Inclusão social vira negócio de startups

Empresas criam tecnologias para ajudar comunicação de deficientes – e faturam alto

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Por Thiago Sawada
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 Foto: Divulgação

As tecnologias para pessoas com deficiência estão na mira de startups brasileiras. A Livox, que desenvolveu um aplicativo que ajuda essas pessoas a se comunicarem, acaba de receber US$ 550 mil do Google para aprimorar o sistema. O aplicativo, que tem mais de 20 mil usuários no País, gera dinheiro com a venda da licença para famílias, governos e instituições de amparo à deficientes. “Aqui no Brasil, muitas pessoas acham errado ganhar dinheiro com negócios sociais. Mas nós somos uma empresa com fins lucrativos”, diz o fundador e presidente executivo da Livox, Carlos Pereira.

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O aplicativo surgiu da necessidade de Pereira se comunicar com a filha Clara, de 8 anos, que tem paralisia cerebral. “Minha filha queria falar comigo, mas não havia nenhum software de comunicação alternativa em português”, conta. O aplicativo desenvolvido por Pereira – e que se tornou o negócio principal da Livox – exibe figuras, textos e áudios para traduzir o que os deficientes gostariam de dizer. Conforme o usuário toca na tela, o sistema constrói uma frase com base nesses conteúdos. Para usar o aplicativo, é preciso comprar pagar R$ 800 por ano ou pagar pela licença vitalícia, no valor de R$ 1.350. Em quatro anos, a empresa já conseguiu faturar US$ 2,5 milhões.

Segundo João Melhado, coordenador de pesquisa e mobilização da entidade de apoio a empreendedores Endeavor, o Brasil tem boas oportunidades para interessados em soluções para pessoas com deficiência. “Anos atrás, empresas que queriam resolver grandes problemas sociais eram marginalizadas”, afirma. Os deficientes representam a maior minoria no País, segundo dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados de 2010 mostram que 23,9% da população brasileira – o equivalente a mais de 45 milhões de pessoas – têm alguma deficiência. “É um mercado que está dando seus primeiros passos e está crescendo”, diz Melhado.

Um incentivo adicional para a ampliação deste segmento é a Lei Brasileira da Inclusão, que entrou em vigor em janeiro de 2016. Entre as novidades, o destaque fica para a regra que obriga as empresas a ajustarem seus sites para oferecer conteúdo acessível. “Isso gerou uma demanda imediata”, afirma o gerente de negócios da Hand Talk, Pedro Branco.

Fundada há quatro anos, a startup oferece um aplicativo gratuito que traduz textos para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ele já foi baixado quase 1 milhão de vezes. Além disso, a empresa oferece um serviço que traduz conteúdos na internet para Libras: empresas pagam para incorporar o intérprete virtual, chamado Hugo, em seus sites. Mais de 3 mil sites brasileiros já adotaram a tecnologia. A previsão da startup é faturar quatro vezes mais em 2016, em relação ao registrado no ano passado.

“Finalmente as empresas estão abrindo os olhos e passando a enxergar os deficientes como consumidores”, diz o diretor da Essential Accessibility, Aurélio Pimenta. A empresa canadense, fundada em 2008, também aposta no crescimento do mercado nacional. Em dois anos, investiu R$ 200 mil para trazer ao País um software que, com a câmera do computador, monitora o movimento da cabeça da pessoa, como forma de movimentar o cursor sem uso do mouse.

Apesar de promissor, o segmento ainda oferece desafios para startups. “Poucos negócios de impacto social já receberam investimentos, porque muitas vezes a startup não tem um modelo de negócio escalável”, diz Melhado. Em geral, os empreendedores se mantêm mais focados em aprimorar a tecnologia do que cuidar da saúde financeira do negócio.

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Além disso, convencer as empresas de que é preciso investir em acessibilidade não é fácil. “Poucas empresas veem a inclusão como prioridade”, diz o gerente de negócios da Hand Talk.

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