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O ciclo virtuoso da transformação digital

Uma tríade formada por propósito, impacto e enriquecimento guia as gerações que já estão e as entrantes no mercado de trabalho e criam uma perspectiva promissora para a América Latina

Por Julio Vasconcellos
Atualização:

Em agosto, o Mercado Livre se tornou a companhia mais valiosa da América Latina. É a primeira vez que uma empresa tecnológica conquista o posto, deixando para trás no pódio as historicamente invictas mineradoras e petroleiras. O feito é uma prova do avanço da transformação digital na região, já representada em outros números. A participação de empresas de tecnologia no PIB brasileiro, por exemplo, triplicou na última década. 

Para descrever o que esses marcos significam verdadeiramente para a sociedade latino-americana, porém, e encaixar com alguma precisão a pandemia e suas repercussões nesse contexto, é preciso dar alguns passos atrás, olhar passado e presente de uma região conhecida por suas especificidades e, sobretudo, desigualdades sociais.

Hoje, uma quantidade cada vez maior de talentos abandonam carreiras tradicionais no mercado financeiro e em corporações gigantes para encontrar propósito em uma startup. Foto: Werther Santana/Estadão

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Nosso fundo de venture capital, Atlantico, faz uma análise profunda anual com base em centenas de números para acompanhar o curso da transformação digital. Pela primeira vez, abrimos os resultados ao público.

Apesar da acelerada na digitalização que vivenciamos nos últimos anos, a penetração da tecnologia no Brasil (com base no valor de mercado de empresas de tecnologia como porcentual do PIB) é de somente 3%, enquanto os Estados Unidos batem os 39% e a Índia, nossa companheira entre os emergentes, alcança os 13%. Para além de qualquer competição entre países, o que esse número representa é bem ilustrado em uma frase do escritor William Gibson: “o futuro já está aqui – só não está distribuído igualmente”. 

Um dos efeitos do coronavírus (e do chamado “novo normal”) foi o de tornar, forçadamente e em circunstâncias extremas, esse tal futuro mais acessível a todos. Para dar uma ideia, em 10 semanas de pandemia, a participação do e-commerce no varejo aumentou os mesmos 5% que havia crescido nos últimos 10 anos. No setor financeiro, somente o aplicativo Caixa Tem, usado para distribuir o auxílio emergencial, foi baixado 30 milhões de vezes. 

A escalada exponencial da tecnologia aconteceu de repente com o coronavírus, mas não faltavam vestígios de seu curso. Bastava olhar para onde o capital financeiro e humano estavam fluindo. De um lado, investimentos em venture capital no Brasil superaram 2 bilhões de dólares, depois de quase dobrarem anualmente desde 2016. De outro, uma quantidade cada vez maior de talentos abandonam carreiras tradicionais no mercado financeiro e em corporações gigantes para encontrar propósito em uma startup

A primeira onda a que assistimos nesse sentido foi a de empreendedores brasileiros criando negócios globais e tornando-se exemplos para uma próxima geração – Mike Krieger, do Instagram, e, Henrique Dubugras, da Brex, são alguns. Depois, uma nova leva surgiu, determinada a desbravar e resolver gargalos conhecidos na América Latina. Com clínicas populares e telemedicina, o Dr. Consulta se propõe a resolver o acesso à saúde a uma população que, quando muito, entra em filas no SUS. O Nubank incluiu milhões de brasileiros no sistema financeiro, num modelo justo e digital. A Stone modernizou pagamentos e garantiu competitividade de PMEs. O efeito dessas histórias vai além dos negócios em si: pressionam sistemas a melhorarem para continuarem no jogo. Os avanços do PIX, do Banco Central, são uma amostra disso. 

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A onda atual é a de talentos, com diferentes experiências e idades, se juntando a essas e outras startups com ambições tão grandiosas quanto às mencionadas. Em pesquisa com cerca de 2 mil alunos de faculdades, 26% disse ter vontade de trabalhar com tecnologia – outros 27% deles já fazem estágio!. A promessa vai além de gerar impacto na vida de pessoas. É, também, a de enriquecer junto à empresa, a partir de um modelo que permite a colaboradores ganharem participação no negócio. Uma média de 7% do valor de mercado dos unicórnios da América Latina estão na mão de funcionários, sem contar com os fundadores. Na média, cerca de 70 funcionários por unicórnio já têm, ao menos, R$ 1 milhão em equity (e muitos, valores dez vezes maior). É incrível pensar que os novos milionários latino-americanos estão no quadro de empregados em startups. 

O movimento a que assistimos nos últimos anos e, especialmente, ao longo da pandemia, forma um ciclo virtuoso. Uma tríade formada por propósito, impacto e enriquecimento guia as gerações que já estão e as entrantes no mercado de trabalho e criam uma perspectiva promissora para a América Latina. Impossível prever o futuro, mas o que tudo indica é que essa fórmula pelo menos colocará o futuro na mão de mais e mais pessoas. É SÓCIO DO FUNDO DE VENTURE CAPITAL ATLANTICO. FOI FUNDADOR DO PEIXE URBANO E DO CANARY

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