Os erros e acertos de quem tenta criar uma startup

Em busca de reduzir as chances de falhar, empreendedores começam a buscar capacitação antes de desenvolver um novo negócio digital

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Foto do author Matheus Mans
Por Claudia Tozzeto e Matheus Mans
Atualização:

Como muitos jovens, a paulistana Camila Florentino saiu da universidade cheia de sonhos. Para seu trabalho de conclusão, desenhou um aplicativo para conectar quem quer fazer eventos a todo o tipo de fornecedores. “Eu achava que ia mudar o mundo”, conta. “Passei um ano trabalhando como louca para juntar R$ 200 mil, que era o que eu achava que bastaria para tirar meu negócio do papel.” Não foi tão fácil assim: em quatro anos, a startup Celebrar teve de se transformar duas vezes para não falir . “Trabalhamos sem salário durante dois anos.”

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A história de idas e vindas de Camila é retrato da trajetória de muitos empreendedores brasileiros. Eles começam essa jornada cheios de ilusões, que desviam sua atenção de aspectos importantes do negócio e colocam a nova empresa em risco.

Nos últimos anos, porém, muitos empreendedores passaram a procurar mais capacitação antes de começar uma startup. Os cursos – geralmente oferecidos em aceleradoras e espaços dedicados a startups – apresentam metodologias para testar o impacto desses negócios digitais de forma rápida, o que reduz o risco de fracasso.

Em maio, a reportagem do Estado frequentou um deles: trata-se de um workshop que ensina empreendedores a criar uma startup em quatro semanas. Chamado de Colisões, o curso é promovido pela aceleradora de startups Ace, em São Paulo. As “lendas” sobre as startups são o foco da primeira aula. “Muitos empreendedores acham que basta ter uma ideia”, explica Vinícius Machado, criador do Colisões. “Com o curso, ajudamos o empreendedor a derrubar vários mitos.”

O discurso logo vira prática, quando os cerca de 30 empreendedores dividem-se em grupos para criar um novo negócio digital por semana. Se for um aplicativo, por exemplo, eles devem criar um protótipo e convencer algumas pessoas a usá-lo até a próxima aula – o processo é repetido toda semana. Boas ideias não faltam: um grupo criou uma espécie de Airbnb para guardar caixas, outro pensou num aplicativo para furar filas. Era raro, porém, encontrar algum cliente disposto a usar.

Hipóteses. “Aprendemos que a ideia tem pouco valor”, diz o publicitário Tiago Lucci, de 36 anos. “O mais importante é a execução.” E eles aprendem que, antes de investir tempo e dinheiro numa ideia, é preciso validá-la. Para isso, eles vão a campo conversar com potenciais clientes. Se aquela ideia – ou hipótese – não resolve um problema real, é hora de descartá-la e pensar em uma nova.

Lucci chegou ao curso cheio de ideias e saiu apenas com uma, que nasceu durante o Colisões. Com alguns colegas, ele criou um site para comprar ou vender sapatos infantis usados. O negócio foi batizado de Mini Pés (ler mais abaixo). Lucci ainda não achou uma forma de solucionar o problema dos usuários, mas não pretende desistir.

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Os tropeços no início da jornada são comuns. “Poucas startups começam dando certo”, diz Felipe Matos, empreendedor serial e fundador da aceleradora Startup Farm. “Isso é uma ilusão e as pessoas erram muito antes de (o negócio) dar certo.”

É por isso que não é incomum que mesmo empreendedores mais experientes busquem esse tipo de curso. É o caso da consultora de tecnologia Ana Carolina Ebenau, de 41 anos. Ela pretende inaugurar, até o fim do ano, um espaço de trabalho para startups (coworking) em Maringá (PR). “Quero ensinar as pessoas a sonharem”, diz. “Vou mudar de cidade, então estou determinada a fazer o negócio dar certo.”

Enquanto a obra do coworking não fica pronta – deve atrasar cerca de quatro meses em relação ao prazo original –, Ana Carolina investe na capacitação: faz cursos online e presenciais para aprender sobre como fazer a empresa ganhar escala mais rápido, além de como ajudar outros empreendedores.

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Troca. Os cursos para empreendedores não trazem benefícios apenas para os profissionais. Ao ajudá-los a aprimorar suas habilidades e modelar seus negócios, aceleradoras e investidores têm a oportunidade de acompanhar, de perto, empreendedores com potencial. Isso permite que, no futuro, os profissionais encontrem nesses espaços de trabalho um terreno fértil para conseguir investimentos e crescer.

Na Ace, as startups mais promissoras nascidas no Colisões são acompanhadas nos meses seguintes e recebem orientação gratuita. Quando a empresa estiver pronta para ganhar escala, elas podem se candidatar ao processo de aceleração e conseguir investimento. No fim de junho, os empreendedores da última turma do curso vão apresentar projetos num evento no Cubo, coworking mantido pelo Itaú e pelo fundo Redpoint eVentures, em São Paulo.

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