Microsoft mergulha data center no oceano

Nova técnica pode permitir a redução de custos com refrigeração de servidores

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Por Agências
Atualização:

The New York Times

 

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John MarkoffThe New York Times

Inspirados por Julio Verne, pesquisadores da Microsoft acreditam que o futuro dos data centers pode estar no fundo do mar. A Microsoft testou o protótipo de um centro de processamento de dados autônomo capaz de operar a centenas de metros abaixo da superfície do oceano, o que elimina um dos mais caros problemas do setor de tecnologia: o custo do ar-condicionado.

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Hoje, os data centers – que processam do streaming de vídeo às redes sociais e e-mail – contêm milhares de servidores que geram muito calor. Quando este calor é excessivo os servidores entram em pane. Colocar o equipamento embaixo das águas frias do oceano pode resolver o problema. E também pode ser uma resposta à demanda de energia que cresce exponencialmente, já que a Microsoft planeja usar uma turbina para gerar eletricidade com ajuda das marés.

A iniciativa, chamada Project Natick, resultará na instalação de gigantescos tubos de aço ligados por cabos de fibra óptica no fundo do oceano. Outra possibilidade seria o uso de cápsulas em suspensão sob a superfície marítima para capturarem as correntes oceânicas com turbinas que geram eletricidade. “Quando ouvi falar desse projeto, pensei, por que alguém combinaria água e eletricidade?”, disse Ben Cutler, projetista de computadores da Microsoft e um dos engenheiros envolvidos no projeto. “Mas quando você pensa mais sobre o assunto, acaba percebendo que faz muito sentido.”

Uma ideia tão radical como essa deve enfrentar obstáculos, como preocupações ambientais e imprevistos técnicos. Mas, para os pesquisadores da Microsoft, ao produzir em massa as cápsulas, eles poderiam reduzir o tempo de instalação de novos data centers – que hoje leva dois anos em terra – para apenas 90 dias, com grandes benefícios em termos de custo.

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Os servidores submarinos poderiam ajudar a tornar os serviços de internet mais rápidos. Grande parte da população mundial vive hoje em centros urbanos próximos a oceanos, mas distantes dos data centers, que normalmente ficam em lugares remotos com muito espaço.

A possibilidade de colocar o poder de computação perto dos usuários reduz o período de latência na transmissão dos dados, que é o grande problema enfrentado pelos usuários da web. “Há anos os principais provedores de computação em nuvem buscam locais não só considerando o uso de energia limpa, mas também a extração de benefícios do meio ambiente”, disse Larry Smarr, físico e especialista em computação científica, diretor do Instituto para Tecnologia da Informação e Telecomunicações da Universidade da Califórnia.

Motivadas por tecnologias tão variadas como o entretenimento digital e a rápida chegada da chamada “internet das coisas”, a demanda por data centers vem crescendo enormemente. A Microsoft administra mais de cem instalações do tipo em todo o mundo e esse número vem aumentando rapidamente. A companhia investiu mais de US$ 15 bilhões em um sistema de centro de dados global que hoje fornece mais de 200 serviços online.

Em 2014, engenheiros de uma divisão da Microsoft conhecida como Novas Experiências e Tecnologias (NExT, na sigla em inglês), começaram a pensar em uma nova maneira para acelerar drasticamente o processo de ampliação da potência dos sistemas de computação em nuvem. “Quando você pega seu smartphone pensa que está usando este pequeno computador milagroso, mas na verdade são mais de cem computadores usados nesta coisa chamada nuvem”, disse Peter Lee, vice-presidente corporativo da Microsoft Research e da NExT. “E então você multiplica isto por bilhões de pessoas e o resultado é um enorme volume de trabalho de computação”.

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Experimento. A companhia recentemente concluiu um teste que durou 105 dias, em que manteve uma cápsula de aço de 2,40 metros de diâmetro a 10 metros abaixo da superfície da água no costa do Oceano Pacífico, próximo à Califórnia. Controlado a partir do campus da Microsoft, o experimento teve mais sucesso do que era esperado. Os pesquisadores se preocupavam com falhas no hardware e vazamentos. O sistema submarino estava equipado com cem diferentes sensores para medir a pressão, umidade, movimento e outras condições para melhor entender como é operar em um ambiente onde é impossível enviar um técnico para reparar defeitos no meio da noite. O sistema funcionou perfeitamente.

Segundo a Microsoft, isso levou os engenheiros a ampliarem o tempo de duração do experimento e mesmo a operar projetos de processamento de dados comerciais a partir do Azure, serviço de computação em nuvem da Microsoft.

Empresa deve testar sistema três vezes maior

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O grupo de pesquisa da Microsoft começou a projetar um sistema subaquático que será três vezes maior. Ele será construído em parceria com uma empresa que vai desenvolver sistema de energia alternativa a partir do oceano. Os engenheiros da Microsoft esperam que um novo teste comece no próximo ano, possivelmente perto da Flórida ou no norte da Europa, onde há muitos projetos de energias alternativas.

O primeiro protótipo, denominado Leona Philpot – personagem da série de videogames Halo, da Microsoft – foi recuperado e retornou ao campus da companhia coberto de crustáceos.

Trata-se de um tubo branco de aço com os dois lados selados por placas de metal e parafusos gigantes. Na parte interna, há apenas um servidor que foi banhado em nitrogênio para remover, de forma eficiente, o calor do equipamento quando ele estiver embaixo d’água.

A ideia de manter um data center embaixo d’água surgiu de uma equipe de pesquisadores em 2014. Um deles tinha experiência em um submarino da Marinha.

/TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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