar a percepção de que é preciso que todos os níveis de governo sejam especialistas em inteligência artificial. 

O documento insiste também para que os gastos privados e públicos nesse campo aumentem. “Existe um papel para o governo e respeitamos isso”, disse David Kenny, diretor da divisão de inteligência artificial da IBM. O problema é que “muitas vezes as políticas estão atrasadas em relação às tecnologias”. A nova organização deve ser anunciada ainda este mês.

/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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