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O boom do empreendedorismo digital no Brasil

Nosso ecossistema está em seu melhor momento, apesar da crise, mas temos um desafio enorme pela frente: formar quem vai trabalhar nas empresas que nascem hoje

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Por Manoel Lemos
Atualização:

Há 20 anos eu estava me aventurando pela primeira vez no mundo do empreendedorismo. Havia criado minha primeira startup, um portal de serviços de informações por meio de SMS. Depois de passar meses no Vale do Silício e ainda tentando concluir um mestrado na Unicamp, tudo era novo para mim. Resolver problemas técnicos, descobrir como monetizar minha ideia, construir um plano de negócios e buscar financiamento. A startup não deu certo, não concluí o mestrado e gastei minhas economias. Para tentar captar recursos para a empresa, tive a ajuda de uma consultoria e conseguimos a atenção alguns interessados. A maioria eram grandes bancos internacionais e alguns fundos que estavam investindo pesado nas “.com”. Colocamos o bloco na rua no começo de 2000 e logo a bolha das “.com” estourou – e com ela, todos os meus planos.

SoftBank, de Claure, tem injetado dinheiro nas startups brasileiras Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Ná época, não havia no Brasil um ecossistema que suportasse este novo tipo de empresas. Eram só uns poucos empreendedores, que conseguiram seguir seus projetos e criar empresas que ficaram grandes. Não existiam investidores-anjo para bancar os primeiros passos das startups, a infraestrutura era precária, não havia troca de conhecimentos e financiar uma startup era quase impossível.

De lá para cá, tudo mudou. Nosso ecossistema está em seu melhor momento, apesar da crise. Temos milhares de empreendedores se dedicando a resolver os mais diversos problemas. São quase 10 mil investidores anjo, dezenas de aceleradoras e hubs de inovação, além de um número cada vez maior de fundos locais de venture capital. Os casos de sucesso já aparecem e atraem o interesse de fundos internacionais, que assinam cheques maiores para as empresas seguirem crescendo. A troca de informações entre os fundadores é intensa – a experiência de quem já passou por etapas anteriores serve como inspiração. As grandes corporações também se aproximam destas empresas, consumindo serviços, investindo em projetos estratégicos e até fazendo aquisições. É um ciclo virtuoso. 

Sem a pretensão de ser científico, as últimas notícias reforçam esta visão. Segundo a LAVCA (Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina) tivemos em 2018 o 2º ano consecutivo em que os investimentos na região praticamente dobraram. Em 2018, foi pouco menos de US$ 2 bi. Tudo indica que o 2019 será um ano recorde – o grupo japonês SoftBank tem assinado cheques de milhões em startups do País. 

É hora de entender, porém, que a principal matéria prima do ecossistema não é capital. São pessoas. Teremos um desafio enorme de formar quem vai trabalhar nessas empresas – papel fundamental no futuro da nossa economia. Se quisermos que o próximo 20 anos sejam tão interessantes quanto os últimos 20, temos que encarar o desafio da educação no Brasil. Mas isto merece uma nova coluna.É SÓCIO DO FUNDO REDPOINT EVENTURES

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