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Maior cena de startups brasileira; São Paulo é marcada por pulverização

Principal mercado do País atrai negócios de todos os estados em busca de investidores, clientes e reconhecimento

Por Ligia Aguilhar
Atualização:
 

*As reportagens sobre São Paulo e Campinas formam a quarta e última parte da série sobre as principais cenas de startups do Brasil

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No fim de 2006, o empreendedor Marco Gomes teve a ideia que culminou na criação da Ad Network (como são chamadas as plataformas que fazem uma ponte entre sites segmentados e anunciantes) Boo-Box. Sem um protótipo funcional, ele cadastrou no site de tecnologia americano TechCrunch a proposta de criar um sistema no qual blogueiros e donos de perfis famosos na web poderiam ganhar dinheiro veiculando publicidade, ao mesmo tempo que anunciantes ganhavam escala nas mídias sociais. Ele caiu nas graças dos editores e o artigo sobre o seu projeto logo atraiu investidores como o fundo Monashees. Foi quando ele largou uma carreira como funcionário público em Brasília para vir empreender em São Paulo.

“Na minha época não tinha movimento algum de startups na cidade. Precisava confiar e me aconselhar com investidores. A única fonte de informação eram as publicações do Vale do Silício, como o TechCrunch”, diz Gomes.

Hoje referência no mercado brasileiro como um dos empreendedores mais bem-sucedidos da atualidade – sua empresa tem 1,5 mil clientes e foi considerada uma das mais inovadoras do mundo pelas revistas Fast Company e Forbes – Gomes escolheu São Paulo para como base de seu negócio por ser o local onde há concentração de dinheiro, clientes e investidores. Ele crê que muita coisa avançou na cidade, hoje com muito mais empreendedores de startups, mas aponta que a falta de informações continua.

“Sou ciclista e há um bar em Pinheiros para onde toda semana as pessoas vão porque sabem que vão encontrar outros ciclistas para acompanhá-los em uma volta pela cidade. Não temos um lugar assim para empreendedores em São Paulo. Falta união entre as startups daqui e digo isso como uma autocrítica, porque eu também não estou fazendo nada para puxar esse movimento” diz. “Talvez todo mundo daqui esteja muito focado em seus negócios”, diz.

Entre os investidores, as startups da cidade chamam a atenção. “Somos um fundo nacional. mas até agora só investimos em empresas de São Paulo”, diz Magnus Arantes, presidente do Harvard Angels, grupo de investidores-anjo formado por ex-alunos de Harvard.

Concentração. No ano passado, a SP Negócios, braço da Prefeitura de São Paulo, fez um estudo para lançar a a política municipal de estímulo à inovação e ao desenvolvimento de startups Tech Sampa, que engloba uma série de iniciativas para capacitar empreendedores de tecnologia, oferecer capital a eles e transformar grandes empresários em investidores-anjo.

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O estudo mostrou que a distância geográfica e “emocional” dos empreendedores é um dos principais problemas que atravancam o avanço da cidade como um polo de inovação.

“O ambiente para o surgimento de startups em São Paulo é muito forte, o melhor do País, mas precisa ser melhor articulado para ser fortalecido”, diz o presidente da SP Negócios, Wilson Poit. “Queremos que o Centro seja um polo de inovação e que as empresas e aceleradoras queiram ir para lá”, diz.

Para isso, a Prefeitura planeja transformar telecentros em espaços compartilhados de trabalho. Já está em andamento um edital para a criação de 12 FabLabs (oficinas abertas com ferramentas tecnológicas), sendo que pelo menos um ficará no Centro. Outra meta é conversar com proprietários de prédios públicos para transformá-los em escritórios para startups, além de levar algumas aceleradoras e escritórios de coworking para lá.

Já a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) organizou no ano passado a Case (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo), em São Paulo, evento que tenta se firmar como um agregador da cena paulistana de startups com o restante do País e principal evento de empreendedorismo do ano.

 

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Ensino

Na outra ponta, a Universidade de São Paulo (USP) tem se esforçado para se tornar um polo de startups. Embora abrigue há 20 anos centros de excelência como a incubadora Cietec, faltava à universidade um currículo mais “empreendedor”. Essa realidade começou a mudar nos últimos anos com a inclusão de disciplinas abertas para alunos de diversos cursos e a criação de um mestrado em empreendedorismo.

Nesse contexto ganhou força o Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), que funciona dentro de um espaço equipado com computadores, mesas e impressoras 3D. O núcleo possui 20 membros que organizam eventos para ensinar empreendedorismo e ajudar as startups no dia a dia. “Antes não falávamos a palavra empreendedorismo em voz alta. Hoje, a inovação é um dos eixos do nosso plano de metas”, diz o professor Guilherme Ary Plonski.

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O núcleo acaba de fechar uma parceria com o programa itinerante de aceleração Startup Farm para criar a primeira iniciativa de aceleração dentro de uma universidade no Brasil. “Houve uma mudança cultural na USP depois que saíram daqui casos de sucesso como a 99 Táxis, Kekanto e Worldpackers. O NEU é resultado da articulação dos próprios alunos para criar algo mais organizado para quem deseja empreender”, diz Arthur Tavares, presidente do Neu.

“Na minha época, os professores nunca olharam de forma positiva para quem empreendia e não incentivavam os alunos a criar o próprio negócio”, afirma Fernando Okumura, da Kekanto, aplicativo de recomendação que hoje soma 2 milhões de usuários. Hoje, eles acreditam que este processo foi simplificado. “São Paulo é o lugar mais fácil para achar parceiros e investidores. Só falta organizar o networking”, diz.

A USP também virou um celeiro de talentos para startups da cidade. É nos arredores da universidade que está o Villa Lobos Office Park, prédio onde o fundo Rocket Internet mantém suas startups investidas, que hoje são empregadoras de diversos alunos da universidade. Foi o Office Park que fez Tallis Gomes, criador do aplicativo Easy Táxi, atualmente com 10 milhões de usuários em 30 países, deixar o Rio de Janeiro uma semana após abrir o negócio, em 2011. “Tentei gerenciar o negócio no Rio e não deu certo. Mudei para São Paulo, no escritório em frente a USP, e aqui conseguia contratar caras absurdos”, diz. “A Poli forma muitos profissionais com o perfil que procuro, que são pessoas muito inteligentes e focadas em dados.”

Ele agora se dedica a outro negócio, a eGenius, uma espécie de fábrica de startups que tem como meta criar quinze negócios em cinco anos nos mercados de O2O (online to off-line, como o app de táxis)e internet das coisas. “Tudo acontece em São Paulo. Várias pessoas estão tentando fazer um trabalho de liderança por aqui, falta os empreendedores aderirem”, diz.

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