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O Brasil precisa de uma inovação

'A' inovação que precisamos é cuidar da educação no longo prazo, como um desafio nacional, do Estado. E não de partidos ou mandatos

Por Silvio Meira
Atualização:

Num lugar que precisa de tanto, dizer que precisamos de “uma” inovação parece brincadeira. Inovação, segundo Drucker, é a mudança de comportamento de agentes, no mercado, como fornecedores e consumidores de qualquer coisa. Mercado não só o de rapadura a contratos futuros, mas de tudo, inclusive ideias. Porém, quando consideram-se as necessidades de um dos lugares mais desiguais da Terra, nossa terra demanda, acima de todas, uma inovação.

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Gilberto Freyre considerava o tempo tríbio: uma interseção do presente, de fragmentos do passado e de projeções do futuro, tudo ao mesmo tempo, agora. Assim são nossas vidas e o tempo das organizações e sociedade. O agora é uma máquina de consumir possíveis futuros, no presente, transformando-os em passado, imediatamente. O filtro do agora é estreito, são poucos os futuros que se tornam presente e, depois, história. Somos conscientes dessa realidade, face à nossa impermanência.

Na política, tal percepção se torna realidade trágica. Considere a magnitude e complexidade do nosso território, população e seus problemas e pense quantos podem ser resolvidos em um mandato. Um destes problemas é alfabetização. Em 2016, a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro mostraram que só 8% dos brasileiros tinha “domínio de habilidades para compreender e interpretar textos em situações usuais e resolver problemas envolvendo múltiplas etapas, operações e informações.”

Ou seja: mais de 90% dos brasileiros não consegue ler um manual e usá-lo, na prática, para resolver um problema. Será que tal nível de (in)competência afeta a produtividade brasileira que, hoje, é a mesma dos anos 1960, enquanto a da China cresceu três vezes no período? Estamos nos últimos lugares do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), sem evolução, e a China acima dos EUA em matemática e ciências. Aí tem.

Aí tem “a” inovação que o Brasil precisa. E não é o velho – e atual – “precisamos melhorar a qualidade e universalidade da nossa educação”. Isso todos sabem – e poucos fazem. “A” inovação que precisamos é cuidar da educação no longo prazo, como um desafio nacional, do Estado. E não de partidos ou mandatos.

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Enquanto oscilarmos entre teorias, práticas e testes, nunca chegaremos a Portugal, que está acima dos EUA no Pisa. É possível e não exige recursos que não temos. Mas é preciso dedicação que nunca tivemos, pois a educação nunca foi tratada como problema que veio do passado e que, para estar resolvida no futuro, precisa de energia no presente. Agora e sempre.

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