Nubank vira maior startup latina com aporte de US$ 180 mi de chinesa
Novo patamar. Dona de serviços como WeChat e WePay, populares na Ásia, Tencent adquiriu participação minoritária na brasileira; para especialistas, investimento ajudará empresa de cartões de crédito a ganhar escala e se tornar banco digital ‘completo’
Por Bruno Capelas e Giovanna Wolf Tadini
Atualização:
A startup brasileira Nubank, conhecida pelo seu cartão de crédito roxo, anunciou ontem que recebeu uma rodada de investimentos de US$ 180 milhões da chinesa Tencent, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. De acordo com o site americano The Information, que antecipou a notícia, o investimento faz o Nubank ser cotado em US$ 4 bilhões, tornando-se a maior startup de capital fechado da América Latina.
Segundo as companhias, US$ 90 milhões serão investidos diretamente na empresa, enquanto outros US$ 90 milhões serão utilizados pela asiática para comprar participação de outros acionistas da startup brasileira. Ao todo, a chinesa deve ter uma fatia de cerca de 5% dentro do Nubank, disseram fontes próximas ao assunto.
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Fundado em 2013, pelo colombiano David Vélez, o Nubank tem registrado crescimento expressivo nos últimos meses: há duas semanas, divulgou ter 5 milhões de clientes em seu cartão de crédito controlado por aplicativo, 20% mais do que tinha em fevereiro. Além disso, a empresa também tem 2,5 milhões de usuários em sua conta bancária digital, a NuConta, lançada há cerca de um ano.
“O projeto do Nubank é ser um banco digital completo. Uma avaliação de mercado de US$ 4 bilhões é condizente com o potencial da empresa”, avalia Guilherme Horn, diretor executivo de inovação da consultoria Accenture. Na visão do especialista, os números atuais do Nubank o credenciam como um dos maiores bancos digitais do mundo, mesmo atuando apenas no Brasil – em entrevista recente, David Vélez negou ter planos de expansão para a América Latina no curto prazo.
Já para o presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Amure Pinho, o investimento mostra a força do ecossistema brasileiro de startups, mesmo em meio à crise. “É um sinal de que nosso mercado consumidor interno tem apetite”, afirma ele, ressaltando que o investimento ajudará o Nubank a brigar de frente com as instituições bancárias tradicionais brasileiras. “A empresa tem tudo para ser a maior emissora de cartões do País em breve.”
Veja a história do Nubank em 17 fotos
1 / 17Veja a história do Nubank em 17 fotos
Outubro de 2012
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Março de 2013
Depois de algumas frustrações com bancos, Vélez levanta seed de US$ 2 milhões da Sequoia Capital e Kaszek Ventures para criar em uma nova startup de s... Foto: NubankMais
Maio de 2013
Ao lado da executiva Cristina Junqueira, que acumulava experiências no setor financeiro e no Banco Itaú, e do programador norte-americano Edward Wible... Foto: NubankMais
Abril de 2014
A Sequoia Capital, em parceria com a Kaszek Ventures e com o bilionário empreendedor Nicolas Berggruen, anuncia um aporte de US$ 14,3 milhões no Nuban... Foto: NubankMais
Setembro de 2014
O Nubank lança seu cartão de crédito para o público, reforçando sua identidade de um serviço financeiro livre de tarifas e anuidade, gerenciado por um... Foto: NubankMais
Junho de 2015
A startup recebe um aporte de R$ 90 milhões liderado pelo fundo Tiger Global Management com a participação de outros fundos já investidores, como Sequ... Foto: Alex SIlva/EstadãoMais
Janeiro de 2016
Numa rodada liderada pelo Founders Fund, fundo de investimento do bilionário do Vale do Silício Peter Thiel - que cofundou o PayPal e foi um dos prime... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
Dezembro de 2016
O fundo DST Global, do bilionário russo Yuri Milner, lidera nova rodada de investimentos para a startup, que recebe um novo aporte de US$ 80 milhões. ... Foto: Vtao Nakayama/NubankMais
Outubro de 2017
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Dezembro de 2017
O Nubank anuncia a abertura de seu primeiro escritório internacional em Berlim, na Alemanha. A sede é voltada para a área de engenharia da startup, e ... Foto: NubankMais
Janeiro de 2018
Depois de uma espera de quase dois anos, o Nubank recebeu autorização do Banco Central para operar como instituição financeira. Isso permite que a emp... Foto: Alex Silva/EstadãoMais
Fevereiro de 2018
O Nubank torna-se a terceira startup brasileira a obter um valor de mercado de US$ 1 bilhão. Os outros dois “unicórnios” são o aplicativo de transport... Foto: NubankMais
Outubro de 2018
Foi a vez da gigante chinesa Tencent, dona de serviços como WeChat e WePay, populares na Ásia, investir no Nubank. A startup recebeu uma rodada de US$... Foto: Kim Kyung-Hoon/ReutersMais
Dezembro de 2018
A empresa deu mais um passo rumo a tornar-se um banco tradicional e anunciou um cartão de débito e saques em caixas eletrônicos. Os clientes tiveram a... Foto: Bruno Capelas/EstadãoMais
Junho de 2019
O Brasil ficou pequeno para o Nubank: a empresa anunciou a inauguração de escritórios no México e na Argentina. O objetivo do Nubank foi atingir um pú... Foto: Paulo Whitaker/ReutersMais
Julho de 2019
No início do mês, empresa chegou a 10 milhões de clientes, incluindo contas digitais e cartões de crédito, e encerrou a lista de espera para a liberaç... Foto: Hélvio Romero/EstadãoMais
Julho de 2019
O Nubank encerrou o mês em alto estilo: tornou-se a primeira startup brasileira avaliada em cerca de US$ 10 bilhões. A empresa recebeu uma rodada de i... Foto: Helvio Romero/EstadãoMais
Destino. Em comunicado divulgado à imprensa, o presidente executivo do Nubank, David Vélez, ressaltou que a empresa não “precisava de mais capital neste momento” – em março, a startup recebeu um aporte de US$ 150 milhões do fundo DST Global. “Já geramos caixa operacional desde o ano passado, mas não poderíamos deixar passar a oportunidade de ter a Tencent conosco.” Para especialistas ouvidos pelo Estado, a troca de conhecimento com a chinesa será o principal ganho do Nubank na operação.
“Os chineses têm um grande conhecimento para fazer negócios ganharem escala”, diz Horn, da Accenture. “Além disso, mudanças que já estão maduras na China ainda não aconteceram aqui, como toda a revolução na área de pagamentos.”
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É um setor que a chinesa tem experiência: hoje, é dona do WePay, um dos serviços de pagamentos móveis mais populares do mundo. Ele funciona dentro do WeChat, espécie de WhatsApp chinês, utilizado por mais de 1 bilhão de pessoas atualmente. Além disso, a Tencent também tem participações em empresas como Tesla, Snap e o aplicativo de transportes Didi. Avaliada em US$ 360 bilhões, a chinesa também é dona da Riot, produtora do sucesso dos games League of Legends.